Nasci no Porto, em 1976, numa família Sportinguista, e pelo Porto me mantive até 1999. Sou Sócio desde 1981, porque o meu falecido Pai assim o decidiu e foi, sem dúvida, uma das melhores decisões que tomou na sua vida. Nesse ano, já lá vão quatro décadas, demorava-se cerca de 6 a 8 horas para fazer Porto – Lisboa de carro, por uma estrada nacional 1 que passava pelo meio de terras e terrinhas. Vocês sabem lá.

Poderia ter cedido à pressão, de quase todos os meus colegas serem portistas, de ter nascido numa cidade azul e branca da pontinha dos pés até à ponta dos cabelos, de ver o crescimento do “clube da cidade” até ao topo da Europa. Bastava apanhar o autocarro 21, ou o 78, e passadas 6 paragens estaria nas Antas. Podia ter-me deixado seduzir pelos feitos do Fernando Gomes em vez de me encantar pelos feitos do Jordão. Mas não, eu fiz uma opção.

Consciente ou inconscientemente, ela foi feita, implicando esforço e muita resiliência, pois ver jogos no José Alvalade era raríssimo, dada a distância e as condições que havia nos idos anos 80 e princípios dos anos 90. Mas ser do Sporting era uma questão identitária, sentimental, de orgulho… de amor. Vocês sabem lá.

Lembro-me bem de, sempre que me perguntavam “de que clube és?”, eu responder: “Sou do Sporting e sou Sócio!”. Dizia-o com orgulho de quem tinha Manuel Fernandes e Jordão, Baganha e Carlos Lisboa, Carlos Lopes e Fernando Mamede, Carlos Silva e Bessone Basto, Livramento e Chana, ou o grande Joaquim Agostinho e tantos outros na sua história. Vocês sabem lá.

A primeira vez que vi ao vivo um FC Porto – Sporting foi em 1982, já com o Sporting campeão nacional, e lembro-me não por causa do jogo em si, mas sim pelo que o antecedeu. Fui com o meu Pai à estação de Campanhã, onde estava a chegar um “comboio verde” do qual saíram centenas de Sportinguistas com bandeiras, a gritar Sporting, e lá fomos todos por ali acima até às Antas, em romaria. Vocês sabem lá.

Hoje não será possível estar no Dragão, nem entraremos já campeões como em 81/82, mas haverá muitas crianças e jovens Sportinguistas nascidos no Porto que nunca viram o Sporting campeão. Tenho a certeza que para elas não será mais um jogo, porque é difícil ser Sportinguista na cidade do Porto. Mas vocês sabem lá a felicidade redobrada que é celebrar uma conquista nessas condições.

Texto escrito por Nuno Sousa no site Leonino.pt*“outros rugidos” é a forma da Tasca destacar o que de bom ou de polémico se vai escrevendo na internet verde e branca