Do cântico que não me sai da cabeça desde o momento em que nela entrou, esta é a frase que me acompanha rumo ao clássico desta noite. E a culpa é vossa, rapazes, por tudo o que têm feito ao longo destes sete meses. Pelas vitórias que nos colocam confortavelmente no primeiro lugar, obviamente, mas, talvez ainda mais, por me terem dito ao longo de todo este tempo que quando estão em campo defendem a camisola verde e branca até à última gota de suor.

Creio que isso é o que mais irrita quem se vai agarrando à teoria da estrelinha: quando ela aparece, é porque acreditamos até final que somos merecedores desse bafo de felicidade. Mas é mais fácil falar só em estrelinha, entretanto polvilhada com diversas teorias cósmicas que vão desde o benefício de jogar sem público no estádio à covid que parece que só ataca os outros plantéis, passando pela vantagem de ter ficado precocemente arredado das competições europeias e, claro, pelos erros dos adversários directos que tornam esta liderança do campeonato um 50/50 no que toca a mérito nosso e demérito dos outros.

Sabem o que vos digo? É uma delícia! Dou por mim a imaginar, como seria se fosse uma das cores da bandeira aliança a seguir em primeiro com dez pontos de vantagem sobre o segundo, onze sobre o terceiro e quinze sobre o quarto que, recorde-se, estava pronto para arrasar. Dou por mim a imaginar, como seria se tivesse sido uma das cores da bandeira aliança a disparar na liderança durante um mês em que derrotou os dois habituais rivais e o wannabe que lhes morde os calcanhares. Dou por mim a imaginar, como seria se fosse uma das cores da bandeira aliança a fazer de um plantel curto e barato um plantel onde todos contam e onde os que jogam menos dão conta do recado quando falta um dos que joga quase sempre. Os elogios, as cuecas pingadas, as etiquetas de rolo compressor, os noticiários a abrir com futebol em vez de pandemia (que até aconteceu por causa de um regresso às vitórias, nos Açores) e, claro, a justiça que tal vantagem representaria face ao que de brilhante essa gente iria fazendo. Mas somos nós que ali estamos e é isso que tanto incomoda!

Neste trajecto jogo a jogo, chegamos ao clássico. E mais do que cantar “façam-nos acreditar”, apetece-me gritar “nós acreditamos em vocês!”. Sim, mesmo sabendo que o futebol português é um pântano e que há menos de uma semana só não se colocou um carregado ponto final no campeonato porque houve uma enxurrada de lama na Madeira. Perdoem-me os mais pessimistas, mas do cenário “paraíso” ao cenário “foda-se”, não há resultado desta noite que mude este sentimento. E a culpa é desta rapaziada, para quem olhei com desconfiança no início da época e que, de semana para semana, me mostraram ter o mais importante para despertar a paixão futebolística: identidade.

Vocês, mais artistas ou mais trabalhadores, mais rápidos ou mais posicionais, mais novos ou mais velhos, jogam como se essa camisola fizesse parte de vós! Isso é o que qualquer adepto pede antes de pedir vitórias, porque sem isso torna-se quase impossível alcançá-las! E é só isso que volto a pedir-vos hoje: voltem a ser um de nós e seremos mais de três milhões em campo. Sem nada a temer!