A pergunta faz ainda mais sentido depois da partida de ontem, frente ao Fuchse, e a Tasca foi ao encontro de quatro especialistas para um incrível ponto de situação sobre o Andebol do Sporting Clube de Portugal. A palavra fica por conta dos convidados Maria Ema Bastos e Di Di Diaby e dos cozinheiros da casa, Tigas e Zé Ricardo!

O Sporting acabou de levar uma coça do Füchse Berlin, em jogo a contar para a EHF European League. É um resultado que espelha o que tem sido a época da nossa equipa?

MARIA EMA BASTOS: não consideraria o resultado frente ao Fuchse uma coça, são equipas de patamares completamente diferentes. A base da equipa do Fuchse são campeões do mundo/europa, jogadores de top mundial. Do lado do scp, não há esse nível. Ao mesmo tempo, claro que acaba por ser um jogo que espelha a época do Sporting. Uma defesa a bom nível mas sem soluções ofensivas. Muito dependentes do remate de Valdes e do 2×2 com Tiago Rocha.

DI DI DIABY: Não acho que esta derrota tenha sido um resultado que espelhe a época, porque a verdade é que nos jogos que realmente têm contado e que têm sido importantes temos sido muito inconsistentes (dependendo muito de quem temos disponível). Nos jogos com o Porto, hoje e em Presov tivemos exibições muito fracas. Nos dois jogos com o Kristianstad e no jogo com o Dinamo, na Roménia, tivemos boas exibições. A época tem sido muito inconsistente, seja porque vários jogadores estão no fim da linha fisicamente e por isso falham muitos jogos, seja pela dependência de 1 ou 2 jogadores.

TIGAS: Acho que acaba por ser o resultado daquilo que tem sido esta época. Provavelmente noutro contexto e com a equipa completa poderíamos ter dado um pouco mais de luta, mas dificilmente conseguiríamos um resultado diferente que não a derrota. Esta época até temos produzido as nossas melhores exibições na Europa do andebol, mas a inconsistência tem sido o nosso maior problema. Se por um lado defendemos bem, ou pelo menos somos competentes a fazê-lo, ofensivamente esta equipa não entusiasma ninguém.

ZÉ RICARDO:O resultado é muito pesado, em grande parte reflete os problemas desta época, como a falta de opções em quase todos os jogos pelas limitações físicas de muitos jogadores e a falta de jogadores em certas posições. Jogar com o Füchse Berlin, equipa candidata a vencer a European League já ia ser muito difícil com todos em condições, com a equipa a continuar a ter as baixas que tem pior ainda, mas resultado mais pesado que resulta de tudo o que tem sido esta época a começar na abordagem ao mercado antes da época se iniciar.

Entrámos no pavilhão sabendo que estávamos apurados para os 8vos, restando tentar o melhor possível. Face a mais uma derrota, vamos defrontar o Wisla Płock. Como analisas o adversário e quais as hipóteses de seguirmos em frente?

MARIA EMA BASTOS: O Wisla Plock, depois de Vive Kielce, é a super equipa polaca, com várias participações nas competições europeias. Não será um jogo fácil para o Sporting, mais uma vez trata-se de uma equipa superior, mas ao mesmo tempo não comparável ao Fuchse. Penso que se o Sporting conseguir melhorar ofensivamente, aproveitar coisas interessantes que alguns jogadores mostraram neste último jogo para explorar mais opções, possam lutar pela passagem. Com a entrada de Edmilson provavelmente as soluções irão aumentar mas, não será tarefa fácil.

DI DI DIABY: Complicámos muito a nossa vida ao só ficar em quarto lugar no grupo e por isso cruzamos com a única equipa do grupo A que é melhor que nós. O Wisla é uma equipa com muitas soluções de qualidade, mas tem as suas debilidades. Não são tão fortes como o Fuchse Berlim ou o Nimes que enfrentámos nesta fase mas não deixam de ser os favoritos. Acredito que com toda a gente disponível consigamos disputar a eliminatória, mesmo sendo eles os favoritos. Tenho é dúvidas que toda a gente vá estar disponível.

TIGAS: O Plock é uma equipa muito experiente nestas andanças. Os espanhóis vieram acrescentar muita qualidade e conseguem balançar muito bem a capacidade atlética, com a capacidade técnica. Têm dois bons centrais que são fundamentais para o seu jogo, sendo que Niko Mindegía tem uma boa relação com o pivô e entra muito bem aos 6 metros para finalizar. Apresentam um jogo variado em termos ofensivos. Defensivamente são bastante competentes. O Sporting tem sempre uma hipótese porque na realidade nunca sabemos que Sporting irá entrar em campo, mas o Plock é o favorito.

ZÉ RICARDO: O Wisla é uma equipa forte, são favoritos nesta eliminatória contra nós. Equipa que defende muito bem, com o Adam Morawski a encher a baliza, mas são uma equipa que tem na defesa o seu ponto forte. Depois Lovro Mihić, o ponta esquerdo, é uma das figuras em destaque, ele e outros como o lateral esquerdo Zoltan Szita ou o central Álvaro Ruiz, mas é uma equipa muito forte, que defende muito bem e que nos vai obrigar a corrigir muita coisa até à primeira eliminatória. Não é um bicho papão, não é impossível. O Ademar Leon era um melhor adversário, óbvio, mas apesar de ser difícil temos hipóteses de passar, precisamos é de jogar como ainda poucas ou nenhuma vez o fizemos esta época.

Daniel Andrejew e Tomislav Špruk fizeram parte da convocatória e só faltou Edmilson para termos os três reforços de inverno a juntar-se ao grupo. O que é que eles podem trazer à equipa, ainda para mais depois de perdermos um jogador como Frankis?

MARIA EMA BASTOS: Frankis é e será insubstituível pela quantidade de soluções que um só jogador oferecia ofensivamente e ainda era um excelente defensor. Confesso não conhecer bem os 2 reforços estrangeiros mas, Spruk é um jovem bastante alto e pode ajudar na defesa fazendo segundo. Mostrou um bocadinho disso, embora a primeiro, no jogo com o Fuchse. O Andrejew está sem ritmo, julgo que vai demorar um bocadinho a integrar-se no grupo e atingir um ritmo aceitável, a falta que a competição da equipa B faz agora… Quanto ao Edmilson, bem conhecido de todos nós. Não é um jogador propriamente inteligente, que acho que falta isso no Sporting. Mas, também faltam soluções de primeira linha, remate exterior e o Edmilson tem isso, além de também defender. Espero que o sportibg consiga levar o Edmilson pelo caminho certo para que ele consiga mostrar o seu melhor na maior parte das tomadas de decisão.

DI DI DIABY: São jovens com boa bagagem, internacionais pelos seus países e com algumas experiências interessantes, mas este ano vêm essencialmente para fazer número. Acredito que são jogadores que daqui a 2/3 anos possam ter qualidade para estas andanças e para ser opções sérias, mas por agora vão ser só opções de rotação (que bem eram precisas).

TIGAS: Edmilson chegou lesionado e ainda vai demorar mais um pouco a poder dar o seu contributo à equipa. Quando regressar e estiver apto fisicamente, poderá ser mais uma opção na rotação, visto que como só temos 1 lateral direito e quando Schongarth descansa, terá que ir um destro fazer o seu lugar (habitualmente Salvador Salvador). Quanto a Spruk, vem para acrescentar já, visto que enquanto Bingo estiver lesionado ele deverá ser o ponta titular, assim que estiver mais integrado. Defensivamente é competente, podendo defender a ponta ou a lateral, ou se quiserem a 1 ou a 2, o que nos permite alguma flexibilidade em termos de trocas defesa/ataque. Ofensivamente é curto e não apresenta a qualidade do francês. Na realidade provavelmente não se verá grande diferença, porque os pontas no Sporting, nomeadamente o esquerdo, recebem muito poucas bolas por jogo. Quanto ao alemão Andrejew, é uma incógnita… Fisicamente é um monstro, mas não joga há praticamente 1 ano. Já fez alguns minutos e a sua mobilidade não é a melhor, como seria de esperar. Pode ser no entanto aquele que poderá ser até uma mais valia no futuro se conseguir recuperar um pouco que seja da sua capacidade pois tem tudo para ser aquele tipo de pivô que destrói uma defesa em Portugal, sobretudo se estivermos a falar dos jogos frente aos pequenos. Penso que estes meses até final da época serão como que um teste de avaliação para ver se ficará na próxima época. Não acho que os Sportinguistas devem ter expectativas quanto aos reforços que trouxemos agora…

ZÉ RICARDO: Nenhum deles é Frankis, até porque um jogador como o Frankis não se desencanta assim de um momento para o outro. São dois jogadores que nos dão opções, são jogadores de banco, que vão ter mais tempo de jogo em algumas partidas na nossa liga e com isso permitir que figuras maiores possam descansar mais. Mas são elementos de rotação, que pela idade e pela capacidade podem num futuro assumir mais peso, mas para já vão ajudar apenas na defesa (que era algo que necessitávamos) e dar mais opções ao Rui Silva.

E o que é que tem faltado a esta equipa? Estamos a falar de um problema de planeamento de época?

MARIA EMA BASTOS: Na minha opinião faltam várias coisas nesta equipa. Falando do plantel, faltam corpos e falta experiência e inteligência. Inteligência tática, a nível de jogo. Aquilo que o Ruesga tem, mas infelizmente não tem físico. Apesar da qualidade de Nuno Roque, não seria, em condições normais, titular numa equipa como o Sporting. Falta um bom central, organizador e que ofereça perigo. Joel, ainda não o é mas mostra ter capacidade para lá chegar, boa leitura de jogo, bom 2×2, boa tomada de decisão, bom remate da primeira linha, isto ofensivamente. São estas características que o Sporting devia ter em, pelo menos 2 dos 3 primeiras linhas em campo. Penso que esta equipa, com os reforços e mais um bom central tinha tudo para lutar por todos os jogos. Falta organização ofensiva, experiência… uma equipa ferida, com poucos corpos, com muitos jovens e com “muitas obrigações”.

DI DI DIABY: Principalmente, falta qualidade em algumas posições, principalmente central, pivot e lateral direito. Nenhum dos nossos 3 centrais seria esta época titular no ABC, Avanca ou Águas Santas. Isso é inadmissível num clube como o Sporting! Os dois principais pivots já estão claramente numa fase descendente da carreira. O Doroschuk por muito bom defensor que seja, não aguenta mais do que 15/20 minutos a uma intensidade alta. Tiago Rocha tem o mesmo problema. E para lateral direito só temos uma opçãp, o Jens Schongarth, que apesar de ser um bom defensor e com espaço no ataque ser um bom atirador, tem imensas dificuldade e atacar os 6m e jogar 1 para 1, faltando assim um lateral que complemente as suas caraterísticas.
Honestamente, é dificil atribuir as culpas só ao planemento, apesar de tambem haver culpa. O Doroschuk nunca devia ter sido contratado pois, apesar da boa carreira, fisicamente não está em condições. O Djukic, por muito bom que seja, não era tão prioritário como a chegada de um central. Por outro lado, no inicio da época não foi contratado um ponta esquerda para 2ª opção e um lateral direito com caraterísticas diferentes do Schongarth. Não foram contratados não porque a secção e o treinador não quiseram, mas porque quem disponibilizou orçamente não o deixou.
Para central era preciso alguém para central titular. Acabou por chegar o Roque, que não tem qualidade para isso, não porque alguém na secção ou o treinador acharam que ele era suficiente, mas sim por não ser disponibilizado dinheiro para mais. Não querendo dizer que a secção e o treinador não têm culpa na construção do plantel, porque também têm, era muito difícil (se não impossível) montar uma equipa competitiva com os cortes que Zenhas e companhia queriam fazer…

TIGAS: É difícil dizer o que tem faltado a esta equipa… Acho que faltam várias coisas. Aquilo que vejo é que, em termos colectivos, a equipa não apresenta grande alegria a jogar e estamos piores em termos exibicionais. Ofensivamente muito limitados ao que Frankis, primeiro, e agora Valdés, podem fazer. Depois acho que falta uma liderança clara. Saímos de um treinador que era bastante respeitado, um líder com uma presença forte, como o Anti, e passámos para o Rui, que pode continuar a ser visto pelos jogadores como um adjunto… Estas transições podem ser difíceis. Depois o plantel não tem as características para jogar o andebol que o treinador pretende. Independentemente de se achar que o Rui, ou este facto, é bom ou mau, não deixa de ser um factor que tem o seu peso. Finalmente, o planeamento. Houve quem achasse que tínhamos feito um bom trabalho na “offseason”, mas o resultado está à vista. Se temos um orçamento curto não podemos gastá-lo em jogadores “extra” para posições onde já podemos estar servidos (ainda que possa ser um upgrade). E com isto refiro-me a Djukic, que já disse no passado que foi uma excelente contratação (pelo perfil, histórico, potencial), mas o Sporting tinha outras prioridades que não foram devidamente preenchidas, como a posição de central ou ter um segundo lateral direito ou, ainda, um pivô com dois joelhos e que conseguisse defender e atacar. Ou até ter um segundo ponta esquerdo, porque só agora após a lesão do Bingo é que o contratámos. Fomos ao mercado demasiado tarde, como sempre, e demorámos a apresentar os contratos aos jogadores. O resultado está à vista…

ZÉ RICARDO: Quando olhamos para o que a equipa joga percebemos que o principal vem do mau planeamento de época, das opções e escolhas tomadas no defeso. Ir para época sem mais um central, contratar jogadores com problemas e limitações físicas, apostar em jogadores que foram oportunidades de mercado mas que nos levaram uma boa parte do orçamento, acabou por nos custar muito. Tudo junto faz com que nesta altura a equipa tenha muitos problemas e a saída de Frankis evidenciou ainda mais as lacunas e problemas da equipa.