As lágrimas de um menino, abraçado por toda uma equipa onde não faltam outros meninos que, de semana para semana, se comportam como verdadeiros adultos. Do brilho da primeira parte aos dentes cerrados na segunda, o Sporting venceu o Guimarães e deu mais um passo seguro rumo ao título

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Que grande primeira parte fez o Sporting. Sim, é mesmo desta forma que faço questão de iniciar esta crónica, pois aqueles primeiros 45 minutos foram de uma qualidade assinalável, com a equipa transformada num verdadeiro carrossel e os putos a pedirem mais e mais velocidade. Apanhado de surpresa, o Guimarães não conseguia jogar, preparado que vinha para ter Paulinho como referência atacante. Acontece que Paulinho ficou no banco e o Sporting apresentou-se com Tiago Tomás a fazer de falso 9 (e que grande jogo fez), pois tão depressa era ele a estar ali como era Daniel Bragança ou Peter Potter. A estes três juntava-se João Mário e a bola circulava de pé para pé, com critério, qualidade e velocidade, com Nuno Mendes a regressar às exibições grandes e Gonçalo Inácio a deixar orgulhoso o ausente Capitão Coates, que via o menino assumir o centro da defesa.

Ora, se a isto juntarmos aquele monstro chamado Palhinha, não admira que o Sporting tenha jogado e criado várias situações de golo, não valendo de nada aos vitorianos a aposta em cinco elementos na defesa. João Mário tentou à bomba; Peter Potter transformou uma recepção algodão doce num remate bufa; o mesmo camisola 28 deixou a trave a tremer depois de cruzamento perfeito de Porro. Não houve uma sem duas nem duas sem três e à quarta foi de vez: arrancada super de Nuno Mendes, Bragança faz o elo enquanto leva porrada, Peter Potter faz o truque da assistência e Tiago Tomás mete-a lá dentro. Jogada do caraças, anulada porque quase um minuto antes a bola conduzida por Porro terá saído totalmente de campo. Resumidamente, golos daqueles que só se anulam ao Sorting.

Estavam os Leões a digerir tal episódio, quando o Vitória se chega à frente e Edwards remata para defesa de Adán contra a trave. Na sequência do canto, Óscar Estupiñán cabeceou à trave e no espaço de dois minutos os da cidade berço esgotaram as suas oportunidades de golo. Respondeu o Sporting da melhor forma: livre estudado, desvio com classe de TT, entrada de rompante das torres Palha e Feddal, emenda de Gonçalo Inácio na cara do redes. Outra vez anulado, pelo menos durante três ou quatro minutos, tempo que o homem na carripana com ecrãs demorou a tentar encontrar um motivo para mandar marcar uma falta ou um fora de jogo, antes de dizer ao árbitro que podia apontar para o centro do terreno.

Pouco depois, intervalo e o resultado a pecar por escasso para a qualidade do futebol leonino, coisa que Palhinha tentou alterar logo a abrir o segundo tempo, disparando de fora a tentativa de chegar ao segundo. Acontece que esse segundo golo não apareceu e o Guimarães foi subindo as linhas face a um Sporting na dúvida entre se devia continuar a tentar marcar ou apostar tudo na defesa menos batida da europa para conservar a vantagem.

Optou pela segunda e a meia hora do fim já todos sabíamos que nos esperava mais um teste ao coração. Não que o adversário criasse situações de golo, mas temos décadas de jogos em que a bola acaba por entrar meio às três pancadas, num canto ou numa carambola. João Henriques ia lançando mão de todas as opções ofensivas que tinha no banco, Amorim ia respondendo com as substituições que considerava necessárias para equilibrar a equipa, começando pela entrada de Tabata e Paulinho para os lugares de Bragança e de Tiago Tomás (Paulinho acaba a falhar a última grande oportunidade do jogo), de Matheus Reis para o lugar de Nuno Mendes, de Essugo para o lugar de João Mário e demasiado tarde, parece-me, de Jovane para o lugar de Peter Potter.

No final, com o relógio já a bater nos 96, suspiraram de alívio os Sportinguistas, ao ver a sua equipa somar mais três pontos e manter a distância de dez para o mais directo perseguidor antes da pausa para selecções. E chorou o menino Dario Essugo, não controlando as emoções da estreia seis dias após celebrar 16 anos e sendo prontamente abraçado por toda uma equipa onde não faltam outros meninos que, de semana para semana, se comportam como verdadeiros adultos. Uma equipa onde, ontem, couberam Palhinha, Gonçalo Inácio, Tiago Tomás, Bragança, João Mário, Nuno Mendes, Jovane e Dário Essugo. Isto não é estrelinha. É um céu cheio de estrelas. (clica para ouvires e imaginares a festa)