Três jogos, dois para o campeonato, sendo um deles um dérbi, e um para a Taça de Portugal a eliminar. Assim foi a “semana” do Sporting!

O prato quente da semana passada foi o Benfica-Sporting que se realizou no Pavilhão da Luz. Com a vitória nos dois jogos, e em especial no dérbi, o Sporting deu um passo importante para a conquista do 1º lugar da fase regular da Liga Placard.

O Benfica apresentou-se com Rafael Lisboa, Bryce Alford, Betinho Gomes, Quincy Miller e Eric Coleman. O Sporting chegou-se à frente com Diogo Ventura, James Ellisor, Travante Williams, Micah Downs e John Fields. Estes jogos são um autêntico jogo de xadrez; Luís Magalhães apostou em Micah Downs no 5 para encaixar melhor nas características de Quincy Miller, um dos jogadores do Benfica mais em destaque nos últimos jogos.

Início de jogo equilibrado, algo lento até, com ambas as equipas com as normais preocupações defensivas típicas de um jogo grande, mas desde logo se percebeu dinâmicas defensivas diferentes: Benfica com muitas preocupações em fechar a área pintada a Fields (trabalho que conseguiu quase na perfeição), pressionando pouco a sua linha exterior e o base sportinguista. Isto proporcionava ao Sporting capacidade organizativa e capacidade de encontrar outras soluções atacantes que não o habitual Fields. Por seu lado, o Sporting, pressionava Rafael Lisboa, obrigando o Benfica a organizar o seu ataque através de outro jogador, ao mesmo tempo que tentava anular Betinho Gomes e Quincy Miller.

O Sporting começou melhor e, fruto de alguns contra-ataques, conseguiu ganhar uma vantagem de 6/8 pontos. Começaram as rotações no banco e, quando Quincy Miller descansava, Micah Downs também.
O Benfica colocou em campo Tomás Barroso e Cameron Jackson e esta dupla foi a que melhor conseguiu interpretar aquilo que o Benfica procurava explorar: o jogo de 2×2 entre base e poste e a dificuldade de Fields em defender este “movimento”. O Benfica recupera um pouco no marcador, graças ao jogo exterior. No Sporting, Catarino e Shakir surgem bem, vindos do banco. No final do 1º período, o resultado era-nos favorável por 21-14.

O 2º período até começou bem para nós; Shakir Smith aumentou a vantagem logo a abrir com um triplo. Já com João Fernandes em campo, o Sporting começou a pressionar mais Tomás Barroso, realizando o seu habitual 2×1 ao base adversário, na tentativa de lhe retirar tempo de ataque e capacidade organizativa e de limitar o jogo com Cameron Jackson. O Benfica veio preparado para isso e, graças a uma boa circulação de bola, conseguia ir descobrindo o homem livre para atacar o cesto e marcar. Foi o único período onde o Benfica nos foi superior. (ver exemplo aqui)

Nós piorámos a nossa organização defensiva e cometemos alguns erros no ataque e defesa. Conclusão, o Benfica ganha o período por 20-16, levando o jogo para o intervalo com uns 34-37 a nosso favor (o triplo convertido pelo Benfica sobre a buzina e que lhes daria o empate não contou!).

O terceiro período é muito importante, pois é aquele onde as equipas podem colocar em prática aquilo que reviram e corrigiram no balneário e, em caso de sucesso, podem ganhar uma boa almofada para o 4º e decisivo período. O Sporting foi para este jogo muito preocupado com o jogo exterior do Benfica, claramente um dos seus pontos fortes, pois, se os atiradores começam a ganhar ritmo, o jogo pode rapidamente descontrolar-se; com isto, deixava a zona interior mais desprotegida e o Benfica continuou o trabalho que começou a efectuar no 2º período – o jogo de 2×2 entre Tomás Barroso e Cameron Jackson. Para além disso, começou a tentar libertar Bryce Alford, muito marcado por Ellisor, de forma a libertá-lo para criar desequilíbrios na defesa. (ver exemplo aqui)

O Sporting demorou um pouquinho a ajustar-se defensivamente e o Benfica passou pela primeira vez para a frente no marcador desde o início do jogo. Ofensivamente, continuávamos a ter dificuldades em arranjar espaço para Fields no jogo interior, que chegou mesmo a ter de fugir da área pintada para lançar. Período empatado a 21, com o Sporting na frente por 3 pontos (55-58).

O início do 4º período foi equilibrado. James Ellisor tentava tirar partido da vantagem de estatura em termos ofensivos e o Sporting aumentava a sua pressão defensiva. Ainda assim, o Benfica continuava a fazer mossa com o bloqueio alto e o jogo de 2×2 com Cameron Jackson, que terminou o jogo como o melhor marcador com 19 pontos. A 3 minutos do fim, Luís Magalhães decidiu fazer as alterações que nos fizeram ganhar a partida. Fields sai e entra João Fernandes (JP) para jogar a poste e reentra também na partida Travante Williams, afastado do jogo durante muito tempo devido a faltas. Ora, é conhecida a apetência para defender de JP, sobretudo toda a pressão que coloca nos 2×1 ao base adversário e na defesa dos bloqueios. Sobre Travante não é preciso acrescentar nada!
O Sporting aumentou ainda mais a sua pressão defensiva, o Benfica deixou de conseguir fazer o seu jogo e, ofensivamente, Diogo Ventura lia bem as vantagens e debilidades defensivas do Benfica e aproveitava muito bem, o facto de ter Rafael Lisboa a marcá-lo.

A 1 minuto e 35 segundos do fim, o Sporting dá o ponto de exclamação no jogo! Diogo gere o tempo de ataque, deixa para Travante, que, marcado por Bryce Alford, faz isto… (clica para veres)

O triplo de Micah Downs colocou o Sporting a vencer por 75-83. A equipa do Benfica pede um desconto de tempo e, na recolocação da bola em campo, decide trabalhar um bloqueio com João Fernandes por perto. Ora, o angolano do Sporting pressionou e Ventura, rápido de mãos, rouba a bola, obrigando Cameron Jackson a fazer falta. Não só perdem a bola, como ainda sofrem mais um ponto na linha de lance livre. Até final, Travante Williams converte mais um triplo, elevando o resultado para os 75-87 finais! Costuma dizer-se que uma vitória termina-se com um roubo de bola, um triplo e um afundanço. Na fase final deste jogo, só faltou a última – o afundanço!

Jogo muito consistente e discreto de Micah Downs, que terminou a partida como melhor jogador e pontuador do Sporting com 18 pontos, 6 ressaltos, 4 assistências, 2 roubos de bola, 1 desarme de lançamento e 3 triplos convertidos em 5 tentados. Cinco jogadores acima da dezena de pontos (Micah, Travante, Ellisor, Ventura e Shakir), num jogo onde, do lado do Benfica, Quincy Miller fez apenas 7 pontos em 16 minutos, Bryce Alford 7 pontos em 17 minutos, Eric Coleman 2 pontos em 15 minutos e Nic Moore (o mais recente reforço) 4 pontos em 17 minutos.

O Sporting perdeu a luta da área pintada e dos ressaltos, mas obrigou o Benfica a alterar o seu jogo habitual, pois converteram apenas 8 triplos em 25 tentados (32%). O Sporting foi também mais forte no contra-ataque, conseguindo 19 pontos dessa maneira, contra apenas 4 do Benfica. Outra coisa que ficou bem demonstrada foi a melhor prestação do banco do Benfica, com 41 pontos contra os 19 do Sporting. Numa nota menos positiva, Pedro Catarino lesionou-se num dedo (?), e deverá ficar de fora até final da temporada. Pedro vinha a assumir um papel de maior destaque a vir do banco, tendo feito por merecer até mais minutos, a meu ver. Desde já, endereço-lhe as melhoras, que recupere bem!

No segundo jogo do fim de semana, mais concretamente no domingo, o Sporting recebia no Pavilhão João Rocha a formação aveirense do Esgueira. O Esgueira é daquelas equipas que pode sempre complicar um jogo, se não formos competentes. E o Sporting foi!

Travante teve direito a muitos minutos (face apenas aos 22 que teve na Luz) e terminou com 18 pontos, 6 ressaltos, 5 assistências e 4 roubos de bola, num jogo onde o Sporting começou dominador e em que, aos poucos, o marcador foi-se alargando. Ao intervalo, ganhávamos por 48-32, mas no 3º período, a equipa aveirense ainda assustou um pouco, com uma boa entrada em jogo. Chegaram a estar com 7 pontos de diferença, mas 4 triplos seguidos por parte do Sporting, voltaram a colocá-los em sentido. Daí até final, a equipa decidiu não voltar a colocar-se naquela posição e acelerou até aos 97-68 finais, com boas prestações de Micah Downs (que apesar de discreto parece cada vez mais influente na equipa) e Shakir Smith.

No terceiro jogo da semana, disputado hoje, o Sporting deslocou-se à cidade berço para defrontar o Vitória Sport Clube, tendo vencido por 78-80.

Início de jogo algo apático em termos defensivos. Equipa cansada? Talvez, mas aquele não era o Sporting que nós conhecemos. Aliás, assim que vi o primeiro período, tive medo que o jogo frente ao Imortal em Albufeira se fosse repetir. O Vitória, com muito mérito, procurava colocar a bola dentro em Ricardo Monteiro ou Coreontae Berry, de forma a forçar a defesa a contrair-se e ganhar espaço no jogo exterior. O Sporting estava meio dormente, colocava pouca pressão defensiva e deixou-se cair no engodo. Conclusão: 7 triplos convertidos pelo Vitória só no primeiro período, com altíssimas percentagens de lançamento e liderança por 25-21 ao fim de 10 minutos. Ofensivamente, diga-se, o Sporting nem esteve mal neste 1º período; o problema foi em termos defensivos.

O Sporting reagiu logo no início do 2º período: entrada forte, com muita pressão, tendo recuperado no marcador, mas, do nada, a equipa baixou os braços, diminuiu a pressão e o Vitória, carregando no jogo interior, voltou a estar por cima do jogo, levando o jogo para o intervalo com uns 45-37. Na primeira parte, o vitória soube não só explorar o jogo interior (2º período) e exterior (1º período), como, defensivamente, anulou por completo Fields que, ao fim de 20 minutos, tinha apenas 2 pontos convertidos da linha de lance livre e não tinha efectuado nenhum lançamento de campo.

Para a segunda parte, Luís Magalhães colocou os 5 americanos em campo: Shakir, Ellisor, Travante, Micah e Fields. Fields continuava fora de jogo e com muita dificuldade em arranjar espaço nas zonas próximas do cesto e, ofensivamente, Shakir e Travante não conseguiam organizar a equipa. Cometemos muitos turnovers (terminámos o jogo com 23!). Felizmente, defensivamente estávamos um pouco melhores, estendendo a nossa defesa por toda a área restritiva e linha, porém, ainda assim, o Vitória conseguiu aumentar a vantagem para 11 pontos a 6 minutos de terminar o 3º período. O Sporting voltou a aumentar a pressão defensiva e o jogo ficou meio anárquico de parte a parte. Travante Williams faz a sua 4ª falta e vai para o banco e o Sporting joga até final do período com Shakir e Ventura como bases. Só na parte final do 3º período, Luís Magalhães pediu o 1º desconto de tempo e com o resultado em 64-57.

O resultado não podia ter sido melhor: 4 pontos seguidos por João Fernandes e mais 2 pontos da linha de lance livre, num parcial de 6-0, voltaram a colocar o Sporting colado ao Vitória. 64-63 à entrada para o último e decisivo período, para o qual o Sporting reservou o seu melhor basquetebol: 3 ou 4 jogadas seguidas bem planeadas e delineadas, com Shakir Smith a fazer aquilo que se pede a um base – boa leitura da defesa e aproveitamento do espaço com três penetrações para o cesto, duas finalizações de Shakir e uma assistência para Micah Downs lançar sozinho e converter um triplo. O Sporting ganhou aqui uma almofada muito importante e que foi conseguindo gerir (nem sempre bem) até final! Defensivamente, com João Fernandes a jogar a poste e Micah Downs a extremo/poste, o Sporting estava mais agressivo e muito forte no ressalto defensivo. As percentagens do Vitória baixaram e nem sequer conseguiram ter segundas oportunidades.

A 2,40 minutos do final do jogo, João Fernandes atinge a 5ª falta e sai do jogo regressando Fields. Pouco depois, Travante fez um lançamento que correu muito mal, nem tocando no cesto, mas Fields consegue agarrar a bola e marca o seu único lançamento de campo, dando uma vantagem de 6 pontos ao Sporting (74-80). Defensivamente, voltámos a sofrer e o Vitória encostou no marcador. O Sporting tremeu, cometeu mais erros em termos ofensivos e, a 2,45 segundos do fim, ganhávamos apenas por 2 pontos…

O Vitória pede um desconto de tempo e prepara uma jogada que iria colocar a bola na zona próxima do cesto em Ricardo Monteiro. O Sporting defendia sem poste (Magalhães colocou uma equipa mais móvel, com Micah Downs a poste, para evitar sofrer um triplo e perder o jogo) e, assim que a bola entra em Ricardo Monteiro, já próximo da área pintada, Micah Downs e Travante obrigam Monteiro a tentar levar a bola ao chão para meter um drible e o americano do Alasca rouba-a. O jogo estava ganho e o Sporting apurou-se para a final four da Taça de Portugal pelo segundo ano consecutivo!

Jogo difícil que viu um Sporting com muitas oscilações defensivas e ofensivas e que poderia ter tido um desfecho bem pior para as nossas cores. Carlos Fechas, treinador do Vitória, delineou um bom plano de jogo e teve o mérito de conseguir equilibrar o jogo até ao fim. Destaques individuais para Travante com 14 pontos, Ellisor com 15 (sempre muito discreto, quase parece que está fora do jogo, até olharmos para a estatística), João Fernandes (um jogador talhado para este tipo de jogos) também com 14 pontos, Shakir Smith com 15 pontos e Micah Downs que, com apenas 7 pontos, acaba como melhor ressaltador do jogo, a par de Jaron Hopkins com 8 ressaltos.

*quando o nosso Basquetebol entra na quadra, o Tigas dispara um petisco a saber a cesto de vitória sobre a sineta