No último domingo, 25 de Abril. as meninas do nosso Futebol Feminino decidiram celebrar o Dia da Liberdade com uma goleada histórica de 8-0, frente à equipa do Clube Albergaria. E refiro que a goleada se torna histórica, não pelo simbolismo da data em que foi alcançada, mas por ser a mais expressiva, até agora, desta fase de Apuramento de Campeão do Campeonato Nacional BPI de Futebol Feminino 2020/21 e por igual o nosso melhor registro face a este histórico do FF português, feito obtido em 12 de Fevereiro de 2017 exatamente na nossa época de regresso.

Por outro lado, que não se pense que esta goleada era resultado esperado, pois estávamos a defrontar o Albergaria que está em 5º lugar a apenas 3 pontos do Braga e que, nas 10 jornadas anteriores desta fase, somava 5 vitórias e 5 derrotas (estas, todas contra os 4 “candidatos”). Aliás, esta equipa do Albergaria até constitui uma das 2 boas surpresas deste campeonato, (a outra é o Marítimo) precisamente por conseguir obter bons resultados com recursos parcos, um orçamento que estaria decerto entre os 10 ou mesmo 8 mais curtos entre os das 20 equipas que se apresentaram à primeira fase da prova. E consegue isso através de um plantel de apenas 24 jogadoras, das quais só 3 são estrangeiras, com muitas jogadoras da sua formação e mantendo a aposta em uma treinadora que está no Clube Albergaria desde que “entrou” para as lides futebolísticas: a Paula Pinho, hoje com 49 anos, jogou sempre no Albergaria até 2005, ano em que sentido que já não tinha condições de oferecer o mesmo ao Clube como jogadora, anunciou aos seus diretores a sua despedida, mas colocando-se à disposição para continuar a servir o Albergaria em outra funções. Foi logo para o banco participar num projeto que recomeçaria do zero. O Clube Albergaria reconstroi uma equipa a partir das juniores sub 19 (Futebol de 9 na Associação de Futebol de Aveiro) que foi subindo paulatinamente nas seniores, divisão a divisão, até atingir a competição principal em 2009/10, já com Paula Pinho com treinadora principal há 2 anos. « (…) E ao começar o desafio de treinadora, estava bem. Fui por inteiro. Foi, e é, uma aprendizagem constante. Recordo-me que na altura foi uma “limpeza” no Clube de Albergaria, praticamente começar de novo. Definimos o que queríamos e começamos a trabalhar nesse sentido. Sem loucuras, de uma forma sustentada, tal como é ainda hoje…» (Paula Pinho, em entrevista ao site do Sindicato dos Jogadores em junho 2018). É isto que define o Futebol Feminino do Clube Albergaria: sustentabilidade, rigor, e … muita paixão, dedicação e competência. Quanto á equipa, tem uma forte base nacional e de formação (a Associação de Aveiro era das duas únicas que propiciava competição feminina desde as sub 13 – a outra era a de Braga), mesclando alguma juventude com muita experiência e, sobretudo, um conjunto que tem tido muito poucas “mexidas nos últimos anos.

Quanto ao jogo a sua história é muito fácil de resumir: oito golos marcados, outros tantos desperdiçados e um punhado de grandes defesas da Diana Oliveira, joven guardiã de 21 anos do Albergaria que tem uma forte presença na área, ótimos reflexos e boa “decisão”. O Albergaria levou 8, mas não foi por culpa da sua “keeper” (3 dos golos até foram recargas a defesas de jogadoras isoladas). A “culpa” foi: de o resultado ter ficado decidido muito cedo (aos 7 minutos já estava 3-0); de a organização defensiva do Albergaria se ter desmoronado em consequência disso; de o Sporting ter feito um jogo muito competente.

A treinadora Suzana Cova fez algumas alterações relativamente ao último onze inicial alinhando com Patrícia Morais (GR), Alícia Correia (DD), Bruna Costa (DC-d), Nevena Damjanovic (DC-e), Joana Marchão (DE), Tatiana Pinto (MD), Fátima Pinto (MC), Andreia Jacinto (MO), Ana Borges (ED), Marta Ferreira (PL) e Raquel Fernandes (EE). No lado do Clube Albergaria a Paula pinho punha em jogo Diana Oliveira (GR), Patrick (DD), Ana Lopes (DC-d), Danai Kaldaridou (DC-c), Carolina Luis (DC-e), Joana Santos (MD), Patrícia Cavadas (MD), Rita Coutinho (MC), Rita Dias (Av) e Érica Bispo (Av).

Logo ao minuto e meio de jogo, num forte remate de fora da área, Tatiana Pinto inaugura o marcador. Aos 5 minutos, numa jogada rápida do lado direito, Raquel fernandes solicita a corrida de Ana Borges que centra para o desvio letal da Marta Ferreira. Apenas 2 minutos depois, um livre do lado esquerdo apontado por Ana Borges propicia uma entrad fulgurante de cabeça da Raquel Fernandes para o 3º golo. No minuto 12, Ana Borges passa para Joana Marc que faz uma recepção orientada para o seu lado esquerdo após “ameaçar” a devolução para a direita para a Ana Borges, tirando assim do caminho uma adversária e à entrada da meia lua, descaída pra o lado direito desfere um forte disparo ao canto superior oposto da baliza adversária, sem qualquer hipótese para Diana Oliveira: estava feito o golo da tarde e sentenciada a parida. A partir daí, foram 35 minutos de domínio avassalador sobre um Albergaria que suspirava pelo intervalo: 3 perdidas clamorosas de Raquel Fernandes em desvios de primeira a assistências de Marta Ferreira, Andreia Jacinto e Alícia Correia (esta ultima a culminar uma das mais belas jogadas do desafio, que se iniciou em saída defensiva passando a bola por quase todas as jogadoras, ao primeiro toque, e a que Alícia correspondeu com um assistência perfeita que pedia de Raquel mais serenidade pois ficara com espaço para dominar e empurrar para a baliza); aos 41 minutos um passe a “rasgar” a defesa desmarca e isola Ana Borges que no 2º remate (em recarga a grande defesa da Diana) faz o 5º da tarde (1 golo e 2 assistências!!); aos 42 minutos a recém entrada Carolina Mendes (para o lugar de Ana Borges, tocada, mas aparentemente sem gravidade) aparece isolada pelo lado direito, à entrada da pequena área e remata torto “para a Superior” – se houvesse; aos 45 minutos a Tatiana Pinto fecha a contagem com um golo que parecia “fotocópia” do anterior, de Ana Borges (a pobre coitada da Diana bem que defendia como podia, mas não havia reação das suas colegas da defesa).

Ao intervalo mais uma alteração de Suzana Cova: sai Joana Marchão e entra Mariana Rosa que ocupa a lateral direita, passando a Alícia Correia (esquerdina) para a posição da Marchão.
Aos 52 minutos, muito boa combinação na esquerda entre Alícia Correia, Raquel Fernandes e Fátima Pinto com esta a fazer um cruzamento teleguiado para a cabeça de Carolina Mendes que não desperdiça: 7-0! Aos 69 minutos, no Sporting, opera-se a uma tripla substituição (para gerir esforço e dar oportunidade e minutos a outras jogadoras: saem Raquel Fernandes, Bruna Costa e Andreia Jacinto (enorme jogo e muito que correu nos apoio quer ofensivos quer defensivos; uma leitura impressionante do jogo e muito inteligente ocupação dos espaços) para entrarem para os seus lugares, respetivamente, Inês Gonçalves, Carolina Beckert e Joana Martins. O oitavo e último golo é da autoria de Inês Gonçalves que teve uma ótima entrada em jogo, aproveitando muito bem a oportunidade concedida.

Num jogo destes é difícil fazer uma avaliação individual, de tal modo o coletivo funcionou bem. Mas, ainda assim destaco a Andreia, a Ana Borges, a Tatiana Pinto, a Joana Marchão (o seu golo é um monumento!), a Alícia Correia – particularmente na 2ª parte, onde se soltou mais para ações ofensivas e a Inês Gonçalves. Mas o meu realce desta semana vai para a jovem Mariana Rosa. Como tem “crescido” esta menina. Com mais minutos, vai ganhando confiança: não perde praticamente nenhum duelo defensivo e incorpora muito amiúde as ações ofensivas pelo corredor, sendo forte no 1 para 1 e a “disparar” para a linha final, cruzando quase sempre a preceito. Temos ali menina para “render” no futuro (que esperamos distante) a Ana Borges.

Agora seguem-se 3 jogos fora: com o Condeixa (agora último, após a surpreendente vitória do Torreense sobre o decepcionante Braga) já no próximo sábado, 1 de Maio; depois uma deslocação à Madeira, dia 5 de Maio, para “acertar o calendário” efetuando o jogo em atraso da 10ª jornada (deslocação sempre difícil, para a qual convinha uma exibição como a de hoje; teríamos a “vantagem” de o Marítimo receber os lampiões a 2 de Maio, mas parece que as expulsões contra os “reds” só são obrigatórias no FM); a “visita” à cidade dos arcebispos, no dia 16 de Maio, para enfrentar o Braga; e, finalmente, a fechar o Campeonato, uma recepção ao Benfica, no Aurélio Pereira, a 23 de Maio (os jogos das 2 últimas jornadas efetuam-se em simultâneo).

* dos Açores com amor, o Álvaro Antunes prepara-nos um petisco temperado ao ritmo do nosso futebol feminino. Às terças!