Não fiquem com ideia. Não estou, com o subtítulo escolhido, a dizer que a nossa equipa Feminino Senior A andava com o com o seu Futebol desfasado da qualidade a que nos habituou. Nem tão pouco que deixámos de receber multas por atraso de entrada em campo. Nada disso. O “relógio” a que me refiro é o do nosso calendário competitivo, pois desde a 3ª jornada, em Janeiro, que tínhamos um jogo de atraso com o Marítimo e que só agora (a dois tempos) foi, finalmente, regularizado.

O jogo disputou-se na Madeira, no Campo 2 do Complexo Desportivo do Marítimo, no dia 5 de Maio, 4ª feira (?), às 11 horas da manhã (?). O Sporting alinhou com Inês Pereira; Mariana Rosa, Bruna Costa, Nevena Damjanovic e Joana Marchão; Tatiana Pinto Andreia Jacinto e Fátima Pinto; Ana Borges, Carolina Mendes e Raquel Fernandes . Já o treinador Luis Gabriel, que se viu impedido de contar com 2 das suas internacionais sub19 (Joana Silva de 17 anos e Lara Costa de 16 anos, com a seleção), colocou em campo um 4-2-3-1 com a guarda redes Bárbara Santos, as defesas Armanda Francisco, Luisa Brito, Paula Fernandes e Cláudia Vieira, à frente desta linha as médias defensivas Catarina Abreu e Tânia Mateus e as médias Carina Socarrás e Marcelly usando as alas quer para ajudar a “fechá-las”, quer para apoiar a ponta de lança Telma Encarnação que tinha ainda o apoio de Nádia Freitas que se desdobrava defensiva e ofensivamente nas chamadas posições 8 e 10.

O pendor do jogo percebeu-se desde cedo, com um Sporting muito mais dominador e a causar inúmeras situações de perigo, a primeira ocorrida logo aos 3 minutos com uma jogada de envolvimento atacante com boa e rápida troca de bola entre Ana Borges, Raquel Fernandes e Andreia Jacinto que remata para a primeira de muitas grandes defesas de Bárbara Santos (excelente guarda redes e mais um ótimo jogo). Aos 6 minutos foi Carolina Mendes a desperdiçar (por ser lenta a reagir) uma desmarcação na profundidade muito bem solicitada por Ana Borges. Aos 8 minutos o Sporting inaugura o marcador através de uma bela iniciativa atacante de Fátima Pinto a acorrer a um passe de rutura (que inteligência) de Andreia Jacinto e a assistir na perfeição Raquel Fernandes que não perdoa. Nota para a dedicatória do golo a Mónica Mendes que recebera a notícia do falecimento da avó. O coletivo, neste grupo, continua a valer muito mais que a soma das individualidades. BONITO!

Um tal assédio atacante com golo madrugador faria antever um jogo tranquilo, mas a verdade é que se foram acumulando as oportunidades perdidas (sobretudo por Carolina Mendes, mais uma vez dedicada e esforçada mas muito perdulária); e contra uma equipa como o Marítimo, muito bem organizada defensivamente e astuta nas transições ofensivas não se podem perder tantas ocasiões e ter tão pouca eficácia. O Marítimo conta com 3 venenosas armas do contra-ataque como o são Marcelly, Karina Socarrás e, principalmente a madeirense Telma Encarnação (com apenas 19 anos cada vez mais me convence ser a PL de futuro da seleção, pois é bastante completa: muito batalhadora, boa técnica, grande sentido tático e disponibilidade coletiva e instinto de matadora). É certo que continuámos a dominar todas as vertentes do jogo em mais de 90% do tempo, mas possuir apenas uma vantagem mínima contra uma equipa destas e num campo tão curto é andar a jogar “com o credo na boca”. Valeu-nos aos 86 minutos um disparate de uma das centrais madeirense (penso que tenha sido a recém entrada – aos 70 minutos – Madalena Castro) que tentou fazer um atraso de cabeça quase de meio campo para a sua guarda redes, atraso esse que ficou a meio caminho, ao alcance da Ana “Road Runner” Borges que ligou o turbo, ladeou a Bárbara Santos e empurrou para o fundo das redes, sentenciando o jogo e oferecendo um Xanax a Suzana Cova já devia estar a sentir um nervoso miudinho impróprio para o normal funcionamento cardíaco.

Em abono da Madalena Castro nesse lance, diga-se que foi algo pressionada pela solicitação ao atraso por parte da guarda-redes que saíu da sua área (no melhor pano cai a nódoa) e que a central madeirense possui apenas 17 anos, devendo ser-lhe dadas mais oportunidades para crescer e aprender, mesmo que com os erros; o que, estou certo, será feito pelo técnico Luis Gabriel, na minha opinião, um dos mais merecidos destaques deste Campeonato BPI, pela competência que demonstrou a criar, gerir e fazer crescer um grupo cada vez mais competitivo, com um orçamento baixo (um dos mais baixo dos 20 que iniciaram a prova) e com um forte recurso à prata da casa (apenas 3 estrangeiras – 4 se contarmos com a 5ª guarda-redes, a brasileira residente na Madeira, Ana Rocha, que Gabriel já pôs a treinar com as seniores); um plantel de 30 jogadoras para dar competição a muitas jovens da Formação que ficariam paradas devido às restrições impostas pela pandemia; das 26 portuguesas, 3 vieram do Continente (sendo que 2 estão há 3 anos na Madeira e têm 18 e 19 anos); 23 são naturais da Madeira; destas 22 fizeram todo o seu percurso futebolístico na Ilha); das madeirenses 4 têm 19 anos, 5 têm 18 anos, 3 têm 17 anos e 1 tem 16 anos apenas (e já competia nas sub 19 com 12 anos!!!). Esta equipa devia ser um caso de estudo.

Mas a começar por ser estudada na Madeira e, desde logo, no próprio Clube (ou SAD), onde a equipa senior masculina foi constituída ou por sugestão da Secretária de Estado das Migrações ou de uma agência da ONU (num plantel de 34 jogadores, 7 são portugueses, 12 do Brasil, 3 de França, 2 do Irão, 1 do Brunei, 1 do Gana, 1 dos Camarões, 1 de Itália, 1 de Angola, 1 do Chipre, 1 da Colômbia, 1 de Moçambique, 1 da Suécia e 1 da Argentina); além da nacionalidade portuguesa existem jogadores de outras 12 nacionalidades. Isto num Marítimo no Masculino que arrisca descer de divisão, enquanto a aposta diametralmente oposta no Feminino já há muito assegurou a permanência no escalão Profissional.

Como vêem, mais um caso CLARO em como, caso houvessem apostas de género mais assertivas, “ousadas” e tendendo para uma maior equitatividade, as SADs dos clube das Ligas profissionais Masculinas poderiam gerar um impuslo DECISIVO no desenvolvimento Futebol Feminino em Portugal, acrescendo imenso a sua qualidade e a sua sustentabilidade.

* dos Açores com amor, o Álvaro Antunes prepara-nos um petisco temperado ao ritmo do nosso futebol feminino. Às terças!