A preparação da próxima temporada da equipa principal do Futebol Feminino do Sporting Clube de Portugal SAD, tem revelado uma desoladora e preocupante inércia e ausência de estratégia por parte do departamento que a dirige. Dois meses e oito dias após o último jogo da época passada (em que, novamente, não se conquistou qualquer título) e quase 2 meses após a saída de 11 das jogadoras que foram mais utilizadas nessa mesma época (8 das quais internacionais), o Sporting apenas fez cinco contratações, sendo que 2 delas têm 19 e 20 anos.

A um mês do 1º jogo da próxima temporada (a Supertaça que será disputada a 28 de Agosta com o Benfica, equipa que conquistou todos os títulos das últimas 2 épocas), ainda não foi anunciado um único jogo de preparação. A equipa continua a treinar sem uma Guarda Redes que tenha minutos de 1ª Divisão, faltando-lhe 1 central com categoria para ser titular de equipa que se queira apresentar como candidata ao título máximo nacional, não tendo qaulquer média defensiva, e carecendo de mais uma jogadora criativa no miolo e outra jogadora possante e polivalente no ataque que ofereçam soluções alternativas no plantel.

E nem me venham de novo com a cantiga de que SÓ no fecho do mercado é que se pode fazer um balanço sobre a recomposição do plantel. Por esta altura, já deveríamos ter jogos de preparação marcados e o primeiro já no próximo fim de semana. E já deveríamos ter o plantel praticamente fechado para que a preparação da temporada fosse feita com mais eficácia, criando rotinas colectivas e aprimorando a condição física da base com que que contaríamos enfrentar os desafios da próxima época.

É absolutamente confrangedor perceber que até equipas como o Atlético, o Amora, o Condeixa ou o Valadares Gaia se tenham movimentado mais que o Sporting neste defeso e que apresentem sinais de uma mais cuidada preparação das suas épocas, agendando jogos de preparação. Ou que as equipas que historicamente disputam os troféus nacionais, estejam vários passos à nossa frente na preparação da próxima época.

O Benfica (que nas suas 3 épocas de existência conquistou 5 dos 6 títulos nacionais principais que disputou – 2 Taças da liga, 1 Supertaça, 1 Taça de Portugal e 1 Campeonato Nacional) manteve a sua estrutura vencedora e ainda se reforçou com a Maria Negrão (ex Famalicão e uma das mais promissoras jovens jogadoras portuguesas) e com a avançada brasileira Valéria Cantuário (ex Madrid CFF); além disso, ainda antes de jogar a 1ª eliminatória da Women’s Champions League no dia 18 de Agosto (com os israelitas do Kyriat Gat) ira participar num Torneio na Áustria onde jogará contra o Turbine Potsdam e o Austria Wien (e, eventualmente, ainda contra Sparta de Praga, ou Real Madrid ou Celtic de Glasgow).

O Braga (que nas últimas 3 épocas conquistou 3 dos 8 principais títulos nacionais em que participou – 1 Supertaça, 1 Taça de Portugal e 1 Campeonato Nacional), também perdeu 9 das jogadoras do plantel do ano passado (embora 4 delas pouco utilizadas e 1 outra que mais valia nunca o ter sido – a GR irlandesa Marie Hourihan), mas colmatou essas com relativa rapidez e muita assertividade, recompondo o plantel com evidente ganho de qualidade e de soluções competitivas: contratou as internacionais lusas Patrícia Morais (guarda-redes, ex Sporting), Vanessa Marques (média posição”6″ ou “8” ex Ferencváros) e Carolina Mendes (ponta de lança, ex Sporting), as brasileiras Paulinha (experiente defesa direita do Corinthians) e Vitória Almeida (a jovem ponta de lança sensação do último Campeonato Nacional BPI), a norte americana Paige Almendariz (ex Vilaverdense, que faz todas as posições do corredor esquerdo), a espanhola Laura Casanovas (média de 25 anos que jogava no Espanyol de Barcelona), a internacional cabo-verdiana Evy Pereira (média ofensiva ex Benfica) e a internacional holandesa Campeã da Europa Anouk Dekker (média defensiva /defesa central que veio do Montpellier), além das jovens defesas Ana Nogueira (17 anos, ex Fiães), Sara Alves (20 anos, ex Gil Vicente), Catarina Pereira (ex Futebol Benfica) e da média Ana Rute (23 anos, ex Condeixa). Além disso contratou o técnico João Marques que foi responsável dos projectos de equipas profissionais femininas do próprio Braga, do Benfica e do Famalicão.

Mesmo o Famalicão que disputou, até ao início da 2ª volta da série de apuramento de campeão, o último campeonato nacional da 1ª Divisão, que se viu desfalcado muitas das titulares mais importantes da última época (Mylena Freitas, Vitória Almeida, Gi Santos Maurine e Maria Negrão, entre outras), já parece começar a recompor o seu plantel (e realizou receitas razoáveis com as saídas da Mylena, da Vitória e da Maria Negrão). Ainda não parece re-equilibrar o nível do último ano, mas denota estar activo no mercado para fazer essa recomposição.
Já o Sporting, desde 13 de Julho, apenas fez 2 aquisições e 1 renovação … para a equipa B!? Elucidativo, não?

Quem venha até 28 de Agosto, data do primeiro encontro oficial (em que se disputa com o nosso maior rival um troféu) já virá algo tarde, pois entrará atrasada na sua preparação relativamente ao resto do plantel. Mas “antes tarde do que nunca” e o Sporting ainda poderá reconstruir um plantel ganhador com mais 5 aquisições que terão de ser certeiras:
– 1 Guarda-Redes (já deixámos fugir a oportunidade de contratar a Dani Neuhaus, que deixara o Benfica e acabou por fechar com o Famalicão; até já dou de barato que necessitaríamos ainda de outra G-R pois perdemos “só” as 2 titulares da selecção nacional mas que, até ver, podemos correr o risco de apenas ter uma carolina jóia sem qualquer experiência de 1ª divisão no banco);
– 1 Defesa Central alta, ágil, com boa técnica e que saiba participar também em acções ofensivas (tivemos a oportunidade de tentar contratar a Gi Santos que abandonou o Famalicão, mas entretanto já seguiu para outras paragens);
– 1 Trinco / Média de Construção (posição “6”/”8″) (tivemos a oportunidade de tentar a Vanessa Marques que se havia desvinculado do Ferencvaros, entretanto foi para o Braga;
– 1 Média de construção / Média Ofensiva (posição “8”/”10″) (estivémos para contratar a internacional canadiana Sarah Stratigakis, segundo a própria, mas parece que esse interesse arrefeceu)
– 1 atacante polivalente que seja possante, móvel e com golo (a Telma Encarnação, jovem do Marítimo, seria uma excelente aquisição)

Qualquer destas posições em carência clara, poderia ter sido preenchida (caso nos tivéssemos MEXIDO atempadamente no mercado) de forma certeira e com evidente melhoria do plantel, sem custos por aí além (afinal a GR foi contratada pelo Famalicão; a central foi para a Rússia e, por antecipação, até a poderíamos ter “convencido” a permanecer em Portugal; a trinco foi contratada pelo Braga, a média ofensiva parece ter estado com 1 pé no SCP e adquirir a Telma ao Marítimo seria um belíssimo investimento que não sairia muito caro). Ficaríamos com o plantel muito bem preenchido, com mais soluções (excepto na baliza), com 6 NFL, mas 3 com experiência do nosso campeonato, com uma base de 20 jogadoras de bom nível e de mais 6 dúzia de jovens que poderiam “crescer” muito mais e melhor fazendo vários minutos em muitos dos jogos ao lado de jogadoras de classe superior e treinado semana a semana com elas.

Neste momento, muito provavelmente, será mais difícil preencher estas lacunas e essa tarefa deverá exigir mais investimento. Mas, mesmo assim, com apenas 1 décimo do que a SAD realizou com a venda de Rosier, conseguiriam decerto recompor o plantel principal do FF com vantagem relativamente à época passada e ainda ficar com dinheiro para investir na promoção dos jogos juntos da massa adepta por forma a criar público crescente e capacidade de gerar receita.

* dos Açores com amor, o Álvaro Antunes prepara-nos um petisco temperado ao ritmo do nosso futebol feminino. Às terças!