O Campeão começou a época como terminou a anterior, a ganhar. Em Aveiro, com os adeptos de volta às bancadas, o Sporting até nem entrou bem na partida, mas assim que sofreu um golo pegou no jogo e não mais se viu o Braga em campo. Dois golos viraram o resultado e outros tantos ficaram por marcar, numa vitória sem mácula que fez muito boa gente engolir em seco

pote supertaça

Andámos uma época inteira e mais algumas semanas a ouvir dizer que o Sporting foi campeão porque os adeptos estavam covidicamente impedidos de ir aos estádios, por isso este que vos escreve esta crónica tem a certeza que essa frase estava engatilhada para ser disparada se as coisas corressem mal na final da Supertaça. Também se voltaria a falar da estrelinha e iriam ser escritas e ditas muitas e muitas coisas sobre a ausência do foragido João Mário. E com tanto folclore preparado para se as coisas corressem mal para os Leões, até Carvalhal estreou um fatinho a la Miami Vice, obviamente sem a pinta de um sonny Crockett, mas suficientemente chamativo para vê-lo a encher o peito quando a sua equipa chegou à vantagem.

Estavam decorridos 20 minutos e no que se jogou até aí não havia propriamente uma equipa a conseguir superiorizar-se. O Sporting tentava ter mais bola, mas a pressão dos minhotos era forte e não hesitava em recorrer à falta para travar as saídas de bola que, assim, raramente chegava a Jovane ou a Pedro Gonçalves, além das dificuldades de Matheus Nunes em desatar o novelo do meio e fazer a ligação entre sectores. E com tudo tão embrulhado, Ricardo Horta viu bem o momento em que a defesa do Sporting abriu uma brecha e serviu a desmarcação de Fransérgio; o capitão bracarense recebeu ainda melhor e executou um remate seco que bateu no poste antes de entrar.

Seguiram-se três ou quatro minutos em que o Sporting pareceu acusar o golo, mas foi como se a equipa precisasse desse toque para acordar definitivamente. Palhinha, obviamente o primeiro a ver amarelo na partida, começou a engolir o meio campo, de onde surgiu um Matheus Nunes capaz de ganhar todas as divididas, de rodar e cavalgar por ali fora com a passada larga que o catacteriza. E com o miolo dominado, Nuno Mendes tomou conta do corredor esquerdo e antes de começar a ir por ali fora fez um passe sublime para a desmarcação de Jovane, que na cara do redes não falhou e fez o 1-1.

Logo a seguir, Nuno Mendes meteu o turbo, ganhou a linha de fundo e fez um cruzamento meio golo para o segundo porte, onde Pedro Gonçalves surgiu a emendar para… enorme defesa de Matheus! O jogo tinha virado completamente, com Paulinho a ser um pivot incansável sobre o qual girava o carrossel das movimentações de Jovane e de Pedro Gonçalves e com o Braga cada vez mais metido no seu meio campo e incapaz de esticar o jogo. Esgaio tinha metido Galeno no bolso e começava a surgir em apoio ofensivo, Coates, quase sem pré-época, crescia à medida que os minutos passavam e aplaudia a audácia polvilhada de classe do menino Inácio, que saía do meio de dois para ir por ali fora ajudar à festa (OlhaQuéBom).

Até que, a dois minutos do intervalo, Palhinha ganhou uma bola a meio campo, esta sobrou para Matheus Nunes que não demorou em colocá-la por alto em Peter Potter; o camisola 28 dominou, meteu a redonda no chão e sacou uma incrível trivelada que só parou quando beijou a rede. 2-1 num candidato a golo do ano.

Veio o intervalo, veio o segundo tempo e vieram 45 minutos totalmente dominados pelo Sporting. Diria mesmo, que o lance mais perigoso do Braga aconteceu minutinhos depois do arranque da segunda metade, quando Coates disse “querias…” a Ricardo Horta, depois de desviar um cruzamento de Sequeira. No restante… zero remates à baliza de Adan, ao contrário do que ia acontecendo do outro lado, nomeadamente quando o Sporting saía em jogadas tricot que de tão bonitas faziam lembrar as antigas verde e brancas nascidas das agulhas das avós. Pena que Peter Potter tenha esgotado a magia naquele golaço (compreende-se) e não tenha, por exemplo, feito o 3-1 depois de uma cueca a um defesa e já sem o redes na baliza (nem meteu no Nuno Santos, nem meteu na baliza). Nuno Mendes também tentou, de livre directo, Jovane deu pouca curva à bola quando quis metê-la no segundo pau.

João Pinheiro lá ia tentando arrastar a emoção até final dando, inclusivamente, uns fantásticos sete minutos de desconto e inventando umas faltas no meio campo leonino que permitissem aos bracarenses meter a bola na área, mas nessa altura já Palhinha se tinha dirigido aos adeptos leoninos pedindo-lhes que se fizessem ouvir cada vez mais na celebração de uma conquista que se espera que seja a primeira de muitas na época que agora começa e onde, pela amostra de ontem, vão ter que inventar um novo leque de justificações para explicar as vitórias desta equipa.

I see friends shaking hands, saying: How do you do?
They’re really saying: I love you!

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