Chapadão de realidade no Leão campeão, completamente sem argumentos para contrariar o Ajax. Daquele inaceitável buraco atrás da baliza sul à teimosia do treinador em não alterar o desenho táctico, tudo correu mal numa noite de goleada histórica e onde até a estrelinha nos virou costas

welcome to the jungle

Passaram quatro anos sobre o último jogo feito pelo Sporting na Champions e, sou-vos sincero, não estava preparado para levar um choque de realidade tão forte. Não porque não esteja plenamente consciente das debilidades de um plantel fechado de uma forma com a qual discordo. Não porque não esteja plenamente consciente de que metade dos que compõem esse plantel são jogadores que dão conta do recado internamente, mas que não demoram a exibir pontos fracos se colocados perante adversidades maiores. Não porque não esteja plenamente consciente de que a experiência conta e muito neste tipo de competições e que enquanto a nossa equipa titular somava 24 partidas na competição, no onze holandês o combinado de minutos na champions dava para 170 jogos disputados.

Face a isto e mesmo sem Coates e sem Peter Potter, este meu espírito que teima em pregar-me partidas acreditava numa noite de superação, daquelas onde os patinhos feios parecem cisnes. Acontece que aos oito minutos de jogo já estávamos a perder por 2-0, no início de uma derrocada que começou e continuou pela ala esquerda do edifício, com um primeiro golo às três tabelas (ressalto e poste antes da emenda) e um segundo demasiado patético para ser verdade na forma como Vinagre se posicionou face ao pontapé longo.

Haller foi o marcador dos dois golos, Tadic andava em pezinhos de lã a espalhar magia, Antony fazia o que queria pela ala direita holandesa. Para piorar tudo, Gonçalo Inácio levou um toque, ressentiu-se da lesão e saiu em lágrimas. Chorava ele e chorávamos nós, na perspectiva de ter que escolher entre Esgaio e Matheus Reis para, durante 70 minutos, fingirem que são centrais. Entrou o nazareno que, coitado, andou por ali a tentar o melhor que conseguia.

Estávamos nós a perceber que a equipa não conseguia ligar uma jogada de ataque, quando Paulinho insistiu numa bola e aproveitou o modo isto está ganho da defesa adversária para mandar uma bufa que passou entre as pernas do redes. Renascia a esperança, aos 33, mas ainda antes do intervalo voltava a ser-nos dado do recado de que não estávamos na Liga portuguesa: Antony voltou a fazer fel do Vinagre e desta vez foi Berghuis a aparecer na cara de Adan e a perguntar ao espanhol para que lado a queria. Tudo tão simples, tudo tão fácil, que chegou a ser confrangedor a incapacidade do Sporting para lidar com o que o adversário lhe oferecia.

Para lá da genialidade de Antony e de Tadic, para lá do enorme ponta de lança que é Haller, o técnico Ten Hag ofereceu a Amorim um banho táctico. Percebendo que Palhinha e Matheus Nunes não podiam ir a todas, o holandês usou e abusou do corredor central para dar bola aos seus criativos, que apareciam entre os nossos médios e os nossos centrais. Ora, sem Coates, o Sporting não tinha um único central com capacidade para subir e tentar a antecipação ou, pelo menos, a pressão. Resultado? 1, 2, 3, 4, 5 golos sofridos, quase todos eles saindo da mesma forma.

Amorim foi teimoso e não corrigiu, tendo apenas a seu favor o momento do jogo em que a tão falada estrelinha virou as costas à equipa: logo aos dois minutos do segundo tempo, Paulinho foi buscar uma bola funda de Feddal para executar uma cabeçada perfeita. Golaço e um 2-3 que, não sabemos, muito podia ter mexido no jogo, pois foi anulado por uma unha do dedo mais pequeno. Logo a seguir e já com Matheus Reis a fazer de Vinagre, o tempero foi o mesmo: bola de Antony e Haller a aparecer isolado para o 4-1. O jogo terminou aí, mas, ainda assim, o técnico leonino não quis reforçar o miolo, ensaiando uma ajuda a Palhinha e a Matheus Nunes que será necessária frente a adversários como este Ajax.

Se na selva o Leão adapta a sua forma de caçar à presa que persegue, no futebol também o Leão tem que saber adaptar-se ao seu oponente. Não soube, nem tentou mudar para consegui-lo. Erro crasso. Welcome to the Jungle, rapazes.