Caríssimos leitores da tasca, embora ainda a processar e a digerir uns “space cakes” de Amsterdão, está na hora de avaliar como a equipa de sub-23 entrou na principal competição europeia jovem, a youth league, e também o rescaldo do empate entre os leões com os leões de faro.

Começando por o duelo com os leões de faro, Filipe Pedro optou pelo 11 habitual, com Vasco Gaspar na baliza, o quarteto defensivo com Martim Marques, Emanuel Fernandes, Gilberto Batista e Tiago Santos, a dupla de meio campo com Renato Veiga e João Daniel Santos, os três médios ofensivos (Isnaba Mané, Miguel Menino e Mateus Fernandes, que serviram o ponta de lança Nicolai Skoglund. Esta equipa tem tido alguma dificuldade em definir-se taticamente no meio campo, transitando entre um 4x3x3 e um 4x4x2 híbrido, dependendo das movimentações de Miguel Menino e Mateus Fernandes. Em certos momentos, Mateus Fernandes subia no terreno e fazia uma dupla com Skoglund, numa espécie de falso “9” ou um pivôt, uma tarefa semelhante ao que foi executado na perfeição por Steven Berghuis, que dizimou a defesa leonina no jogo do Ajax.

A equipa de Faro, já com duas derrotas nas primeiras duas jornadas, não queria de maneira nenhuma continuar nesta senda e por isso reforçou-se com 3 ou 4 jogadores da equipa principal (o guarda redes Ricardo Velho, o defesa central André Seruca e o antigo jogador leonino Loide Augusto).

O jogo foi bastante bem disputado, com as duas equipas a lutarem pelos 3 pontos. Foi um jogo onde foi a defesa leonina a destacar-se pelos melhores e piores motivos. Por um lado Gilberto Batista e Tiago Santos fizeram um jogo muito bom, com o médio defensivo adaptado a defesa central a controlar muito bem a profundidade, a ser muito forte nos duelos e a ter uma capacidade invulgar de passe longo e de organizar a construção do jogo (ter defesas centrais que saibam tratar a bola e que não tenham medo de a ter, é fundamental no futebol moderno). Já Tiago Santos fartou-se de desequilibrar no corredor direito, ganhando muitas vezes a linha e a ser um perigo à solta, sendo ele responsável principal pelo golo leonino. Um lateral forte, possante e com muita capacidade de compreender os diferentes momentos atacantes, sabe quando deve ganhar a linha e quando deve combinar com o médio ofensivo/extremo/ala interior que está na sua faixa. Por outro lado, Martim Marques e Emanuel Fernandes ficaram nos piores momentos do jogo. O lateral esquerdo, foi constantemente ultrapassado pela velocidade e potência de Loide Augusto, continuando na mesma senda de não saber ler o jogo, é um jogador muito ofensivo mas que desequilibra muito a equipa. Ainda para mais que é um jogador franzino, e por isso continuando a ficar emparelhado com extremos velozes e potentes, vai ficar sempre a perder.

Embora também seja preciso notar que Isnaba Mané não tem mostrado o suficiente comprometimento defensivo, deixando Martim Marques demasiado exposto. Algo que é necessário rever. Os mesmos erros transitam da época passada, mas só com novos executantes. Emanuel Fernandes mostrou-se algo nervoso, estando também ligado ao golo, deixando escapar o central do Farense no momento do golo.

Foi um jogo de momentos, onde em cada parte os leões de Faro tiveram um maior ascendente nos primeiros 15 minutos das mesmas, e a equipa de Filipe Pedro a dominar os restantes 60 min. Houve uma boa batalha no meio campo, mas onde os elementos mais avançados no terreno não se destacaram. Criámos muitas oportunidades, tiraram-nos dois golos feitos mas mesmo assim não foi suficiente para desfeitear a equipa adversária. Temos muito fio de jogo, e já não é um futebol desgarrado, mas continua me a preocupar a falta de eficácia na hora de rematar à baliza.

A nivel da equipa técnica, continuamos a ter um treinador que não tem habilidade de saber mexer com o jogo a partir do banco. Ou mexe mal ou demora muito tempo a mexer. Neste jogo, mexeu mal no jogo pois Diogo Cabral não entrou nada bem e quando estávamos por cima, e ainda com 20 min por se jogar na partida, tira a única referência atacante que temos (Skoglund) para colocar mais um médio ofensivo, obrigando Mateus Fernandes a ocupar esse lugar. Estas duas alterações foram um absoluto nulo, pois além de ter obrigado a jogar os jogadores em posições diferentes, interferiu na dinâmica atacante.

putos ajax

Na passada quarta feira, os nossos petizes jogaram com o Ajax a contar para a primeira jornada da Youth League. Com uma mescla de jogadores dos três escalões abaixo da equipa principal (sub-19, sub-23 e B), entrámos no jogo a todo o gás, a pressionar com grande intensidade e a criar perigo logo nos instantes iniciais, não fosse a inépcia de Paulo Agostinho em frente à baliza e aos 10 minutos de jogo podíamos estar a ganhar já por 2 golos. O golo de Mateus Fernandes resulta exatamente de uma pressão forte de Miguel Menino e Paulo Agostinho nos defesas do Ajax, que obrigou que houvesse um passe demasiado arriscado para o guarda redes. Por sua vez este, aliviou a bola mesmo para os pés de Mateus Fernandes, que bastou colocá-la na baliza para fazer o primeiro da partida.

A partir deste momento, arrancámos para uma primeira parte de pressão asfixiante, com um bloco de pressão muito alto que não deixava pensar os petizes de Amesterdão. Aproveitando a sua juventude ( o Ajax apresentou-se com um plantel que rondava a média de 16,8 anos de idade), era fácil dominar e reinar no meio campo adversário, com destaque para Mateus Fernandes e Lucas Dias. A partir deste momento de sufoco, havia uma maior facilidade de colocar mais jogadores a participar no processo ofensivo e David Monteiro e Martim Marques/David Travassos ajudaram muito a carrilar o jogo pelas alas. No meio campo, Renato Veiga com a sua passada larga e João Daniel com a sua capacidade de saber estar no sítio certo, acabaram por controlar com qualidade as raras tentativas de
ataque do adversário. Foi uma primeira parte muito agradável de se ver, com movimentações muito interessantes, mostrando também que a química entre os jogadores manteve-se intacta, embora estarem a jogar em diferentes equipas.

A ligação entre Miguel Menino e Lucas Dias foi importante para baralhar as marcações adversária, e a sua inteligente ocupação dos espaços permitiu uma maior eficácia na pressão. A dupla de centrais Chico Lamba e Gilberto Batista (atentem neste rapaz, está a formar-se um belo central), manteve-se segura e muito forte nas antecipações e no 1×1 defensivo. João Daniel Santos estava a fazer um jogo bastante bom quando perde a bola em zona proibida (sendo ele o terceiro elemento de uma saída a 3 para o ataque), que resultou no golo adversário.

Continuámos a falhar golos cantados, penalties e mais uma vez o treinador Filipe Pedro a estar mal nas suas decisões. Não convocar um médio para estar no banco foi algo que estranhei, ainda para mais numa altura em que a partir do minuto 70, ambas as equipas tinham os seus elementos do meio campo bastante esgotados, o que fez com que os últimos 20 minutos fosse apenas jogado em transições, havendo perigo e inconstância nas duas balizas. Não convocar Kiko Félix, Marco Cruz, Gonçalo Batalha ou mesmo Dário Essugo fez me confusão, e ainda para mais os elementos que colocou em campo em nada acrescentaram ao jogo. Mais uma vez, Filipe Pedro esteve bem na forma como preparou o jogo, mas mais uma vez não foi capaz de dar à equipa as armas necessárias para levar de
vencida o Ajax Amesterdão.

No cômputo geral, são dois jogos com muitos mais pontos positivos que negativos, porém os mesmos vícios e os mesmos erros da época passada tardam a ser devidamente corrigidos. Estou com muita expetativa do que esta equipa poderá fazer na youth league e principalmente o crescimento que estes jogadores possam ter ao longo da época.

*quando o deixam entrar na Academia, o JFCC coloca na ementa um prato com dedicatória para os #FormaçãoLover