Directamente de Angola, Sá escreve uma carta aberta a João Querido Manha.

Manhosices, by Sá

Caro Manha, permita-me, antes de mais, tratá-lo pelo apelido ao invés do nome próprio. Como certamente saberá, não andei consigo na escola e, parece-me mais apropriado dirigir-me a si através do seu apelido.

Calculo que tenha tido uma infância tão difícil como hilariante. Difícil porque ser Manha não abona em favor de ninguém e torna mais difícil fazer amizades. Por exemplo, eu nunca seria capaz de ser amigo de alguém com esse apelido porque desconfiaria logo de antemão. Eu sou assim, nada a fazer. Hilariante, porque as meninas do seu tempo até poderiam achar engraçado o facto de ser Querido. Mas afastavam-se logo que verificassem o apelido. Confesso, hilariante para mim. Não tanto para si. Imagino numa peladinha na sua escola, algum colega seu vê-lo desmarcado na esquerda e gritar: “O Querido está sozinho!” e obter, como resposta: “Isso é porque é Manha!”. E ninguém gosta de manhosos. É gente ruim. E por esse facto, é possível que tenha passado ao lado de uma grande carreira futebolística.

Não obstante de ser possível que a sua infância tenha moldado o seu carácter (ou a falta dele), a verdade é que o sr faz jus ao apelido que ostenta. E isso é algo raro de se ver. Por exemplo, Tenho um amigo de apelido Pereira e que não trabalha na indústria da produção de pêras. E que nem sequer é capaz de enfiar umas solhas como deve ser. E por isso volto a dizer, é difícil fazer jus ao apelido. Mas você faz. E dou-lhe mérito por isso.

Ora bem, isto acontece na sequência de uma coluna de opinião escrita por si no jornal que agora dirige sobre o erro do Rui Patrício e que branqueia outros erros (no plural) que tiveram igual ou maior influência no resultado final do benfica – Sporting. Para começar, como consumidor de futebol acho que um director de um jornal não devia escrever artigos de opinião. Devia dirigir um jornal. Os artigos de opinião devem ser escritos por pessoas fora do jornal para que se transmita aquela ilusão de que o jornal é imparcial. Obviamente que não comungando desse princípio, esta minha opinião acaba por não lhe fazer qualquer sentido. Está a ver porque é que ninguém lhe passava a bola? Segundo, acho de um mau gosto tremendo usar um jogador que é só o titular da selecção nacional que está prestes a jogar um dos desafios mais importantes da temporada apenas e só para atacar o Presidente do Sporting e o próprio clube. Ou pelo menos, não colocar ao mesmo nível o erro desse grande guarda redes que tanto tem dado ao futebol nacional e os erros (sim, no plural) de um árbitro que tanto tem desprestigiado o mesmo fenómeno. Ah! Mas espere lá! Você é benfiquista….pronto, já percebi então. Ah! Grande maluco! Sempre fiel ao nome que assina!

Posto isto, gostava que na escola lhe tivessem passado mais vezes a bola. Se calhar hoje estaríamos perante um extraordinário extremo esquerdo e o jornalismo estaria livre de um de tantos manhosos que mancham essa nobre profissão. Mas o mérito de viver segundo um apelido…esse ninguém lhe pode tirar!

Concluo esta carta desejando que se mantenha exactamente onde está. O jornal que dirige é a sua cara. E o seu apelido.