Diogo Carvalho, o homem que carrega o avatar Benedito, solta o que lhe vai na alma!

Pelo Sporting, marchar, marchar!, by Diogo Carvalho

Caros Cacifeiros:
Começo esta mensagem por aquilo que seria um fim natural da mesma. Começo esta mensagem por vos pedir que estejam a partir de hoje, e ainda mais, próximos do Sporting. O que está ao nosso alcance é o mínimo que podemos fazer pelo nosso clube, e o mínimo que podemos fazer pelo nosso clube é estarmos unidos e marcharmos (porque é de um Comando que se trata) todos os dias pelas ruas de Lisboa, com a mesma força e vigor demonstrados naquele sábado. Para alguns, a força demonstrada naquele estádio é secundária, porque, ao fim e ao cabo, acabámos por não trazer a vitória. Nada de mais errado. Um clube faz-se muito de títulos, mas mais ainda do seu património imaterial, da força dos seus adeptos e do orgulho que estes demonstram no clube. O meu clube é assim. O meu clube enche-me de orgulho, a mim e aos muitos que, depois de uma época miserável (e por época refiro-me aos longos anos do paradigma do gestor tecnocrata), cantam como nunca, abraçados por essas ruas e cantando até que a zona abdominal doa e a garganta falhe. Não tenhamos dúvidas: o estádio da luz foi nosso, dos nossos adeptos, e esse é, muito sinceramente, o maior sinal de energia que podemos enviar às restantes hostes e aos ataques diários que vêm de todos os lados, inclusive de alguns que nos desgovernaram nos últimos anos de Sporting.

No sábado pudemos assistir a mais um episódio do modus operandi de uma certa casta de impolutos, arrivistas e mentes corrompidas. Não nos enganemos, porque começou bem antes de sábado. Quem, no seu perfeito juízo, poderia pôr sequer a hipótese da nomeação de alguém que tem pautado muito da sua vida profissional por um ódio visceral a tudo o que é Sporting? Quem, no seu perfeito juízo, poderia optar por uma figura destas, para um jogo decisivo, na casa de um adversário que, vá-se lá saber porquê, reúne as suas próprias preferências clubísticas? Não é minimamente razoável. Alguém que, como é sabido, faz das redes sociais um meio para, também diariamente, brincar com o sportinguismo de gente séria, trabalhadora e convicta do seu amor ao clube.

Já ouvi dizer, e li também, que este foi apenas um episódio muito bem elaborado (por Pinto da Costa, entenda-se) para lançar a discórdia entre dois clubes que se querem próximos, contra a corrupção e em prol da verdade desportiva. Este é, talvez, o argumento mais patético que o mundo do comentário desportivo já conheceu. Este é, talvez, o argumento mais sólido que nos permite afirmar que, do outro lado, grande parte da argumentação se faz de acordo com uma retórica travestida de período de negação, ou a incapacidade de aceitar o óbvio, e aqui o óbvio é a sistemática e, diria mesmo, a quase arrepiante tendência para ver os de verde e branco prejudicados face ao rival de Lisboa. Não é sério. Muitos de nós, por incapacidade de gerirem bem as emoções, acabaram por entrar em fortes discussões com adeptos rivais, mas a resposta acontece sempre segundo a mesma bitola: “devia ser proibido falar-se de arbitragem num jogo destes”; “e o fora de jogo do Montero no jogo para o campeonato?”; e, mais incrível que tudo o resto, “e o penalty do Jardel na época desportiva de 2001/2002? Se não fosse o dito penalty, nem teriam sido campeões”. Confesso que o último argumento (até por ter havido dois penaltys ridículos, um para cada lado) é aquele que me deixa mais triste. Deixa-me triste por dois motivos: em primeiro lugar, porque acredito sinceramente que muitas pessoas crescem na base da desonestidade esperta, e em segundo lugar porque é um sinal óbvio de que nunca devemos subestimar a estupidez alheia.

Mas, vamos por partes: “devia ser proibido falar-se de arbitragem, num jogo destes”, dizem algumas figuras da nossa imparcial comunicação social. A estas mentes sapientes, talvez seja de bom tom lembrar que o efeito de um mau jogo, decidido exactamente nos mesmos termos em que este se decidiu, tem basicamente o mesmo efeito de um bom jogo disputado nas mesmas condições de inclinação do terreno, isto é, a tendência para que uma das equipas acabe por ter, vá lá, maior probabilidade de ser eliminada. Digo eu, que sou leigo e não percebo nada disto. Não sei, mas é que, jogando bem, ou jogando mal, são esses os pormenores que deitam por terra a ideia de um jogo, esse sim, “limpinho, limpinho”. Ou não? Será que um jogo mal disputado, enviesado pelos mesmos pormenores, já nos permite protestar com alguma legitimidade, ou será que nesse formato não podemos igualmente optar por um protesto, porque os jogadores optaram por jogar mal, atitude que, vá-se lá saber porquê, acaba por contagiar o senhor do apito e votá-lo a uma péssima arbitragem? Podem sempre argumentar que é o efeito osmose, sei lá.

Sabem o que me recorda este argumento (e deixo para mais tarde a ideia de que FCPorto e SLBenfica se regem pelos mesmos princípios), caros cacifeiros, caros comandos? Lembra-me aquela famosa ideia do jogo de 2011, no dragão, o mesmo em que um serviço de volley mal-enjorcado para o chão, na área do FCPorto, feito pelo então defesa Rolando, não nos permitiu ter a hipótese de chegar à igualdade. Na altura, se bem se lembram, a ideia deixada passou por dizer que era simplesmente estúpido ver uma equipa que estava a 30 pontos do primeiro lugar, protestar a arbitragem nesse jogo. Como se, caros cacifeiros, caros comandos, tudo fosse permitido num jogo em que as posições na tabela classificativa já estariam definidas. Depois de sábado, o que tivemos foi mais do mesmo, num discurso descarado. “Num jogo destes, devia ser proibido protestar uma arbitragem”.
Ora bem, por estas palavras, assumo que o que se queira dizer é que, se o Sporting tivesse assumido a sua postura de clube decadente, como gostam muitos de gritar ao mundo, e jogasse mal, já poderia protestar num jogo em que, sem atitude, talvez perdesse por números expressivos. Ou não, esqueçam, nessa eventualidade, o Sporting ver-se-ia impedido de protestar, porque uma equipa que joga mal não tem o direito de protestar o que quer que seja.

Argumento 2, e chega-nos o tão célebre golo do Montero, em Alvalade. “E o fora de jogo do Montero no jogo para o campeonato?”, perguntam eles, desejando que a resposta seja dada ao velho estilo do adepto faccioso que, ora equipa de vermelho, ora equipa de azul. Sim, senhor/a, respondo eu. Se bem vimos, o Montero está em fora-de-jogo aquando do passe para o André Martins. No entanto, e seguro de que a memória não me atraiçoa, opto por fazer nova pergunta: “e aquele cabeceamento do Lima, minutos depois, em que, também em fora de jogo não assinalado, faz jus à sua actual má forma e, isolado, atira a bola a trave do Rui Patrício?”. Mas não fica por aqui, porque respondem-me do seguinte modo: “Ai é, ai é?, então e aquele lance em que o Maurício agarra o Cardozo dentro da área?”, ao que eu respondo “Qual, aquele que antecede a gravata do Luisão ao William, também dentro da área encarnada?, e que muito equivale ao abraço do grande Jardel (não o verdadeiro) ao nosso Capitão América?. A discussão agudiza, e nesta altura já estamos a falar no Rojo, que devia ter sido expulso aos 30 segundos da primeira parte no último jogo da luz, só que os ditos não percebem que o Rojo, que acabou por ser mesmo expulso, numa fase decisiva do jogo, não goza do estatuto de um Maxi Pereira, que acaba sistematicamente os 90 minutos porque lhe é dada a hipótese de ser substituído por um irmão gémeo ao intervalo, que entra em campo sem registo de faltas e com os ditos amarelos limpos. Não percebem que o Rojo não é um Matic, que pode entrar, sem qualquer consequência para o próprio, aos calcanhares e tornozelos de um adversário vestido de verde, ou um Luisão que entra por trás, às pernas de um Liedson desprevenido, num jogo que, curiosamente, também decide coisas e que sucede a um outro onde um João Pereira deita tudo a perder logo aos 4 minutos, com um vermelho directo por entrada também imprudente.

Posso continuar? Eu continuo. Estes são os adeptos que, com toda a vergonha que não têm, gritam aos sete ventos que o jogo decidido por um tal Lucílio Baptista, temível atacante de uma equipa que gosta de fazer do Algarve bastião dos mais sórdidos episódios (Estoril Gate, compra de jogadores de equipas adversárias que se preparam para defrontar, etc), nada teve que ver com uma mão tornada peito, por obra e graça do espírito santo. Estes são adeptos que festejaram esta conquista como se não houvesse amanhã, e que viram na angústia e sofrimento alheios algo que não interessa assinalar, porque, afinal de contas, “nós com a taça, eles com a azia”. Estes são os mesmos adeptos que se indignam naqueles dois dias únicos de um longo ano em que são o refugo de um sistema podre e em que a imagem de um Pedro Proença, pessoa que interessa destacar, agora sim, nas derrotas injustas do clube, é finalmente a imagem de um desporto podre, mesmo que para eles o seja apenas em situações pontuais (dois dias do ano, convenhamos), e que, como tal, deve ser eliminado, sendo que, na impossibilidade de tal poder acontecer, há sempre a hipótese de rechear a conta bancária de um qualquer dentista, por qualquer acção abnegada de um qualquer transeunte de um qualquer centro comercial em Lisboa. Estes são os adeptos que gostam de assistir a um canal de televisão capaz de envergonhar qualquer canal estatal angolano, com a ideia (e aqui resta-me saber se quem o diz nesta televisão, acredita de facto nisto) de que “contra tudo, e contra todos”.

“Contra tudo, e contra todos”: contra uma comunicação social que legitimamente (porque é este o nosso estado de direito, e ainda bem) abraça o desafio de levar o clube às costas, promovendo jogadores que mais não são do que projectos de jogadores medianos (vide casos Nelson Oliveira e, mais recentemente, Ivan, esse temível); uma comunicação social que envergonha adeptos do clube adversário, retirando-lhes, à boa maneira do photoshop, qualquer símbolo que o ligue ao clube, numa qualquer conquista internacional; uma comunicação social que opta por ridicularizar o clube adversário, substituindo a figura e o animal que fazem o símbolo, por um qualquer outro animal, em dia de derby; uma comunicação social que, em vez de investigar o paradeiro de milhões gastos em contratações “cirúrgicas” na luz, bem como passivos galopantes, opta por jogos de bastidores e pelo ataque serrado aos mesmos de sempre,  etc, etc.
“Contra tudo, e contra todos”. Contra um sistema que promove a subida ao relvado de um confesso adepto, de quem se diz ter processos em tribunal movidos pelo Sporting, para ajudar a sonegar dois penaltys e a marcar outros três, num qualquer outro jogo contra um qualquer clube que este adepto confesso tenha a felicidade de prejudicar no relvado “do seu maior”, em escassos 45 minutos de jogo.
“Contra tudo, e contra todos”, dizem eles. Contra uma justiça cega, que se coíbe de fazer o papel que lhe cabe e castigar quem opta por agredir polícias, com a mesma exacta celeridade que castiga uma qualquer pessoa desempregada que tire, sem pagar, uma lata de atum de um supermercado.
“Contra tudo e contra todos”. Contra a indignação de uma classe de árbitros que, enxovalhada, dia sim, dia não, pelo anjo da luz, opta pela mesma lógica de boicote que impera perante os verdes.
“Contra tudo e contra todos”, dizem eles, esquecendo-se que um número considerável de conquistas últimas que tiveram se construiu com base na importância que os que equipam de verde e branco têm junto daqueles que decidem, no alto da sua impunidade. Uma importância igual a zero.
“Contra tudo e contra todos”, dizem eles. Contra eles próprios, que, mergulhados na mais profunda impossibilidade de serem genuínos, se vêem incapazes de escolher entre um treinador que faz da soberba e jactância o seu modo de vida, e um outro que o agride, é votado ao esquecimento e recuperado sob pena de… coiso. Contra eles próprios, que, mergulhados na mais profunda desordem, gastam os dias a gritar às “menos dignas” mães dos seus adeptos. “Contra tudo, e contra todos”.

Mas a verdade é que, depois de sábado, e com menos de um ano de diferença para o anterior derby de Capela, todos terão tido a evidência de que os caminhos de desígnio deste nosso Portugal desportivo, são trilhados por três tipos de entidades: os azuis, os vermelhos e os outros, onde incluo o Sporting, porque é aquele de que me interessa falar. Há também umas variâncias, nomeadamente a norte, com clubes que se tornam satélites até a coisa correr mal e descerem aos últimos lugares da tabela nas temporadas seguintes.
Os azuis são aqueles gajos que o fazem à descarada, sem qualquer tipo de pudor, e que por isso mesmo vêem a totalidade dos seus dias do ano ser recompensada por uma gestão eficiente e minuciosa de todos os aspectos que podem gerar imprevisibilidade (característica de que depende e é essencial ao desporto).
Os segundos, vermelhos, são aqueles que fazem jus ao animal que ostentam. Ficam-se pelas migalhas, sempre dispostos a apanhar outros bocados, de maior dimensão, e também por isso apontam em todas as direcções: comunicação social, entre outros. Estes são os sonsos, aqueles que não podem ver um seu rival crescer, vindo de baixo, de muito baixo, que começam a ficar intranquilos e a pedir alianças onde o resultado último dessa tentativa de associação fica claro nas alturas em que se defrontam. Digamos que não fazem a coisa por menos e que, como tal, atiram ao parasitismo, esperando que o hospedeiro que querem controlar se mantenha na linha, um pouco à imagem do que os azuis já fizeram, por culpa própria dos verdes.
Os vermelhos e os azuis caminham em paralelo, numa mesma direcção, e vão deixando bombas a tudo o resto que mexe, na esperança de que assim consigam uma espécie de trono irrevogável.
Os verdes estão lá, e vão existindo, contentes e orgulhosos do seu caminho, sempre dispostos a cuidar de si, mesmo que um pouco tarde, quando alguém se mistura e decide tentar abanar um pouco a lógica do comportamento. A esses, os verdes respondem com um “põem-te a andar, que aqui não há disso”, ao contrário dos azuis e dos vermelhos, que também são sujeitos a este esforço de pôr as coisas em perspectiva, mas acabam sempre por bater palmas e seguir com 90% (e até mais) do consentimento da sua comunidade. Os verdes vão, orgulhosos, e marcham juntos, por essas ruas fora, por si e para si. Os azuis e os vermelhos lá vão, uns com a perfeita consciência de que fazem sempre merda, mas “que se lixe, porque continuamos a vencer”, e os outros com a consciência de que algo não vai bem, e que não se faz, mas que se calhar é esse o caminho porque é assim que se vence. Uns caminham para o abismo, porque o grande chefe, como todas as entidades e formas vivas, não vivem sempre; os outros no abismo estão, cegos da sua condição. Os verdes trabalham, para recuperar o caminho perdido, mas sabem que não querem ir pelo mesmo caminho trilhado pelos azuis e vermelhos, um caminho mais rápido e mais fácil, mas um caminho que cheira a cemitério e a morte. Um caminho de podridão e escuridão imensas, com uma pressão e uma obscuridade tais que votam qualquer retorno ao fracasso.
“Sei que não vou por aí”. Viva o Sporting Clube de Portugal!