cherbakov2Lembro-me como se fosse hoje. Andava na secundária, no 11º ano, e ia ter um teste de alemão da parte da tarde. Estava a aproveitar o facto de não ter aulas de manhã, para decorar verbos e afins, quando a notícia me atinge de rajada. «Cherba… 22 anos… carreira terminada… corre o risco de não voltar a andar…».
Engoli em seco. Uma. Outra vez. Passaram-me mil merdas pela cabeça, nomeadamente a de um gajo, meia dúzia de anos mais velho que eu, que sonhava fazer o que eu também sonhava e que, estando a concretizá-lo, se via atirado para uma cadeira de rodas. Sem dar por isso, estava a chorar compulsivamente por alguém que não conhecia, mas que me parecia tão próximo. Por alguém que podia ser eu e que, involuntariamente, carregava os meus desejos de puto.

Fui para a escola. Andei ao soco duas vezes, em resposta a piadas com cadeiras de rodas e afins, mandadas por amigos lampiões. Marquei a minha posição. E passei o resto da tarde sozinho, num “poli” cheio de gente, sem paciência para o que quer fosse, magicando sobre o que fazemos com as nossas oportunidades e sobre a forma como conduzimos a nossa vida. Não me recordo que nota tive no teste. Mas tenho a certeza que, então como agora, concordava com o que Serguei Cherbakov afirma, com aquele sorriso que nunca mudou: «Claro que perdi muito e penso que, se tivesse continuado a jogar e não tivesse tido aquele acidente, ganharia a Bola de Ouro, de certeza absoluta!»