quirogaFacundo Quiroga passou cinco anos de leão ao peito (de 1998/99 a 1999/2000 e de 2001/02 a 2003/04, participou nos últimos dois campeonatos conquistados pelos leões e nunca esqueceu o Sporting, que guarda fundo no seu coração. Agora, no ocaso da carreira, vê com esperança o ressurgir de um emblema que espera reencontrar no futuro, desejando que alcance o topo da hierarquia do futebol luso. (por Frederico del Rio, in O Jogo)

Está a par do que se passa no Sporting?
Sempre reparo nisso, foram muitos anos lá. Estou a par da atualidade da equipa, gosto de ver os jogos que dão na televisão.

Acredita que pode romper a hegemonia de FC Porto e Benfica nos últimos anos?
Espero que sim. Obviamente é um clube grande que aponta a coisas grandes, como a Champions, mas parece-me que depois da minha passagem houve uma quebra nessa linha… Nos últimos anos mudou e o Sporting passou a ser o terceiro dos grandes, e é uma equipa que merece ser o primeiro, não o terceiro. Será também por questões futebolísticas, são ciclos. Cons- troem-se plantéis e às vezes as coisas não saem como se pretende. Houve períodos de mudanças que nos grandes provocam isso: passar de ser protagonista durante muito tempo a estar encolhido durante uns anos para agora poder renascer. E creio que foi isso que aconteceu nosúltimos tempos. Tem bons jogadores e pode ressurgir agora. Não só pela estrutura desportiva, também pelas pessoas e pelo que é o clube, um dos mais conhecidos do mundo.

Tem guardadas camisolas do Sporting?
Pufff… muitíssimas! De todas as cores, de todos os anos em que joguei no clube, e dos adversários.

Qual foi a melhor equipa que integrou?
Não sei… Creio que uma das melhores foi a de João Pinto, Sá Pinto, Beto Acosta. Um “equipazo”. O guarda-redes era o Tiago, também estava o Beto, um central impressionante com o qual tinha uma grande relação. Essa era uma grande equipa e o Sporting deu-me a possibilidade de jogar com jogadores emblemáticos. Joguei com Quaresma, com Cristiano Ronaldo…

Como era Ronaldo quando o conheceu?
Era um miúdo normal, muito introvertido, meio tímido. Via-se quando agarrava a bola que tinha algo de diferente.

[…]

Como define o Sporting na sua vida?
Foi importantíssimo. Aconteceu algo especial com o Sporting e comigo. Fui para lá muito jovem, foi um clube que confiou muito nas minhas qualidades. Tinha 18 anos e, poucos meses depois de começar a minha carreira no Sporting, tive uma lesão grave, uma rotura do ligamento cruzado anterior. Estava por empréstimo com opção de compra e, no exato momento em que me lesiono e me operam, os dirigentes propuseram- me fazer uso da opção e renovar por mais dois anos. Devo-lhes muito, parte da minha carreira futebolística. Não é uma coisa menor ter estado lá quase cinco anos e jogar a Liga dos Campeões, a Taça UEFA e a Taça de Portugal. Ganhar a Taça foi importante. Cheguei à seleção a jogar no Sporting, por isso vê o que eu não devo ao clube! Não sei se teria chegado onde cheguei, seja muito ou pouco, se não tivesse estado no Sporting. Foi como a minha casa.

Lembra-se de como surgiu a possibilidade?
Sim, estava borrado de medo. Lembro-me de pedir ao meu representante que me avisasse com tempo para dar a notícia à família e prepará-los, mas transferiu-me de um dia para o outro. Mais, não me lembro porquê, não era um jogador estrela, mas havia grande expectativa e lembro-me que tive de ficar escondido um dia no hotel. Escondido porque ora assinávamos, ora não assinávamos. Imagine, eu, um puto, fechado, com um medo terrível. Imaginava que o português era um idioma totalmente diferente e afinal não, foi o mais parecido que tive em toda a carreira com a minha vida na Argentina.

Foram bons tempos
Sim. Estive quase cinco anos em Lisboa. Sempre tive a esperança de voltar ao Sporting em algum momento da minha carreira e poder continuar a ajudar ou estar ligado ao clube. Passaram muitos anos e mudaram as Direções, pelo que nunca se proporcionou.