Permitam-me começar esta crónica, cuspindo o sapo que tenho entalado na garganta: há uma, há duas, há três e, à terceira, um gajo farta-se de vez! Primeiro, o «não vi» do Xistra, depois o «vi o que me apeteceu» do Mota, agora o «fiz de conta que não vi e ainda passo por simpático por não dar o segundo amarelo ao Montero» do Proença. Três jogos em que a equipa apresenta maiores dificuldades de construção de jogo, três jogos em que há erros gritantes de arbitragem! E, peço desculpa, não me venham dizer que se um gajo joga menos bem não se pode queixar da arbitragem. Esta noite, e quem tiver as imagens que mas envie, ficou um penalti claro por marcar sobre o Montero! Faltavam 20 minutos para o jogo acabar, mais coisa menos coisa.

E este foi o momento chave de um jogo em que o Leão se viu metido num funil. E porquê? Porque não teve alas. Carrillo, um zero. Wilson, outro zero. Capel nem chegou a entrar no ritmo de jogo, tal como Mané. E, mais do que a questão do número 10 – que também faltou esta noite, onde faltou alguém capaz de mostrar que levava uma roupa catita sob o fato macaco –, este pormenor das alas é preocupante, pois condiciona todo o nosso futebol. É fácil dizer ou escrever que Montero não marca, mas sem umas alas a 70% não há bolas que lhe cheguem (ou, se preferirem, que bola teve Slimani – belíssimos pormenores entre os centrais – para utilizar o seu jogo aéreo?)
Se me perguntarem o que é que eu reforçava, eu respondo «as alas». Sim, precisamos de extremos! Vejamos: Mané nem sei se é extremo; Salomão é uma semi-opção; Capel devia jogar sempre, mas é um jogador inconstante. Carrillo não quer (desculpa, rapaz, hoje conseguiste destruir a minha tolerância). Wilson é confrangedor no 1×1 e incapaz de ir à linha (o trabalho dele está feito, meia dúzia de assistências, três ou quatro golos, ainda assim bem mais válido do que os milhões torrados em Jeffrens e companhia).

Isto leva-nos a outra questão: «foda-se, temos um plantel curto para lutarmos pelo título!». Mas alguém vos disse que íamos lutar pelo título? Nós acreditamos nisso? Obviamente que sim! Os jogadores acreditam nisso? Obviamente que sim! Mas não comecem com tensões pré menstruais e depressões de cada vez que embatem com a realidade. E que realidade é essa? Estamos a recomeçar, quase do zero, depois de ter batido no fundo. Estamos a recomeçar, quase do zero, depois de ter batido no fundo e ter assumido que não há margem para gastar dinheiro. Estamos a recomeçar, quase do zero, depois de ter batido no fundo, de ter assumido que não há margem para gastar dinheiro e que a aposta passa pela nossa formação. Estamos a recomeçar, quase do zero, depois de ter batido no fundo, de ter assumido que não há margem para gastar dinheiro, que a aposta passa pela nossa formação e em movimentos de mercado com diminuta margem de manobra.
E, pese todas as condicionantes, conseguimos sacudir o estrangulamento financeiro, fazer frente a golpadas de empresários, ir buscar um treinador (finalmente), descobrir um craque nos states, recrutar um belíssimo defesa esquerdo, inventar um central numa segunda divisão brasileira, sacar um paraguaio que faz os dois lados defensivos com acerto, surpreender com um joker argelino e apresentar sete jogadores da nossa formação entre as principais opções, sendo três deles figuras deste campeonato (e, se a lógica imperar, da selecção nacional). Resumidamente, voltámos a ser respeitados pelos adversários e, sim, continuamos a lutar, todas as semanas, pelos três pontos. Se, no final, seremos quem mais soma, não sei. Sei que a minha fé continua intacta. E que, para já, quero que me resolvam o problema do funil.

 

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