É sempre questionável a eleição do «melhor jogador do mundo». Talvez fizesse mais sentido chamar-lhe «o jogador que mais se destacou ao longo de…», abrindo mais espaço, por exemplo, à eleição de um guarda-redes. Mas esta questão do melhor do mundo levou-me a um exercício mental sobre os grandes jogadores que vi jogar e que decidi guardar e publicar mesmo em cima da entrega da Bola de Ouro deste ano.

Não vi nenhum dos Cinco Violinos, nem vi Yazalde ou Azevedo. Também não vi Pelé, Garrincha, Eusébio, Di Stefano, Kempes, Masopust, Rivelino, Figueroa, Best, Puskás, Banks, Keegan, Rummenigge, Bobby Charlton, Cruyff, Beckenbauer, Cubillas, Passarella, Dalglish, Yashin… Fazem parte de memórias criadas a partir de resumos televisivos, muitos deles a preto e branco, que aumentaram a minha paixão pelo futebol.

Mas tive a sorte de ver muitos outros (e, atenção, vamos deixar os craques leoninos por razões óbvias). O nosso Balakov é figura obrigatória numa lista onde cabem Maradona (que grande cueca levaste do Douglas, ó Dieguito), Batistuta ou Zanetti, o bigodes Schumacher e os monstros Oliver Kahn e Peter Schmeichel (que orgulho, vê-lo de Leão ao peito), Luís Figo e Paulo Sousa, Redondo e Matthäus, Baresi, Maldini e Baggio, Jean-Marie Pfaff e Rinat Dasayev, os laranjas Marco van Basten, Dennis Bergkamp, Ruud Gullit e Frank Rijkaard, o grande Boniek e os não mais pequenos Hagi ou Stoichkov, os lendários jugoslavos Suker, Stojkovic, Stojanovic, Prosinecki, Savicevic e Pancev (daí ter sido tão fã do Ivkovic), o fenómeno Ronaldo e os seus compatriotas Sócrates, Zico, Falcão, Rivaldo, Ronaldinho e Romário, os manos Laudrup, os blancos Emilio Butragueño e Hugo Sánchez (bem secundados, mais recentemente, por Raul), os temíveis Weah e Thierry Henry, o incontornável Eric Cantona e o intratável Zlatan Ibrahimovic, os elegantes Enzo Francescoli e Andriy Shevchenko, o louco Higuita e o folclórico Valderrama, o pensadores Schuster, Nakata e Okocha, o bailarino Roger Milla e o Alessandro “eu não envelheço” Del Peiro, os franceses Platini, Zidane e Papin, o pequeno grande Messi e o seu colega Iniesta, o pé esquerdo do cabrão do Futre e o pé esquerdo do intemporal Giggs, o capitão Francesco «eu tenho amor à camisola» Totti e o pé direito teleguiado do Beckham… e termino a lista (que podia continuar mais um pouco) com um tal de Duckadam que entra na minha história do futebol depois de defender quatro penáltis na final de uma Taça dos Campeões, frente ao Barça.

E, depois, Ronaldo. O Cristiano. Cristiano nasceu para ser jogador de futebol, mas, parece-me, ao contrário da maioria dos nomes acima, quis ser mais do que isso: quis ser um superatleta. Trabalhou e continua a trabalhar nesse sentido. E é isso que ele é. A sua fisionomia não auguraria uma mistura de velocidade e técnica como a sua, mas ele contrariou tudo isso e joga a um ritmo que poucos acompanham. O direito é o seu pé, mas quem o vê rematar com o esquerdo questiona essa escolha natural. Salta tão ou mais alto do que os melhores cabeceadores (e cabeceia melhor do que muitos deles). Marca livres de forma única e assume as despesas do jogo quando assim tem que ser.
Sinceramente, estou-me a cagar para o quão irritante ele pode ser fora de campo, para os tiques ou para uma arrogância que, confesso, me parece justificada em certos momentos. Isso até podia levar-nos a falar sobre a forma como os jogadores se têm vindo a transformar, cada vez mais, em estrelas pop e na forma como numa sociedade em que o seu nome é o mais procurado na internet, CR consegue manter os níveis de concentração e, ano após ano, desafiar-se a ele mesmo rumo a novos objetivos. Deixemos, portanto, esse lado social. Estamos a falar de futebol. E assim sendo,  independentemente do que venha a ser decidido daqui a pouco, na atribuição da Bola de Ouro, posso dizer que Cristiano Ronaldo é o jogador mais impressionante e completo que vi em campo até hoje!