Foi uma animação na cozinha, com a Maria Ribeiro e a mbc a cozinharem quase em simultâneo. Dois pratos, temperados com mestria com os assuntos mais actuais, servidos, em virtude do jogo desta noite, em modo de degustação. Façam o favor de empanturrar-se (com estilo)!

 

cristiano-ronaldo-sporting-lisbonCR7 E A FORMAÇÃO, by Maria Ribeiro
Ouvi muitas vezes falar de grandes nomes. O meu avô contava-nos sobre os Cinco homens que davam música, altura que fez do Sporting o maior dos clubes nacionais. Depois o tal Yazalde, que nunca ninguém iria bater o número de golos. Pelo meio lendas do Sportinguismo, como Vítor Damas ou Duscher. Balakov e Cherbakov, seguidos do “nosso” Luís Figo (que nos ficou a dever umas quantas).

Fico feliz por assistir à era “Cristiano Ronaldo” e de saber que também eu um dia vou olhar com saudade enquanto conto aos meus filhos: “ele usou a verde e branca, na altura já sabíamos… ele ia ser grande. Só não imaginávamos que seria o melhor português de sempre, mas sabíamos que seria enorme. Foi com tristeza que o vimos ir para Inglaterra, mas nunca nos esqueceu. Até no ano que ganhou a segunda bola de Ouro, disse que faltava ser campeão pelo Sporting”.
Espero  poder um dia completar esta fabulosa história, com o relato de como Portugal foi campeão do Mundo e ele o melhor marcador, depois vencemos o Europeu seguinte e, quando regressou ao Sporting, fomos tri-campeões , vencemos duas Taças e uma Liga Europa (para não abusar e dizer logo Champions).

Formar não é só fazer grandes jogadores ou grandes homens, com todas as dicotomias que apresentam as duas formações distintas, é também endeusar e embelezar o que é nosso. Muitos dos nossos rivais dizem que o sportinguista mal vê algum miúdo dar um chuto numa bola, vê logo o novo Cristiano Ronaldo. Pois bem meus amigos, vocês já viram o nosso termo de comparação? É o melhor do mundo, fomos nós que o vimos crescer, que batemos palmas ao magrinho que fintava com o diabo no corpo. Esse é o nosso Cristiano, este agora é o do Mundo.

Endeusar e embelezar faz parte da arte de ser sportinguista, levamos os nossos ídolos muito a sério, levamos os nossos juniores como verdadeiros homens, que nos enchem de esperança, assistimos a uma jogada da equipa B e pensamos para nós: “Porra, quando estes miúdos chegarem à equipa principal… uiii aí é que vai ser”. Muitas vezes não acontece, tornam-se jogadores normais (quem não se lembra de Ranato Neto nos juniores, uma máquina). Mas durante aqueles anos, foram acarinhados como mais ninguém e tiveram uma enorme responsabilidade nos ombros.

Podemos também lembrar que esse nosso “exagero” em relação ao que é nosso e feito em Alcochete nos deu algumas desilusões: Moutinho, Carlos Martins, Simão e, mais recente, Bruma e Ilori. Mas pensemos também que enchemos miúdos de esperança e, quando deixaram de servir, as sucessivas direcções descartavam por não fazerem parte “do projecto desportivo”. Exemplos como Amido Baldé, que a humildade e amor ao clube o levou a dizer que torceria até ao fim da vida pelo Sporting, Bruno Pereirinha (não era um estrondo mas não é ligeiramente superior a Magrão? É que faz as mesmas posições..) que jogou um jogo de braço partido apenas para nos ver despachar o City, Diogo Viana, tem lugar neste Sporting, e segue para o Porto para recebermos o Postiga.
A culpa não é dos adeptos, claro, mas sim do que o clube está disposto a oferecer aos seus atletas e definir qual o projecto para quem gosta de jogar por nós.

Gosto da nossa formação, gosto de ver os jogos dos mais novos e rio-me quando oiço “não, agora o Benfica é que tem os melhores jogadores”. Penso para mim, o Betinho vai desfazer esse Cavaleiro ao meio. Isso é ser sportinguista, os nossos são os melhores os outros são coitados, os nossos serão candidatos à Bola de Ouro, merecem quase todos ir à Selecção, são superiores a tudo. E enquanto honrarem aquela camisola e se lembrarem de quem os formou e lhes deu a carreira, serão acarinhados como ninguém.
Nani pode regressar, dizem os jornais. Rui Patrício, Cédric Soares, Eric Dier, Rúben Semedo, Adrien Silva, André Martins, William Carvalho, Carlos Mané, Wilson Eduardo já representaram o Sporting este ano. Com a possibilidade de chagar Nani, estrear Iuri (a dez, like a boss) e utilizar o nosso Betinho podemos chegar aos 12 (Esgaio vai emprestado).

Eu acredito Sporting, agora mais que nunca!

 

adrienestorilESTAREMOS A EXIGIR DEMAIS?, by mbc
“Anda lá! Se ganharmos este jogo somos campeões!” Foi mais ou menos este o conteúdo da sms que enviei a um amigo, dias antes do Estoril-Sporting.
Ele estava a organizar uma noite de futebol em casa para ver o grande, desviando um grupo considerável de sportinguistas da Amoreira para o sofá. Estava convicta daquilo que lhe escrevera. Acreditava que, se o Sporting conseguisse vencer no campo da equipa que, a seguir a nós, melhor futebol pratica neste momento – conseguindo, com isso, obter vantagem sobre o Porto, o Benfica ou os dois – ganharia uma confiança e um embalo que nos levaria, todos, a festejar em Maio.

Porque é destes momentos e deste aproveitamento de oportunidades que também vivem os campeões. Ciente, portanto, da importância do jogo, mas nem por isso especialmente confiante no resultado (estava com um mau feeling, acentuado pela nomeação do Proença), lá segui para a Amoreira. Por entre as muitas bandeiras das claques, que se agitavam mesmo à minha frente, fui vendo a nossa equipa fazer uma exibição fraquinha.
Para ser justa, o Estoril também fez uma exibição fraquinha. As duas equipas anularam-se bem, jogaram muito a meio-campo e criaram poucas oportunidades de golo. O que ia satisfazendo o Estoril e enervando a única equipa que, mesmo com pouca chama, quis ganhar. Embarcámos na estratégia canarinha e não fomos capazes de nos desenvencilhar da teia que nos montaram. Não conseguimos circular a bola no meio campo, como tão bem costumamos fazer, o William e o Adrien tiveram muito mais trabalho do que o habitual e as alas, fulcrais no nosso processo de jogo, não existiram. Carrillo podia e não queria; Capel queria e não podia; Wilson não podia tanto como o Carrillo nem queria tanto como o Capel. Montero, tristonho, sem bola e sem alegria, não se conseguia movimentar e nem sequer chegava a falhar oportunidades – porque simplesmente não as tinha.

O grande problema é que, em jogos equilibrados, com treinadores que nos sabem ler bem (como é o caso do Marco Silva), ou temos jogadores que são capazes de, individualmente, desequilibrar, ou, por vezes, a organização colectiva não chega. Tínhamos que rematar muito e criar muitas oportunidades. Tínhamos de ser criativos. Mas nada disso aconteceu. E assim é difícil ganhar.

Mas o protagonista do jogo, ao invés de William, Montero, Patrício, Adrien ou Slim, haveria de ser outro. You guessed it! – o sorridente Proença. Quando o vi, ainda durante o aquecimento, a exibir a dentadura irritantemente branca às claques do Sporting, em resposta a uma provocação, percebi logo ao que vinha.
Sobre o lance do Montero não me vou alongar muito porque, verdade verdadinha, não acho que tenha sido escandaloso. Há um contacto, sim, e um aproveitamento. Poderia – e possivelmente deveria – ter sido penálti, mas não devemos colocar este lance no mesmo plano do golo anulado ao Slimani ou do “não vi” do Xistra, contra o Rio Ave, sob pena de descredibilizarmos as nossas (legítimas) queixas.
O que é verdadeiramente vergonhoso é que Proença, aquele moço simpático que deu abracinhos ao Vítor Pereira e, recentemente, disse que Duarte Gomes fez uma grande arbitragem no derby que nos arrancou a ferros da Taça de Portugal, deu uma grande lição de como viciar um jogo sem dar muito nas vistas. Colocou o jogo em ponto morto, parando-o constantemente. Ora para marcar faltas idiotas, ora para explicar as regras, em tom doutoral, aos intervenientes do jogo, ora para atravessar o campo a passo e obrigar um jogador do Sporting a colocar a bola escassos centímetros ao lado para a marcação de um livre, ora para deixar que jogadores do Estoril fossem assistidos em campo durante uma eternidade.
Tudo somado, o jogo não teve mais de 45 minutos de futebol jogado – e, mesmo esses, sempre com solavancos. E Pedro Proença – o lampião a quem os lampiões deram a possibilidade de trocar a dentadura – fazia mais anti-jogo que o próprio Estoril. Talvez seja o melhor árbitro do mundo – mas de um mundo em que Portugal não faz parte do mapa.

Terminado o jogo e, por todas as razões enumeradas – as condicionantes do apito e a nossa fraca exibição num jogo em que tínhamos de ganhar – uma pergunta martelava-me na cabeça, enquanto via os jogadores, pesarosos, a caminho do balneário: “estaremos a exigir demais?” O arranque impetuoso e inesperado no campeonato fez-nos sair da realidade (e a realidade é que estamos no ano zero, em clara fase de construção, e que ainda somos desrespeitados pelas instâncias que mandam no futebol). Começámos a sonhar com o título já esta época. A equipa, com as sua solidariedade, qualidade e ambição, foi dando corda aos nossos desejos que, num plano emocional, não se situam no terceiro lugar nem no acesso à Champions. Estando nós em segundo lugar (e tendo estado já em primeiro), é um contra-senso lutar para ser terceiro e assumir que o ‘downgrade’ é opção.
Mas seremos capazes? Deixar-nos-ão? É pedir demais?

Aguardo pelos próximos capítulos – ou seja, pelos próximos jogos (um deles já hoje) – para perceber com mais clareza se, com o nosso entusiasmo, estamos ou não a exigir demais à nossa equipa. Mas estou serena. Serena como há muito não estava. Temos um presidente, um projecto, um treinador, uma equipa e adeptos de dentes cerrados. E vamos lutar, todos juntos. Até porque isto ainda agora está a começar.

 

* duas cozinheiras, dois temperos. O toque de Leoa, dado pela Maria Ribeiro e pela mbc. Às terças, na Tasca do Cherba.