adrienmartinsOs dados sobre a utilização de jogadores nos campeonatos europeus, revelados esta semana pelo estudo anual do Observatório do Futebol/CIES, são… limpinhos, limpinhos. Tão limpinhos, que nem um tal de Luís Sobral e o seu MaisFutebol resistiram a fazer um bom resumo do documento (e, imagine-se, o Record, chefiado por um senhor que assina uma coluna de opinião intitulada “olho de falcão”, dá capa ao assunto).

Então, vamos a números porque há pessoal que não pode viver sem eles:
#. Os clubes com mais jogadores formados a competir nos campeonatos analisados: Ajax (69), Partizan (66), Barcelona (61), SPORTING (52), Hajduk (52), Estrela Vermelha (50), Sparta Praga (46), Real Madrid (46), Dinamo Zagreb (45), Feyenoord (44), Dinamo Kiev (44), MTK (43), Shakhtar (43), Dinamo Minsk (41), Osijek (41), Slavia Praga (39), Levski Praga (37), fcPorto (37), Arsenal (36) e Bayern Munique (36). O Benfica (32) não aparece nos 20 primeiros.
#. Portugal tem apenas 12 por cento jogadores oriundos das escolas dos clubes a representar as equipas principais, o quarto registo mais baixo entre os 31 campeonatos analisados por este estudo, à frente apenas da Rússia, Turquia e Itália.
#. Só há três clubes da Liga acima da média europeia (21,2 por cento): Sporting (33 por cento), Marítimo (28) e V. Guimarães (23,1). No outro extremo estão Olhanense e Arouca, com zero jogadores formados. O Benfica tem 6,9 por cento e o FC Porto 4,2 por cento.
#. Entre os 31 campeonatos analisados, o FC Porto ocupa o segundo lugar em absoluto, com 83,3 por cento de estrangeiros, atrás apenas dos italianos do Inter (88.9). O Benfica é oitavo (79.3).
#. A Liga portuguesa continua a estar no «top 5» no que diz respeito a jogadores estrangeiros.
# Portugal é o sexto maior exportador de jogadores. Os portugueses vão sobretudo para Chipre, Roménia, Grécia e clubes médios em Espanha. Os lugares deixados vagos não estão a ser ocupados por jovens, mas por estrangeiros (quantos deles de qualidade sofrível)

E escreve o águia Sobral:
[…] Em Portugal, FC Porto e Benfica escolheram o caminho do negócio. Procuram futebolistas relativamente novos, no estrangeiro, e tentam vendê-los dois ou três anos mais tarde. Os dois clubes mantêm relações próximas com fundos de investimento, que ficam com percentagens relevantes dos melhores jogadores. No meio do turbilhão de entradas e saídas, os jogadores da casa raramente dispõem de espaço e tempo. Como ambos os clubes marcam presença constante na Liga dos Campeões, o modelo não sofre alterações nem é contestado pelos adeptos. Sobrevive à crise e a uma ou outra mudança de treinador.
[…] O Sporting é o clube grande que mais espaço dedica aos jogadores formados. O estudo reflete esse ponto. O produto Sporting é apreciado em Alvalade e em outros clubes. Foi com uma mistura inteligente entre formação e estrangeiros mais velhos que o Sporting viveu o último período de estabilidade, com Paulo Bento no banco. Nesse tempo manteve-se perto da Liga dos Campeões e discutiu quase sempre o título, Na altura parecia pouco, logo se percebeu que era a base para a estabilidade. O regresso à tranquilidade está a ser conseguido a partir da mesma receita.
Os clubes têm toda a legitimidade para escolher o melhor caminho, mas discordo dos que afirmam que não é possível ter sucesso a partir de uma formação forte. E nem preciso de citar os exemplos de Barcelona (16 da formação na equipa principal), Arsenal (10) ou Real Madrid (7). Basta olhar para o Ajax (12), que domina o futebol holandês a partir da sua famosa escola.
Como o Sporting está a demonstrar esta época, competir com os melhores não tem a ver com os milhões investidos. Ou pelo menos não tem a ver apenas com isso. Felizmente para o futebol, ganhar ainda depende muito de saber manter uma linha coerente, ter uma equipa técnica competente e verdadeiramente alinhada com a estrutura do clube (não chega escrevê-lo na capa de um jornal…) e um conjunto de jogadores equilibrado e focado. Está por provar que o caminho da formação é incapaz de ganhar títulos e gerar equilíbrio financeiro.»

 

p.s. (nota da Tasca): entretanto, parece que o Esgaio é o senhor que se segue a ser entregue aos cuidados de Leonardo Jardim.