Já sabemos, estas derrotas custam mais do que as outras. Ainda para mais, quando não estamos habituados a perder jogos. Bem vistas as coisas, esta foi a nossa segunda derrota no campeonato e é, precisamente por aqui, que podemos começar: as nossas duas derrotas são frente aos dois rivais, jogando em sua casa. Em ambas, parece-me, há dois factores determinantes: erros próprios gritantes (o penalti que resulta no primeiro golo, no dragão, e, hoje, a forma patética como depois de termos recuperado a bola a perdemos e permitimos que o adversário chegue ao 2-0 e mate o jogo, por exemplo) e uma espécie de bloco de cimento atado às pernas da maioria dos jogadores (pior, ainda, quando isso acontece com jogadores nucleares como Adrien, hoje um verdadeiro órfão com a ausência de William).

Podemos falar em falta de estofo? Talvez (até porque isso não se notou nos jogos a contar para as taças). É verdade, ninguém nos disse que estávamos a jogar para o título. Mas isso não invalida que, fruto dos resultados conseguidos, esta equipa, em formação, tenha ganho o direito a bater-se por ele até final (sim, acredito nisso), daí que a frustração saia ampliada depois de vermos a forma como respondemos a um jogo que nos podia embalar para uma tão desejada conquista.
Entrámos mal, muito mal. Apáticos, sem chama, totalmente ao contrário do que o treinador tinha pedido e anunciado, permitindo ao adversário trocar a bola e ir criando situações de golo. E apenas por uma vez, durante os primeiros 45 minutos, fomos capazes de fazer aquilo que, pareceu-me, era uma das estratégias da alteração táctica: Slimani ganha em antecipação uma bola directa, enviada da defesa; Montero, entretanto recuado, recebe do argelino e, com classe, lança a velocidade de Heldon nas costas da defesa.
Aproveito para falar de Heldon, a quem a verde e branca pesou toneladas na estreia, mas que, com o passar do tempo, se foi habituando ao peso. Tanto que foi sua a iniciativa que nos deu a melhor oportunidade de golo (jogada inventada e concluída pelo cabo-verdiano), já na segunda parte, e foi pelo seu lado que, em igual período, nasceu um cruzamento em que Slimani falha na bola e Magrão, logo de seguida, remata contra o pé de um defesa. E, já agora, aproveito para falar em Magrão, que, sinceramente, é rapaz para merecer tantas oportunidades como Vítor e que, tal como Mané, deu um exemplo de vontade a todos os outros.

E, olhando para os outros, foi impossível não sentir a falta de William e de Jefferson. Porque um é um monstro e o outro é realmente bom. E porque, como se provou hoje, a manta é curta. Piris fez-me ter reviver os tempos de Quim Berto e Dier confirmou aquilo que só não vêm quem não quer: é central e, já agora, dava jeito fazer uma época inteira a titular, mesmo que não seja no Sporting. André Martins não chegou a perceber o que era suposto fazer e talvez não tenha sido eu o único a pensar, ao olhar para o desenho táctico e para a ideia de Leonardo, que aquele lugar de falso ala, falso médio interior e falso extremo assentava que nem uma luva num tal de Esgaio.

Claro que tudo isto é simples de dizer e de analisar à posteriori. Claro que, agora, é fácil dizer que, praticamente, nem chegámos a entrar no jogo, que a alteração táctica foi uma merda, que o Leonardo resolveu inventar, que o William não podia ter jogado com a Académica, que isto e que aquilo. A verdade é que, há dois dias, estávamos a aplaudir o arrojo táctico e a vontade de ir para cima do adversário. Essa vontade não se materializou, muito por demérito nosso.
Resultado? Estamos a cinco pontos do primeiro e a um do segundo. E basta-nos ganhar os jogos que temos em casa para confirmar o objectivo assumido: a champions. Se eu acredito em mais? Isso não é pergunta que se faça. Saibamos nós voltar a encarnar o papel de underdog que nos trouxe até aqui e tenhamos nós a sorte de não nos roubarem à descarada como contra Rio Ave, Nacional e Académica. Se isso acontecer, lá para o final de Março, somos bem capazes de já nem nos lembrarmos do quão frustrante foi esta noite.