Para além da irritação que me causaram certos comportamentos durante o jogo de sábado, tive curiosidade em ter uma ideia de como jogaram os nossos principais adversários antes de escrever esta crónica. E, pelo menos para mim, a verdade é que, nas vitórias alcançadas, ontem, nenhum deles mostrou mais futebol do que aquele que o Sporting mostrou. Curiosamente, e não é necessário ser muito inteligente para perceber isso, aposto que muitos dos que se indignaram com a vitória por 1-0 são capazes de elogiar o que slb e fcp fizeram. Mas adiante.

Frente a um Olhanense que teve a decência de não se enfiar no seu meio-campo, o Sporting fez uma belíssima primeira parte, fazendo esquecer o frio que cortava umas bancadas mais despidas do que o habitual (aproveito para sublinhar que se estavam 29 mil pessoas, frente ao Arouca estiveram, pelo menos, 40 mil, numa tarde de sol em que os torniquetes fritaram e milhares de entradas não foram contabilizadas).
Em dia de aniversário de Rui Patrício, que soube descongelar com estilo sempre que foi chamado a intervir, Fredy Montero ofereceu uma exibição de luxo, bem secundado por Mané ao longo dos primeiros 45 minutos. William Carvalho mostrou-nos, a todos, o Fera Humana que é, e Adrien o quanto sentiu a ausência do companheiro Carvalho no dérbi de terça-feira. O golo do jovem extremo, depois de fantástico trabalho do avançado colombiano, soube a pouco para as oportunidades criadas e para o futebol praticado, mas a verdade é que o Sporting não marcou apenas uma vez (façam o favor de anotar no bloco mas uma decisão de arbitragem a prejudicar os verde e brancos).

Ao intervalo, animado pelas provocações do árbitro auxiliar às claques leoninas (parece que não houve quem tivesse conseguido filmar o momento, incluindo sporttv), seguiu-se uma diminuição de ritmo, da pressão e da qualidade de jogo. Os extremos foram perdendo gás (e Wilson entrou já com o tanque vazio) e as alas só voltaram a animar quando Cédric começou a fazer piscinas, à direita, e Carrillo resolveu abrir o livro, do lado contrário (que pena aquela bola no poste, no que seria, muito provavelmente, o golo do ano). André Martins perdia-se no jogo e começava a ser o alvo preferido do descontentamento de alguns adeptos. E, no geral, a equipa parecia dividida entre a vontade de atacar e o receio de poder sofrer um golo que transformaria os três pontos em mais um empate caseiro (onde, à semelhança do que aconteceu com Rio Ave, Nacional e Académica, voltaríamos a ter uma decisão errada da equipa de arbitragem como o caso da semana).

Da impaciência dos adeptos, aos quais bastou perder um dérbi para passarmos de bestiais e bestas, começaram a surgir assobios e manifestações de desagrado, inclusivamente para Montero, depois deste ter tentado procurar uma brecha para rematar no meio de quatro ou cinco adversários. A imensamente tardia entrada de Slimani, ainda agitou as bancadas, mas o momento em que o argelino corre para a baliza e esmaga o seu adversário, numa luta corpo a corpo, já não foi visto por centenas de adeptos que adoram abandonar o estádio antes do apito final. Muitos deles, ansiosos por chegar a casa e poderem contar, orgulhosos, «querida, assobiei aos miúdos!».