Uma futebol é uma montanha russa desgovernada e é por isso que gostamos tanto dele. O futebol transforma a nossa irritação, estado de alma ao intervalo, num grito que ameaça a saúde das cordas vocais e nos faz esquecer que, à conta dos nervos, envelhecemos mais uns dias.

Pouco importa, agora, que tenhamos feito uma primeira parte miserável. Pouco importa, agora, que milhares de Sportinguistas tenham passado minutos e minutos a exclamar «mete o Slimani!», «mete o Mané!», «mete o Carrillo!» (no caso deste último, pelo menos eu fartei-me de pedir a sua entrada). Pouco importa, agora, que se tenha insistido em soluções que já o foram, mas que, pelo menos de momento, não o são e nada acrescentam à equipa. Pouco importam, agora, as incontáveis críticas que, como que por magia (lá está, o futebol), se transformaram em largados sorrisos e em elogios.

Eu percebo quando me dizem que existem poucas alternativas no banco e que, sabendo disso, não podemos ir a jogo com todos os que têm sido solução. É um ponto de vista. Acontece, e há anos que o defendo, que eu sou de opinião que devem jogar os melhores (ou os que estão melhor, se preferirem) e que os jogos devem tentar ganhar-se de início e o mais rapidamente possível. E, mostram os últimos dois meses e meio, estamos mais perto de ganhar jogos com o desenho táctico que tem servido, muitas vezes em desespero, para virá-los e ganhá-los (e, atenção, o dérbi não conta. Querer aproveitar a presença de Slimani na área só com um extremo e sem centros, é a mesma que convidar a Monica Bellucci para jantar e esquecermo-nos da carteira em casa).

Para a semana, por força dos amarelos a Montero e a Adrien (o árbitro esqueceu-se do Maurício e roçou o pornográfico a forma como ignorou duas faltas do William para amarelo, deixando bem claro que tinha os alvo pré-definidos), voltaremos a entrar com o plano A e teremos um plano B improvisado. Depois, muito provavelmente, voltará tudo ao normal. Não me peçam para concordar com isto, o que não significa que esteja minimamente a colocar em causa as opções de Leonardo Jardim. Não é por dizer «o homem é que sabe e por mim está bem o que ele decidir», que sou mais acérrimo defensor do nosso treinador.

Mas, no fundo, esta conversa resume-se a algo muito simples (e lá vem o futebol, novamente, trocar-nos as voltas): ganhámos. E bem, com 35 minutos de futebol de alta rotação. Nada mais importa quando pensamos que, em equipa, vencemos o mundo que ameaçava desabar sobre a cabeça de Maurício; que Dier foi King Eric; que Jefferson e Cédric fizeram 20 minutos finais com a frescura de quem estava a jogar há cinco; que Adrien recuou para o lado de Sir William e permitiu-nos vê-lo pegar no jogo e, com arrancadas em super slow motion, desbaratar por completo a organização adversária; que Montero enfrenta com classe a sua própria angústia e é um jogador fantástico; que Slimani é um verdadeiro terror para qualquer defesa quando bem servido (a forma como ganha espaço, no ar, no lance do golo é brutal); que Carrillo pode fazer parte da elite se assim quiser; e que Mané joga futebol com a alegria com que um miúdo corre atrás de uma bola.
Se calhar, como diz Cédric, isto assim tem mais sabor. Não admira que, depois de mais uma noite de nervos, este continue a ser o plano B do nosso contentamento.

slimané