Estou surpreendido por, só agora, estar a escrever sobre o meu jogador favorito no plantel do nosso Sporting. A verdade é que os últimos meses têm sido tão férteis em acontecimentos, o que me levou a adiar este texto. Pois bem, André: Não te faço esperar mais.
Para falar de André Martins, tenho de falar em 3 coisas em separado. Talento, Percurso e Compromisso com o clube.
Quanto ao talento, creio que é unânime a existência dele, o que nos divide é a forma ou a frequência com que este é apresentado. Há razões para isso mas é preciso querer ver. Abordarei isto mais á frente.
O percurso do jogador demonstra que nada lhe foi oferecido e que tudo foi construído a pulso, o que revela carácter e determinação, características que estão bem presentes na personalidade do jogador. Nunca deixou de acreditar e, apenas este ano se assumiu como titular (quase) indiscutível no Sporting. Com quase 24 anos, à semelhança do Adrien.
O compromisso com o clube é evidente, tendo em conta o seu sportinguismo sempre assumido sem receios e de forma pública.
Depois de uma primeira volta, onde o André foi fundamental principalmente na primeira metade, com golos, assistências e boas decisões dentro de campo, hoje estamos a jogar pior e não falta quem justifique esta quebra exibicional com o rendimento actual do médio português. E isto só não é totalmente mentira porque todos estão a render menos, objectivamente. Adrien está a voltar ao tempo em que se agarrava demasiado à bola, Montero não marca há 8 jogos, Heldon ainda não acrescenta nada, Wilson idem, Capel já nem conta….enfim, por esta ou aquela razão, estão todos a render menos, à excepção de Mané e Slimani, que em sentido inverso, elevaram o seu jogo e a sua influência dentro de campo. Um exemplo disto é o facto de na primeira volta termos conseguido começar a resolução dos jogos no seu início e agora andamos a dar primeiras partes de avanço. Isto não é um problema de um só jogador mas de todos, incluindo o André.
Voltando ao caso específico do André Martins, acho que ele está a ser mais vítima do que réu. Primeiro, começou a época a jogar numa posição que não é a sua, embora possa fazê-la (nº10). Não é culpa dele nem sequer do treinador, que nunca teve um verdadeiro 10 à sua disposição, tendo que recorrer ao jogador existente que mais se aproxima desse perfil. André Martins não tem golo suficiente para essa posição embora compense como a sua inteligência e visão de jogo. Não me esqueço que, se Montero se revelou o fenómeno que todos presenciámos na primeira volta, em muito se deve à “sociedade com o André Martins”, o único jogador capaz de combinar com qualquer outro, devido à tal inteligência em campo que possui. Por isso, e isto é uma opinião pessoal, é que André Martins é um organizador de jogo e nunca um decisor. O médio não decide jogos mas ajuda a decidir. Porquê? Porque para alguém estar em posição de decidir (assistência ou finalização) é preciso o jogo “correr” de forma consistente, com estabilidade na circulação e qualidade no passe. É aqui que o rapaz entra. Se o extremo ganhou o corredor para cruzar para o golo, provavelmente foi porque alguém fez a abertura, se conseguimos estar durante muito tempo a dominar no meio campo adversário é porque alguém não perde a bola em posse e joga de forma simples e colectiva. Esse alguém tem sido Adrien e André Martins. E essas são as funções para que ambos estão talhados. Percebo quando dizem que com o André “jogamos com menos um”. É verdade. Para a posição que ocupa, o médio não decide. Não insiste no último passe e tem pouco golo. Mas, lá está, por isso é que ele não é um decisor. É um organizador. E provavelmente por causa disso é que fomos buscar o Shikabala (que é um decisor) e não contratámos outro médio centro (porque Adrien e André Martins são dois jogadores para a mesma posição).
Já tinha falado disto no Cacifo, o importante não são as posições. São as funções. Se, com bola, o André Martins tem a função de decidir os lances com passes de morte e finalizações, então o rapaz tem a função errada. Essa função adequa-se mais ao Montero (se jogarmos com 2 avançados, sendo o colombiano o mais recuado) ou até a Carrillo, que tem esse perfil apesar de não ser um 2º avançado de raiz. Acontece é que na função defensiva, o André Martins cumpre-a na perfeição, sendo o primeiro a pressionar e ajudando William e Adrien na recuperação de bola. Perdemos em acutilância ofensiva mas ganhamos em capacidade de ter bola e controlar os jogos. Acreditem no que vos digo, vamos ver magia do Shikabala mas também poderemos ver perdas de bola infantis e fussanços sem qualquer tipo de lógica. E esse “desequilíbrio”, o André não tem e por isso garante maior estabilidade nos processos, que o treinador tanto aprecia. Mais, a nossa pior exibição esta época (orc´s na pocilga) aconteceu porque fomos incapazes de ter bola e controlo do jogo. O facto de André Martins ter ficado no banco ajuda a justificar essa exibição.
Apesar disto tudo, o médio tem agarrado a oportunidade com as duas mãos. Sabendo que não está onde se sente mais confortável, está a dar tudo para “desenrascar” a 10. E, sejamos justos, conseguiu-o até certa altura. E por isso, acho muitas das críticas correctas, porque objectivamente o seu rendimento baixou, mas não totalmente justas porque nos esquecemos que não há mais ninguém para a posição, que ele está a desenrascar e que até foi fundamental na primeira metade da primeira volta, altura em que praticámos o melhor futebol que já exibimos esta época.
Para mim, se queremos ter um estilo de jogo baseado em posse e circulação de bola, André Martins é insubstituível. É o jogador, a par de William e Montero, que possui maior inteligência táctica para garantir esse estilo de jogo. Por isso acharei sempre um erro quando assumimos esta forma de jogar e deixamos um dos jogadores que melhor a interpreta no banco. Pelo menos até contratarmos ou promovermos outro que seja talhado para a função. Até lá, tenho total confiança no nosso camisola 8.
Assim sendo, se querem ir à loja do Mestre André à procura de golos do caralho, slaloms e magia, então estão a ir ao sítio errado. Mas, como sabemos, para construir uma boa casa, não é preciso só uma tinta jeitosa e uns acabamentos perfeitos. É preciso solidez na construção e eficiência no aproveitamento dos espaços. E isto temos de sobra na loja do Mestre André. E mais, se os jogadores mais cotados são vendáveis (William, Patrício, Mané), existem outros de menor cotação que podemos (e devemos) manter sob risco de perder identidade. André Martins e Adrien são dois deles. Tenho a certeza que ambos estão mais focados em fazer carreira no Sporting do que propriamente em ir para outro campeonato. E isso será fundamental no planeamento da próxima época e para a sua afirmação definitiva como os maiores talentos da sua geração.
Temos dois caminhos. O primeiro é acreditarmos que aquilo que que o médio produziu na primeira volta pode ser repetido. O segundo é cavarmos a sepultura de mais um menino que nós colocámos no mundo. Eu escolho o primeiro.
PS: Tenho pena que o André Martins tivesse integrado definitivamente a equipa na pior época de sempre. Tivesse ele a sorte de ser aposta séria a titular como o anão porco foi, ao lado de Rochemback, Barbosa, Sá Pinto e Liedson, tenho a certeza que hoje seria bem melhor jogador que o porco. E é aqui que tem estado um dos nossos erros do passado. Ou não construímos equipas com qualidade para suportar os jovens ou metemos os jovens talentos ao lado de cepos, acabando por queimá-los. Ou não renovamos com eles antes de os por a jogar, não é Go-Go e Ju-Ju?
* todas as sextas, directamente de Angola, Sá abandona o seu lugar cativo à mesa da Tasca e toma conta da cozinha!
1 Março, 2014 at 8:54
Concordo com tudo. Aliás, no tempo do Sá Pinto, o André era o 8 e o Adrien o 10… E neste tempo o André jogava muito.
Agora anda mais escondido devido à posição que ocupa mas é sem dúvida um jogador que faz lá muita muita falta.
Espero hoje vê lo na sua posição.
1 Março, 2014 at 11:43
Concordo com quase tudo, mas efectivamente (e falando apenas do André, o tema do post) o rendimento tem sido baixo comparado com o início da época.
E o meio campo ressente-se claramente disso. Tanto que qd tem saído melhoramos a produção.
Gosto dele, tem imensas qualidades, mas não me parece que tenha neste momento lugar no 11. Gostava de ter visto mais oportunidades ao Vitor.