Olá, Paulo. Espero que te encontres bem, nomeadamente das dores de costas que, sei, de tanto te vergares têm tudo para se tornarem crónicas. Não quero, de forma alguma, roubar muito do teu tempo, até porque deves estar a preparar a palestra em losango desta noite, frente aos Camarões, mas não ficaria de bem com a minha consciência (juro que não é uma indirecta) se não te transmitisse o que me vai na alma.

Primeiro, muito sinceramente, estás a conseguir dar a machadada final no que o teu antecessor começou: reduzir a minha ligação à selecção à vontade de ver meia dúzia de jogadores. Garanto-te que, se não fosse a presença dessa meia dúzia, dificilmente daria um minuto do meu tempo aos jogos daquela que, ironicamente, é apelidada de equipa de todos nós (nem na cor do equipamento o é…).
Segundo… Paulo, é vergonhoso o papel a que te prestas, bem exemplificado na tua mais recente convocatória. E a vergonha ganha outra amplitude, quando penso que já foste jogador de futebol e que terás exacta noção do que alguns jogadores devem sentir quando tu anuncias as tuas escolhas.

Aposto que, por esta altura, deves estar a fazer um dos teus 36 esgares, como quem pergunta o que é que eu quero dizer com isto.
Simples, Paulo. O que é que tu achas que sente o Cédric, defesa direito titular do Sporting, elemento incontornável daquela que, durante mais de 20 jornadas, foi a melhor defesa da Liga e com um trajecto feito de chamadas às selecções jovens, quando se vê pontapeado para fora da convocatória a favor de um Miguel Lopes que tem jogado bem menos? Já sei, achas que o Cédric não estranha porque, frente a Israel, em pleno Estádio José Alvalade, resolveste deixá-lo de fora e oferecer, de bandeja, a internacionalização a um tal de André Almeida (caso não te recordes, o que até é normal tendo em conta os favores que tens tido que fazer nos últimos tempos, é aquele paspalho que cortou uma bola com o braço dentro da área, no dérbi para a Taça de Portugal).
O que é que tu achas que sente o Adrien Silva, médio centro titular do Sporting, uma das figuras da Liga 13/14, quando, ostensivamente e consecutivamente, se vê fora de convocatórias onde cabem nomes como Ruben Micael (quem?), Josué (diz-me lá, ó Paulo, porque é que nunca o chamaste quando ele estava no Paços de Ferreira?) ou Ruben Amorim (que é suplente no seu clube)? Já sei, continuas a achar que o lugar do Adrien é a trinco (sim, tu insistias nisso quando estiveste a treinar o Sporting) e só por isso não o chamas, adivinhei?
Já agora, o que é que tu achas que sente o Carlos Mané, com trajecto mais do que consistente ao nível das camadas jovens e no Sporting B, actual titular na equipa principal do Sporting e uma das figuras em destaque na segunda volta da Liga, ao ver-te convocar um tal de Ivan Cavaleiro (quem?) e, pior, dando como justificação para essa convocatória argumentos patéticos?

Paulo, por mais que te esforces, já todos percebemos ao que vens. Infelizmente. É que, confesso, tive a secreta esperança que, naquele teu estilo de costa direita e risco ao meio e depois de teres defendido as cores de um clube que luta por dignificar a bola cá do burgo, fosses gajo para cortares com alguns dos males que rodeiam a selecção. Daqueles que fizeram com que Queirós não convocasse o Moutinho para o Mundial, estás a perceber? Mas, não, tu depressa nos mostraste que fica tudo em família quando se promovem jogadores de determinado(s) empresário(s) e de determinados clubes. Foi por isso que resolveste convocar Nélson “Alf” Oliveira ou que, depois de os dispensares do Sporting, deste por ti a achar que o Martins e o Varela são jogadores de selecção. E é por isso que, agora, te expões ao ridículo de cada vez que anuncias os teus eleitos.

Mas, permite-me dizer-te, se estás apostado em fazer tristes figuras, tens que ir mais longe! Primeiro, arrisca convocar um tal de André Gomes que tem tudo a seu favor: joga de encarnado (mas despacha-te, porque há um Granada da vida perto de fazê-lo explodir) e é agenciado pelo Jorge Mendes (e olha que o homem precisa de recuperar o investimento fictício de 15 milhões). A seguir, faz de conta que, há cerca de três anos e quanto te referias a Pepe e Liedson, não afirmaste «por minha opção, mais nenhum novo jogador naturalizado será chamado para a seleção. Não convocarei novos naturalizados», e trata de convocar o Fernando.

Depois? Epá, depois espero que continues a gostar de ir assistir a clássicos, na Luz, em que as equipas, verdadeiros exemplos da aposta na formação, entram em campo sem um único português. E que, com o teu novo penteado, continues a pactuar com todos os que desrespeitam o Sporting, clube que, como nenhum outro, aposta em jogadores portugueses e que, ao longo dos anos, tem oferecido à selecção a possibilidade de ser mais do que uma espécie de Finlândia. Não te admires, no entanto, se cada vez mais pessoas siguirem o teu conselho e, sentadas numa sala de cinema, desejem que te afundes neste futebol nacional que ajudas a transformar numa verdadeira pocilga.