Quase toda a minha família é adepta do benfica, pelo que desde muito pequeno fui “vítima” de pressão de tios, tias, avós, primos e até da minha mãe para que dissesse viva o benfica e coisas do género. E numa altura em que as minhas preferências clubísticas se resumiam a alinhar com quem fosse mais insistente, não é difícil perceber o porquê de ter inicialmente sido daquele clube, praticamente desde que comecei a falar, numa altura em que ainda eu não fazia ideia do que era ser-se de um clube.

Em contrapartida, por mais chapéus e bolas do benfica que me oferecessem, nada tinha mais impacto e me causava mais deslumbramento do que as idas com o meu pai ao velhinho estádio de Alvalade. Era impressionante para mim ver dezenas de milhares de pessoas ali reunidas, para ver umas pessoas pequeninas lá ao longe no relvado a pontapear uma bola de um lado para o outro, vibrava por dentro com os cânticos e no fundo adorava aquele ambiente de festa que se fazia sentir.

Tinha entre 3 e 4 anos quando o meu pai me colocou um ultimato: “Ou mudas para o Sporting ou não te levo mais a Alvalade.” Fazia sentido, afinal se eu dizia que gostava do benfica porque raio haveria o meu pai de me levar ao estádio do Sporting? Senti-me encurralado.

Não sei se foi a paixão pela bola já a despontar, sendo as idas ao estádio o contacto mais puro que tinha com o futebol ou se foi uma espécie de predestinação que me levaram a não hesitar sequer antes de anunciar com aquela inocência e simplicidade infantil “ok, então sou do Sporting”.

Na altura não imaginava o impacto que aquela decisão tão simples iria ter no futuro, mas os anos foram passando e a minha paixão pelo Sporting cresceu a cada golo marcado, a cada vitória e também a cada derrota em que saímos de cabeça erguida, a cada jogo e campeonato que nos impediram de ganhar, mas também a ver a forma como festejamos os campeonatos de 99/00 e 01/02, em que ainda criança vi uma festa em Lisboa de dimensões que nunca pensei possíveis. Foram apenas dois os campeonatos que vi ganharmos mas tenho orgulho de ser de um clube diferente, onde se prefere se prefere a honestidade e a dignidade às vitórias a qualquer custo.

Dezoito anos depois de com a sábia ajuda do meu pai me ter tornado Sportinguista considero que de tudo o que o meu pai me disse e transmitiu esta foi a frase que mais influência teve em mim, no que sou e naquilo em que acredito porque ser do Sporting é para mim algo quase inexplicável, muito mais profundo do que o simples desejo de ver a nossa equipa ganhar. É algo que faz parte da minha identidade provavelmente ao mesmo nível do que o ser Português.

Não posso dizer que ‘graças a Deus não nasci lampião’ mas estarei para sempre grato ao meu pai por me transformar num Leão. Obrigado Pai.

Texto escrito por Hugo Pimentel