Há jogadores que se destacam pela sua classe, os Williams (nova definição de “craque”, in dicionário futebolístico-português). Outros pelo trabalho, os operários. Diego Capel estará algures no meio. E como todos sabemos, no meio é que está a virtude.

Gosto do Dieguito, sempre gostei já desde os tempos na Andaluzia. Aquele Sevilha com Capel na esquerda e Navas na direita fez-me recordar o Sporting dos extremos fantásticos. Quando garantimos a sua contratação fiquei eufórico. Conhecia-o bem e sabia que ele seria um elemento importantíssimo na nossa equipa, como tem vindo a demonstrar desde que chegou.

Capel é capaz de ser o jogador mais incompreendido do plantel e nós somos responsáveis por essa situação. Em Alvalade, é o único jogador que tem um cântico próprio, direito conquistado à custa do seu suor, mas quando ele não está bem toda a gente critica a sua forma de correr, com a cabeça no chão. O que é uma estupidez. Cada jogador tem as suas características próprias e a sua forma de ver o jogo. Aceitemos que Capel prefere ver o jogo ao nível do relvado, porque, vá-se lá saber porquê, consegue ver uma forma de retirar vantagens dessa peculiar maneira de correr. Se, na teoria, isto não faz muito sentido (já joguei futebol e sempre me disseram que a cabeça tem de estar levantada), na prática isso acaba por ser subjectivo. E vendo de outra perspectiva, eu pessoalmente, fartei-me da conversa do “temos de levantar a cabeça”. Pois bem, com Capel sabemos que isso nunca será dito pelo simples facto de que não consegue, o que por si só já é uma lufada de ar fresco. E já agora, se o Capel conseguisse fazer aquilo que faz com a cabeça levantada, provavelmente chamar-se-ia Lionel Messi, já que a forma como conduz a bola colada ao pé com aqueles toquezinhos tão característicos é típico do astro argentino. Por isso vos digo que a grande diferença entre os dois é que em miúdos, o Messi tomou hormonas para crescer (e provavelmente levantar o pescoço) e o Capel andou a acartar calhaus dentro da mochila que levava para a escola. O que faz do Messi um maricas e do Capel um Homem.

Uma coisa eu sei: quando Capel está num dia bom, ninguém lhe tira a bola. Ninguém. Capel é um gajo com tomates, não tem medo de ninguém e vai sempre para cima do adversário, chame-se ele Daniel Alves ou Briguel. Eu aprecio muito essa coragem, essa irreverência de dizer com a bola: “Pára me, se lo consigues, amigo!” Sim, “amigo”. Podia ser “coño” ou “cabrón” mas o espanhol é de um fairplay incrível. O twitter para o Helton tira quaisquer dúvidas sobre o gentleman que é Diego Capel.

Capel é um jogador que divide o seu futebol em duas fases: Primeira fase, correr. Segunda fase, cruzar. Muitos pensarão que isto é redutor, que é pouco inteligente, que é demasiado simples. Outros, como Montero (o da primeira volta) e Wolfswinkel pensarão na sorte que têm ou tiveram em ter um jogador assim. Recordo que na época passada, o espanhol foi o jogador com mais assistências do Sporting e foi um dos grandes responsáveis pelo Norwich ter oferecido 14M pelo holandês. Se não estivéssemos em dificuldades financeiras, ofereceria, de bom grado, uma comissão dessa transferência ao Dieguito. Ele merece.

Mas Capel (ou Cápel, como diz o mister) não é só isso. A sua principal virtude, aquilo que o distingue dos demais, é a forma como encara cada jogo. A sua vontade de jogar é tal que entusiasma o mais desconfiado dos adeptos. Neste tempo todo com o manto sagrado vestido, nunca vi um jogo em que o Capel não tivesse dado tudo o que tem. E costuma-se dizer que quem dá tudo o que tem, a mais não é obrigado. E já que nós exigimos “apenas” entrega e atitude aos nossos jogadores, achei necessário fazer este texto a homenagear aquele que melhor encarna essa nossa exigência.

Para mim, Capel é insubstituível. Desenvolvi uma relação de carinho com este pequeno grande jogador. Encarna, na perfeição, o lema do nosso clube: Esforço, Dedicação, Devoção (a Glória virá com o tempo).Aprendi a compreendê-lo e ele aprendeu a gostar de nós, aprendeu a gostar do Sporting. Neste aspecto, comparo-o a Iordanov. Não me lembro de outro estrangeiro que, em tão pouco tempo, tenha conseguido estabelecer uma relação tão forte com os seus adeptos. A prova disso é quando ele é substituído, o estádio TODO (sim, a malta da central também) entoa o arrepiante: “Diego Capeeel, Diego Capeeel, Diegooo, Diegooo, Diego Capel!”. Um momento mágico de comunhão entre o ídolo e os seus seguidores.

Gostava de ver o Capel a terminar a carreira em Alvalade. A titular ou a suplente, pouco me interessa, isso dependerá do próprio e do treinador. Mas que ele é digno de vestir a verde e branca, disso não tenho dúvidas nenhumas. Espero que, com o tempo, ele seja capaz de distribuir por nós todos, parte daquele enorme peso que carrega nos ombros. Eu estou disposto a ajudar e ofereço-me para carregar o primeiro pedregulho. Quem está comigo?

 

* todas as sextas, directamente de Angola, Sá abandona o seu lugar cativo à mesa da Tasca e toma conta da cozinha!