«O Sporting venceu o Marítimo nos Barreiros, onde Benfica e FCPorto tinham perdido. Exibição não foi brilhante, mas chegou e sobrou»

É desta forma, melancólica q.b., que o jornal digital gerido por um tal Sobral, o mesmo que foi para o Twitter criticar a Lusa por ter enviado um resumo do primeiro ano de mandato de Bruno de Carvalho, resume o que se passou na Madeira. O risco era grande, é verdade, e o sentimento de que podíamos tropeçar, complicando as nossas contas e facilitando a de outros, era maior no espírito dos «sobrais da vida». Acontece, e era isso que devia ser escrito, que o Sporting chegou aos Barreiros e deu um bailinho ao Marítimo. Assim, num repente, diria que o Sporting fez o seu jogo mais equilibrado e competente fora de portas (menos venenoso do que a goleada em Coimbra, por exemplo, mas mais constante e frente a uma equipa mais complicada).

A primeira parte, então, foi de um domínio total. Não fosse o estarmos a olhar para as luzes dos foguetes no céu, após o penalti (granda Márcio Rosário, és um cepo mas és um gajo às direitas que assume o que faz) convertido por Adrien, brincadeira que resultou no golo do empate (um bom golo), e Rui Patrício ter-se-ia limitado a defender com os olhos. Com Mané a jogar nas costas de Slimani, imprimindo velocidade, verticalidade e imprevisibilidade ao último terço de terreno, a equipa jogava solta. Capel a subir de forma, Heldon a respirar os ares de que gosta (alguém traga uma botija de oxigénio recolhido na ilha, para o homem inspirar durante a semana), Slimani a importunar e, claro, aquela dupla que só não é titular no mundial porque o seleccionador não quer: William & Adrien (é só juntar o Moutinho, ó Paulo). E o golo de William («William tira la bomba!», gritavam os italianos, recordando as pedradas que saiam dos pés de Sinisa Mihajlovic) apenas veio colocar justiça no marcador, antes do apito para o intervalo.

Enquanto Leonardo ajustava as coisas com dois ou três conselhos, Heldon estava de cabeça de fora, respirando os ares do oceano. O resultado foi uma entrada a todo o gás por parte do extremo que, primeiro em jeito, depois em força, tentou abanar as redes de Salim. E seria o guardião a brilhar, roubando um golo cantado a Slimani, depois de mais um roubo de bola de Adrien (e ainda há quem pingue a cueca quando fala em Ruben isto ou Ruben aquilo…). Foram dez minutos em que o Sporting podia ter sentenciado o jogo. Não o fez e passou a tentar controlá-lo, dando espaço a que o Marítimo fosse saindo do espartilho. Começaram a surgir cruzamentos para a área e, entre os 65 e os 80 minutos, mais coisa menos coisa, perdemos o controlo da partida, colocando-nos a jeito para sofrer um golo. Mas eis que surge Adrien (desculpa lá, Will, mas desta vez o prémio de melhor em campo vai para o Silva). Rouba uma bola e coloca, redonda. 1,2,3,4,5 segundos e vai buscá-la mais à frente. Jeffersson percebe o carrossel e arranca com a força de quem sobe o mítico Poço da Morte. Adrien coloca com conta peso e medida e embala o brasileiro para um final triunfal e um festejo tão tribal que até tiveram medo de abraçá-lo.

Slimani ainda faria o 4-1 (ai não contou?!? ora esta…), William veria mais um amarelo (é reparar na facilidade com que se passaram a mostrar amarelos ao nosso motor, depois de cumprir o jogo de castigo na luz. Aliás, é reparar no ridículo que é levarmos mais amarelos do que equipas que batem o jogo todo) e Pedro Martins (imagine-se), reconheceria o bailinho sem se queixar de terceiros. No balneário, os nossos Leões saboreavam mais um borrego (atenção, o Sporting já não ganha nos Barreiros há 12 horas!), deixando as batatas quentes para quem joga hoje e as caixas de comprimidos para a azia na mesa de cabeceira de todos os que não dormiram bem esta noite.

paródia