Depois de ver a reportagem sobre o Proença, apetece-me falar na arbitragem mas vou tentar fazê-lo por uma abordagem mais construtiva.
Existe um clima de terror em relação aos árbitros, não há como negá-lo. Clima esse que foi criado única e exclusivamente pelos próprios, pelo seu corporativismo e pelas instâncias que os lideram. Não me interessa muito discutir quem é que andou a vandalizar talhos, quantos dentes é que perdeu o Proença ou quem é que recebeu ameaças de morte. Vendo isto de fora, chamo a isto de consequências ou, utilizando uma expressão bem portuguesa, estão a colher o que semearam durante anos.
E o que é que eles andaram a semear? Corrupção. E o que é que estão a colher? Anos e anos de revolta acumulada pela impunidade. Porque se existem dirigentes corruptos é porque existem árbitros que se deixam corromper. Por cada cabaz de fruta oferecido pelo pintinho havia sempre alguém reclamava vitaminas no corpo. Portanto, não há como dissociar um fenómeno de outro. A corrupção tem duas faces, a face do que corrompe (ou tenta corromper) e a face do corrompido (ou que se deixa corromper).
É importante fazer esta associação porque, nos dias de hoje, os árbitros são vistos pelos próprios como uma cambada de coitadinhos, a quem não se pode dizer nada e que lutam sozinhos contra o Mundo. Pois bem, vamos por partes:
1) O árbitro é o elemento menos importante do jogo. Se não houver jogadores, não há jogos, se não houver treinadores não se treina, logo, não se joga, se não houver dirigentes, ninguém paga salários, logo, ninguém joga. Se não houver árbitros…arranja-se alguém da bancada que saiba as leis do jogo e arruma-se o assunto. Enquanto os árbitros não entenderem isto e continuarem a querer ter mais protagonismo do que aquele que lhes é destinado, nunca vão conseguir perceber a essência do jogo, logo, nunca vão conseguir fazer um bom trabalho. Se não estou em erro, o árbitro que fez um trabalho positivo no clássico de ontem é exactamente o mesmo que protagonizou a vergonha de Setúbal. A diferença foi simples: com o Sporting é fácil ser-se protagonista. Com os rivais isso dá sempre merda. Estas discrepâncias é aquilo que o Sporting combate. Nada mais.
2) A questão do erro. Ainda hoje li o Duarte Gomes a perguntar ao Universo porque é que o erro do árbitro não é posto ao mesmo nível do erro do jogador ou do treinador. Esta é fácil, porque existem formas internas para punir esses erros. Se o treinador falha é punido pelo presidente, quando o jogador falha é punido pelo treinador. Já que eles falam tanto dos erros dos jogadores e treinadores, pego no exemplo do nosso clube para demonstrar como as coisas se processam. Onde anda o Sá Pinto? No Chipre. Onde anda o Domingos? Desempregado. Onde anda o Grimi? Provavelmente a vender churros numa qualquer roulotte de Buenos Aires. Qual é o denominador comum? Foram todos incompetentes e a sua carreira caiu a pique o que, provavelmente, lhes estará a pesar na carteira. Agora…qual o castigo dos árbitros? Ficam 1 ou 2 joguinhos de fora e voltam alegremente como se nada tivesse acontecido. Por exemplo, o Jorge Sousa fez uma arbitragem miserável no Gil Vicente-Rio Ave e qual foi o seu “castigo”? Apitar o Marítimo-Sporting! Portanto, é bom que parem com essas comparações porque nada disto é razoavelmente comparável.
3) O Conselho de Arbitragem. Está aqui a fonte de todos os problemas. É este órgão que faz as captações (juntamente com as associações), são eles que escolhem quem tem qualidade e são eles que gerem as suas carreiras. Sinceramente, parece-me muito poder para um homem só, neste caso, o Vitor Pereira que, ainda por cima,não é honesto nem é competente. Se a isto juntarmos o poder de nomear, posso dizer que é este gajo que controla o futebol. O que é gravíssimo. Nisto, os próprios clubes têm responsabilidade porque votaram nele, incluindo o Sporting. Mais uma para agradecermos ao engodo.
Para estabelecer um paralelismo, remeto-vos para o nosso passado recente, onde os nossos dirigentes pediam estabilidade para esconderem a sua incompetência. É isto que se passa na arbitragem. Mudem apenas a palavra estabilidade para “tranquilidade”, “calma” ou “pacificação”. Enquanto as estruturas que dirigem os árbitros e os próprios não entenderem que só terão paz quando forem sérios e competentes, nada vai mudar. Tem de partir deles a assunção da sua incompetência, das suas dificuldades e fazerem algo para corrigir esse problema, seja com os mesmos ou com outros. Não vai ser o resto do Mundo, que já anda fodido com eles até ao tutano, que vai, de repente, agir como se tivesse tomado um xanax e se comportar como se os seus erros não os afectassem. Portanto, árbitros…tirem o cavalinho da chuva! Resolvam vocês os vossos próprios problemas (e não são poucos) e depois sim, os clubes tornar-se-ão mais “pacíficos” de forma natural. E se quiserem ajuda, o Sporting está aqui para vos ajudar. É só quererem.
Também nós, Sporting, andámos neste círculo vicioso. Os dirigentes pediam estabilidade quando o que o clube precisava era de revolução. Foram precisos mais de 10 anos para percebermos isso e tomarmos uma acção que, felizmente, resultou naquilo que vemos hoje. Mas para isso foi preciso os sportinguistas perceberem que eram incompetentes a votar porque não estavam a perceber o verdadeiro problema do clube. Estão a ver? Não é difícil nem é vergonha nenhuma admitir incompetência ou ignorância! Agora, enquanto vocês se acharem os melhores do Mundo, que o futebol português não vos merece ou que a culpa desta merda é toda dos outros e nenhuma vossa, vão continuar a definhar, a errar e a descredibilizar todo o sector.
Não sei se existe um sindicato de árbitros mas era uma boa ideia para se juntarem e decidirem aquilo que querem. A começar pelos dirigentes. Os líderes da APAF e do Conselho de Arbitragem fazem tudo menos defender os árbitros, logo, é preciso arranjar entre eles alguém que os defenda. E defendê-los não é andar a mandar boquinhas parvas aos dirigentes dos clubes. É, sobretudo, arranjar mecanismos para credibilizar o sector. Mas como qualquer sector é constituído por pessoas, é urgente correr com esses dois dirigentes que referi acima. Trata-se de dois indivíduos obcecados pelo protagonismo que, em termos práticos, não fazem nada pelo sector. Deveriam ser eles a fazerem pressão nas instâncias próprias para avançar com as novas tecnologias, deviam ser eles a defender e a promover o sorteio, deviam ser eles a inventar um sistema de avaliação claro e transparente, deviam ser eles os primeiros interessados em que as notas e os relatórios do árbitro sejam divulgados. Mas não, preferem andar na obscuridade porque nela se movem melhor e servem mais os seus interesses pessoais. Infelizmente, teve que ser um presidente que acaba agora de fazer o seu primeiro ano no mundo do futebol a vir apresentar propostas para alterar estas questões. Precisamente o mesmo presidente que os líderes da arbitragem dizem que está a prejudicar a arbitragem. Lá está a questão de perceber o problema e agir em conformidade.
Enquanto não perceberem o verdadeiro problema, os árbitros vão continuar a errar mais do que o normal porque todo o sistema está feito para eles errarem. Enquanto acharem que os seus líderes estão a trabalhar para eles quando, manifestamente, não estão, vão continuar iludidos. Enquanto não se organizarem para pedir satisfações a esses mesmos líderes, vão deixar que eles decidam o seu futuro de acordo com as suas conveniências. Enquanto não fizerem isto tudo, a suas vidas continuarão em perigo enquanto os seus líderes estarão descansados no conforto do seu lar, provavelmente a beber single malte com algum corrupto qualquer desta vida.
O Sporting conseguiu mudar. A arbitragem também conseguirá. Como disse acima, é só quererem. E volto a repetir, se precisarem de ajuda, o Sporting cá estará para os ajudar. Mas ajudar a sério, com propostas e com medidas concretas. Não com bitaites enviados através da imprensa. Desse filme estamos todos fartos. Acredito que os árbitros também.
* todas as sextas, directamente de Angola, Sá abandona o seu lugar cativo à mesa da Tasca e toma conta da cozinha!
28 Março, 2014 at 22:04
Boas! Posta de bacalhau bem cozida como habitual e caíu-me tudo bem no goto, excepto o couvert.
Em relacao ao 1o ponto, partir dentes e talhos é crime e os responsáveis por isso deviam ser punidos (assim como muitos outros que certamente acontecem pelo futebol adentro, claro). Mais, a violencia é abominável nos dias de hoje e o problema (além da falta de razao dos indivíduos que dela usam) é a impunidade com que se fala disso. Falar de violencia com leviandade; mais, nao a condenar publicamente usando justificacoes no mínimo discutíveis, seja num tasco como na Tasca, apenas ajuda a perpetuar o fenómeno. Em relacao a justificacoes discutíveis, pergunto: é culpa do árbitro (?!), de levar nos cornos porque alguém nao gosta do trabalho dele? Por que a sua equipa de futebol perdeu? Eh pá, somos todos doentes pelo Sporting mas, sinceramente, quem pense que isso é uma boa idéia por favor GET A LIFE e vá para casa cuidar da família!! Mas onde é que isto se ve? Se arbitrou mal devia ser punido com meios próprios, o que todos certamente concordamoso.
Atencao que nao estou a dizer que o Sporting tenha encorajado violencia diretamente; pelo contrário, o presidente e até o próprio BASTA!! puseram isso bem claro. Quem, aliás, mostrou em vários inacreditáveis episódios que a violencia é perfeitamente aceitável foram certos porcos e lariloes!
E este é um fórum público com capacidade de formar opiniao como, ainda mais capacidade possuem os dirigentes do mundo do futebol que necessitam obrigatoriamente que entender que a sua posicao é de responsabilidade e devem ter cuidadinho com o que dizem.
A violencia nunca deve ser justificada. Há maneiras de lutar contra a injustica mas a mudanca de mentalidades leva tempo, como provavelmente tudo na história. Por isso acabei de partilhar a peticao @ http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=movimentobasta
dizendo que é do interesse de qualquer adepto de futebol, independentemente da paixão clubística. E achei bem que não é só chegar lá e assinar cegamente como muitas outras: está apresentada com as medidas propostas em concreto, portanto parabéns a quem o fez.
Para concluir, aposto que se fizessem um estudo sério concluiriam que quase de certeza que mais árbitros levam nos cornos por causa de declaracoes de dirigentes….
28 Março, 2014 at 22:19
Oh Cherba não te imaginava tão infantil!
Então achas que eles não sabem o que é preciso para minimizar o erro ao máximo e como tornar isto tudo mais transparente?
Um “individuo” da familia do meu sogro foi árbitro das divisões inferiores e segundo ele nunca chegava a casa sem nada em todos os fins de semana. Isto nas divisões de merda!!!
Então eles durante tantos anos não queriam a profissionalização…. Achavas que era porquê?
Colocar as tecnologias? Assim vão controlar o quê se depois o erro é anulado?
Achas que é isso que eles querem?Achas que eles são todos burros e não sabem o que é preciso para otimizar e reduzir o erro quase a zero?
Sabes o que te digo! Vão interiorizando a ideia de que mais ano menos ano o melhor é negociar a ida para outra liga em vez de andarmos aqui a servir de tótós ano após ano.
28 Março, 2014 at 22:29
Caro Sá, parabéns, este texto está brutal.
28 Março, 2014 at 22:45
Só agora tenho oportunidade de comentar com mais detalhe.
O nosso amigo tasqueiro Sá todas as semanas nos brinda com um pitéu, umas vezes melhor outras menos bem temperado…. Como todos os grandes chefs tem uns dias bons outros não. Mas hoje, fez talvez o seu melhor prato.
Pegou num tema muito pertinente e colocou-o segundo a perspectiva certa, a perspectiva da responsabilização.
Tenho pena. O Sá não o merecia, a tasca não o merecia, o tema não o merecia, que tivessem uns bandalhos vindo destabilizar isto tudo…..
Desamparem a Tasca Poooooorra!
29 Março, 2014 at 16:03
…dêem lugar aos querem apenas comer “um petisco” e beber umas “jolas”, é para isso que servem as “tascas”!!! E esta serve dos bons e das melhores!!
Não às “chico expertices”, “discussões” e “pancadaria”.!!!!!!!!!!!!
PORRA NÃO SOMOS TODOS SPORTINGUISTAS??? Pergunto eu!!
29 Março, 2014 at 11:37
Ultimamente só venho à tasca ao sabado de manhã, antes do meu SPORTING jogar (o grande motivo é a verdade desportiva neste pais e parecer que os jogos do Sporting são sempre inclinados. Mas estamos a jogar pa caralho e por isso ainda acredito).
Antes de vir à tasca, passei no youtube onde fiz uma pesquisa: “apito dourado”. Foda-se depois deparo com este texto e tenho mesmo de “meter” o comentário:
Não posso estar mais de acordo, em que, tem de ser os árbitros a resolver o problema da arbitragem. Mas com tomates. Já dizia o outro, basta uma maçã podre para as outras apodrecerem. Porque não é só o “futebol portugês” que sofre, nem o Sporting, são os bons árbitros (ainda deve haver alguns em Portugal).
Desaparecerem relatórios para “martelar” a classificação dos árbitros, para justificar a nomeação do árbitro da final da taça, tem que se lhe diga. A epoca do apito dourado já lá vai, mas os esquemas de classificação devem ser os mesmos. Depois o compadrio, a cunha etc., está enraizado na nossa cultura em todas as areas. Se o sistema não é transparente é um ver se te avias!
Os árbitros devem pegar o touro pelos cornos e não ter medo que os relatórios a seguir ao jogo sejam divulgados, não devem ter medo do sorteio, a menos que esse tambem seja martelado, mas já será mais dificil ou então mais facil de apanhar a mão que pega no martelo. Em suma, depois de copy&paste e só para reforçar:
” . . . Portanto, árbitros…
tirem o cavalinho da chuva! Resolvam vocês os vossos próprios problemas
(e não são poucos) e depois sim,
os clubes tornar-se-ão mais “pacíficos” de forma natural.
E se quiserem ajuda, o Sporting está aqui para vos ajudar. É só quererem. . . . “
29 Março, 2014 at 15:53
Meus Amigos
O problema principal da nossa arbitragem é que os senhores árbitros não despem a camisola (da sua cor preferida); o segundo é que a maioria é incompetente; o terceiro é que em caso de dúvida cá estamos nós a levar; e o quarto é que as nomeações são bem “preparadas”!!!