Foi o único membro da candidatura independente ao Conselho Fiscal e Disciplinar a ser eleito. Um ano depois, Vicente Caldeira Pires mostra-se orgulhoso por fazer parte de um órgão isento, sóbrio e discreto, que funciona apenas em prol do Sporting e não de outros interesses. Os resultados da auditoria, garante, serão inatacáveis. (hoje, in A Bola)

QUE balanço faz deste primeiro ano do Conselho Fiscal e Disciplinar (CFD), órgão para o qual foi eleito como membro da candidatura independente?
Penso que o ano correu bem. Quando fomos eleitos apresentámos ao CFD os quatro pontos que considerávamos fundamentais e alguns eram coincidentes com algumas promessas eleitorais como a realização da auditoria de gestão e a maioria do capital social da SAD. Estas eram as pedras angulares do nosso programa. Temos apenas um membro, toda a nossa ação é condicionada a um voto e nada podemos fazer sozinhos.

Aquilo que defendiam foi bem aceite pelos outros membros?
É um CFD com sete pessoas, embora os suplentes também participem, todos com orientações diferentes e isso é de salutar. Faz com que o trabalho no CFD seja melhor. Todos lutamos pelo interesse do clube e pela independência do órgão e tem sido uma experiência de trabalho muito positiva.

A auditoria pode trazer paz?
Importante é os sportinguistas conheceram ao pormenor o passado e depois tirar todas as consequências. Se houver matéria e chegarmos à conclusão que o clube foi prejudicado as pessoas têm de ser responsabilizadas, para que no futuro se estabeleça um conjunto de práticas que não permitam que o clube volte a estar na situação que esteve e não se volte a cometer os mesmos erros.

Situação ainda é complicada?
O Sporting vai levar anos e anos a conseguir voltar à situação patrimonial e financeira que tinha em 1995, mas também em termos de vida e dinâmica.

A transformação na era José Roquette foi um erro ou podia ter sido feita de outra maneira?
Na minha opinião foram erros atrás de erros. O projeto Roquette desconhecia a essência do clube, encarou os sócios como clientes… Uma soma de erros. É como disse o presidente, se forem apenas erros somos o clube mais azarado do Mundo.

Mas parece que a primeira fase está atrasada. A necessidade de cumprir prazos pode condicionar os resultados da mesma?
Somos ambiciosos nos timings que traçámos. Esta primeira fase não incluía apenas o mandato de Godinho Lopes, mas vários mandatos na área do imobiliário. E para se estudar isso é necessário recuar antes da presidência de Santana Lopes, analisar muitos documentos, digitalizá-los…. O CFD não os coloca em caixotes e os entrega aos auditores.

A análise à gestão de Godinho Lopes está concluída?
Estamos a trabalhar… O imobiliário atrasou tudo, mas a grande motivação é não sacrificar a qualidade da auditoria.

O CFD é que redefiniu o prazo ou foram os auditores?
Está a ser renegociado. O principal é que a auditoria nos dê confiança e que seja inatacável. A auditoria é independente, o CFD apenas trata das questões procedimentais. Acompanhamos os trabalhos, auditamos a auditoria, mas não interferimos nem o podemos fazer. Por isso é que é independente. Temos confiança de que vai ser um trabalho bem feito.

A deficiente conservação de alguns documentos foi a única contrariedade que encontraram ou foram confrontados coma inexistência de documentos?
Se se concluir pela inexistência isso será expresso no relatório.

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«Não faz sentido comparar esta com outras reestruturações»
Está acordada, mas ainda não foi executada por carecer ainda de autorização do Ministério das Finanças, mas Vicente Caldeira Pires não hesita em afirmar que o acordo conseguido entre Bruno de Carvalho e os bancos não contempla apenas uma redução de endividamento, antes protege o clube, algo que considerou essencial e que outras reestruturações, como a de Godinho Lopes, não contemplaram. «Reestruturar significa alterar paradigmas, formas de trabalhar e comparar esta reestruturação com outras operações não faz sentido. O que nos foi apresentado tem regras e objetivos. Aliás, daquilo que estava à espera e do que se falava antes das eleições fiquei surpreendido pela positiva e, pela maneira como foi pensada e apresentada, dei parecer positivo», disse, lembrando que o CFD foi ouvido antes do selar do acordo e que todas as informações requeridas foram prestadas pelo Conselho Diretivo.

Vicente Caldeira Pires falou também da cedência de capital social da SAD a investidores estrangeiros: «Para mim importante é o Sporting ficar com a maioria, com direitos de voto e capacidade de eleger órgãos sociais. Porque isso não desvirtua a matriz associativa.»

Processos
Como a A BOLA noticiou há algumas semanas, o CFD tem em mãos dois processos, um relativo ao ex-conselheiro leonino Luís Lobato e outro sobre as ofensas de que foram alvo os antigos membros da Mesa da Assembleia Geral, principalmente Daniel Sampaio, cujas conclusões tardam em ser conhecidas: «Sobre esse assunto não posso adiantar nada por solidariedade institucional. A única coisa que posso dizer é que quando temos o poder disciplinar temos também a responsabilidade disciplinar e de salvaguardar o direito dos sócios.»

CD correto
O dirigente elogia o relacionamento entre o CFD e o Conselho Diretivo. «Tem sido muito bom. É claro que o CD tem outras prioridades e temos consciência disso. Temos o nosso programa, competências e atribuições, mas também sabemos o nosso lugar. Há uma comunhão de esforços e uma grande solidariedade entre os órgãos», destacou.

Independência
Muitos foram os anos que em direções criticaram a falta de independência do CFD. «Não tenho dúvidas nenhumas que há total independência e que, se for necessário, o CD será alvo de uma chamada de atenção», disse.

Desafios
Quais os desafios do CFD para o segundo ano do mandato? «Fazer cumprir os Estatutos, fazer bem o nosso trabalho, de forma independente, rigorosa e com verdade. Colaborar para que o Sporting volte a ter uma matriz associativa», sublinhou, lembrando que este ano haverá «contas consolidadas».

Presidente
Vicente Caldeira Pires, agora na qualidade de sócio, elogia o trabalho desenvolvido por Bruno de Carvalho: «Estou agradavelmente surpreendido com a prestação do presidente e penso que os sportinguistas também estarão satisfeitos, embora muitas vezes as expectativas dos adeptos tenham pouco de racional. Há muito que defendíamos a aposta na formação, como a história tem demonstrado.»