Confesso que o Leão de ontem à noite, chegou a irritar-me. Porquê? Porque, em vez de partir para a goleada, preferiu ver-se ao espelho. Mas, bem vistas as coisas, quando caminhamos para o final de uma época que nos devolve o prazer de ver a verde e branca ser envergada por um conjunto de profissionais que a honram, esta equipa até merece ter tempo para curtir a juba que lhe cresceu.

Mas, comecemos de onde deve ser. Do início. Forte, mandão, autoritário. William e Adrien em grande, com André Martins a aparecer com as pilhas carregadas e a ser um importante terceiro elemento num meio-campo de selecção. Não estranhou, por isso, que o primeiro golo surgisse aos treze minutos. E que golo, meus amigos. Um carrossel que vem da esquerda, com Capel a descongestionar para Adrien, este a dar em William, William respira fundo, ri-se sem que alguém perceba e arranca. Uma, duas passadas, bola em Slim, com o argelino a entrar na dança e a tocar de calcanhar. William faz o que se aprende nos infantis (dá a bola e vai buscar), deixa um defesa a apalpar a relva e, frente ao guarda-redes, exibe-se como o mais frio avançado do mundo. Golaço!

Equipa unida, num festejo junto ao banco, abrindo espaço para momentos que valem o bilhete, como a ratola de Mané ao seu adversário ou o toma lá dá cá, com direito a calcanhar, entre Capel e Jeffersson. Patrício não queria ficar de fora da festa e sacou uma enorme defesa, como quem diz «querias, Bebé!». E Rojo, o mal amado argentino que já provou que tem lugar de sobra nesta equipa, voltava a facturar, abrindo caminho para um resultado mais expressivo. Mas o Leão estava orgulhoso do que fazia e resolveu ver-se ao espelho. Afroxou a pressão a meio campo e foi perdendo o domínio claro do jogo. Os castores reagruparam-se e, já no arranque da segunda parte, chegaram ao golo. Entusiasmados, forçaram a tentativa de chegar à área do Sporting que respondeu, então, à altura. Primeiro, sabendo defender, depois, sabendo ir lá à frente e, em mais um enorme momento de inspiração colectiva, dizer ao adversário que as diferenças entre eles eram, efectivamente, enormes. Slimani voltou a ser mestre de cerimónias e Adrien enfiou mais uma batata doce na garganta do seleccionador nacional.

O jogo terminaria pouco depois, não no relógio, mas porque o trauliteiro que enverga a braçadeira de capitão do Paços meteu mão à bola e viu o segundo amarelo. Bastou, assim, ao Sporting gerir até final, ficando Montero perto de marcar o golo que tanto persegue e que daria maior colorido a uma exibição que traduz o trabalho que tem sido feito em Alvalade desde o início da época. E que não deixa margem para dúvidas: este Sporting é cada vez mais equipa. Saibamos nós apoiá-la e preservá-la!

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