O jogo não podia ter começado de melhor forma. Um minuto, um golo, fruto da primeira boa combinação entre Cédric e Carrillo, com o peruano a servir um excelente cabeceamento de Slimani. Os cerca de 33 mil espectadores presentes em Alvalade sorriram e imaginaram a sua equipa embalada para uma goleada, mas a cerimónia na hora de marcar passou a ser o prato forte a partir desse momento.

Completamente inclinado para a direita, onde os já citados Cédric e Carrillo iam dinamitando o flanco, o Sporting criou diversas situações de perigo. Entre últimos passes que saíam mal, má abordagem dos avançados aos lances (Mané, que de acordo com Leonardo Jardim não estava a 100%, mostrou total ausência de inspiração, roubando, inclusivamente, uma bola açucarada da cabeça de Slimani) ou cortes providenciais da defesa gilista, o tempo passava sem que os Leões colocassem o ponto final no jogo. Ia valendo a curiosidade de ver como William e Adrien (outro a anos luz do que tem produzido esta época) se movimentavam no 4-2-3-1 puro em que o técnico leonino apostou: lado a lado nas saídas de bola, com William (mais fresco?) a ter a missão de ser o médio que subia e procurava os desequilíbrios junto à área adversária. E no meio de tanta displicência e de tanto espaço que se conseguia criar no último terço de terreno, eu dava por mim a pensar que este era o jogo perfeito para Montero estar em campo, junto a Slimani.

A segunda parte começou de forma semelhante, com a bola, invariavelmente, a ser colocada à direita. Cédric mostrava chegar ao final da época com pulmão para fazer 90 minutos a rasgar; Carrillo ia soltando o génio a espaços e lutando contra a intolerância de alguns sectores da bancada, que à primeira perda de bola assobiaram o extremo (e se fossem bardamerda?). Rojo esteve à beira de marcar o golo do ano, com um pontapé fantástico que esbarrou, com estrondo no poste da baliza adversária. E se se pensou que a bomba do argentino acordaria a equipa, o efeito foi contrário: com o galo bem estrangulado, pese o inofensivo abanar das penas que ainda inquietava o espírito dos adeptos, o Leão enrolou-se à espera de fazer a digestão.

Leonardo Jardim não gostava do que via (até William se deu ao desplante de falhar três passes em três jogadas consecutivas) e ia introduzindo alterações. André Martins trouxe genica, Montero trouxe outras soluções, Heldon trouxe o golo que faltava. Um golo que nasce da categoria de Montero (bem dizia o treinador que estaria preocupado se o colombiano, mais do que não marcar, fosse incapaz de ser uma mais valia para o futebol da equipa), lançando a corrida (mais uma) de Carrillo. Desta vez era a vez, e o La Culebra cruzou com conta peso e medida para os pés do cabo-verdiano. O extremo gritava de felicidade e o Leão, depois de uma noite bem poupadinha, espreguiçava-se, colocando as garras a milímetros dos milhões da Champions.