Recentemente foi debatido num dos 527 programas de debate futebolístico o facto do nosso presidente ter ido à Comissão Europeia levar as propostas que já estão nas mesas (ou, se calhar, gavetas) das principais instâncias nacionais há alguns meses.

Perante a hipocrisia reinante, é preciso colocar os pontos nos i’s. Ou seja, fazer algumas perguntas incómodas que ninguém tem coragem de fazer:
– Querem mudar o futebol português? Sim ou não?
– Quem está interessado e quem não está?
– Os que querem mudar, o que é que estão a fazer para isso?
– Os que não querem mudar, o que é que estão a fazer para impedir a mudança?
NOTA: Estas são as perguntas que os jornalistas e comentadores deviam fazer se querem contribuir para alguma coisa. Enquanto não as fizerem estão a ser coniventes com o estado actual das coisas. E um dia, isto terá de lhes ser cobrado.

Falando do caso do Sporting, é fácil perceber o nosso posicionamento porque o nosso presidente disse, claramente, aquilo que quer e aquilo que não quer. Queremos mudar, estamos a trabalhar para isso com propostas concretas e estamos à disposição de todos aqueles que querem participar no processo. Que mais podemos fazer? Eu diria que muito pouco. Esta nossa postura está a criar anticorpos em todos os comentadores, que, não podendo criticar as propostas (porque são boas na sua generalidade) partem para a ladainha dos consensos com os clubes. Ou seja, o pobre do nosso presidente, para além de apresentar alterações ainda tem de ir bater à porta dos clubes para as discutir. Mesmo sem saber se eles querem ou não discutir. Ou melhor, mesmo sabendo que eles NÃO se querem comprometer. Isto é o mesmo que um gajo ligar a uma gaja a combinar um jantar, ela dizer que tem namorado ou nem sequer atender o telefone e o pobre coitado ir à mesma para o restaurante. Mas anda tudo parvo?

Importante será perceber o posicionamento dos outros antes de atirar pedras a quem já se assumiu. Falo claramente dos outros dois grandes do futebol português. O Orelhas teve cerca de 10 anos para fazer alguma coisa e o máximo que conseguiu foi sair da rede de crime organizado chamada Olivedesportos. Dou-lhe crédito por isso, nunca pela luta da verdade desportiva que, subitamente, deixou de estar na agenda do orelhudo. Já o Fruteiro não quer merda nenhuma e por isso não se vai manifestar e vai continuar a minar por dentro qualquer projecto de mudança. Recordo que estou a falar de 2 dirigentes que têm, juntos, quase 40 anos de dirigismo e nunca ouvimos da boca de nenhum deles qualquer proposta, qualquer ideia ou qualquer iniciativa em prol da indústria. Aliás, a única ideia que ambos fomentaram foi uma guerra sem quartel. É com esta gente que temos de nos sentar?

A questão é esta: existe um local próprio para discutir as propostas: a Liga de Clubes. Quando lá fomos ver  se há consensos…fomos brindados com uma tentativa de golpe de Estado para retirar do poleiro o gajo que eles próprios elegeram. Na altura, o nosso presidente disse que haviam assuntos bem mais importantes para discutir do que destituir o presidente da Liga. Nada a fazer, a agenda estava criada, o assunto do dia é mesmo correr com o Mário Figueiredo. É com esta gente que temos de de criar consensos? Se é, estamos bem fodidos. Pegando no exemplo anterior, o rapaz liga à miúda combinar o jantar, ela aceita ir e quando chega ao restaurante ela já lá está sentada com mais 4 ou 5 gajos a combinar o sítio onde vão fazer o bacanal a seguir à refeição. Se o rapaz tiver o mínimo de respeito por si próprio, obviamente que tem de se pôr a milhas. E o nosso presidente tem respeito por si e, sobretudo, por nós que o elegemos.

Perante esta cenário, o que é que o Sporting fez? Muito simples. Cagar para quem não quer discutir nada e focar-se em quem pode mudar as coisas pela via do poder político. Primeiro a Assembleia, depois o Presidente e agora a Comissão Europeia. Hoje, podemos dizer que todo o país (e talvez alguma Europa) sabe o que se passa no futebol português e sabe que o Sporting quer contribuir para a mudança. Ignorar ou actuar, está nas mãos deles.

Já se percebeu uma coisa. Aparentemente, o Sporting não tem o apoio de ninguém. Se tivesse, já alguns clubes teriam saltado para dentro do barco. O Carnide tem um pé dentro e outro fora, como lhe convém, e parece que o Marítimo está a querer entrar. A próxima bomba a rebentar vai ser a eleição do próximo presidente da Liga que eu prevejo que seja ganha pelo candidato do Sistema. A sua agenda será retirar os processos contra a Olivedesportos e estender a passadeira azul para mais uns anos de compadrio e coacção. Se um dos candidatos for o Rui Gomes da Silva, como tem sido veiculado, a mensagem dos veremelhos fica clara: “o que queremos é mudar a cor do Sistema”. Neste cenário que nem o próprio desmentiu, em quem é que podemos votar ou até mesmo confiar? Em ninguém. A não ser que façamos emergir um novo candidato que se reveja nas nossas propostas. Mas ninguém se candidata para perder, digo eu.

Posto isto e tal como diz o título, as palmas batem-se com as duas mãos. Nós tomámos a iniciativa e fizemos chegar as nossas ideias a todo o lado. Falta a outra parte, que passa por ouvir o que todos pensam sobre o assunto ou até elaborarem outras propostas, quiçá, mais vantajosas para a indústria. Agora, se continuarem a bater as suas punhetas, leia-se, preocupados apenas com seu quintal que tresanda a sujidade, tudo ficará na mesma. Que, no fundo, é o que toda a gente quer mas não pode dizer em voz alta. Ora, para alinhar em bacanais, não contem com o Sporting.

 

* todas as sextas, directamente de Angola, Sá abandona o seu lugar cativo à mesa da Tasca e toma conta da cozinha!