Obviamente que qualquer um de nós esperava um final de tarde e início de noite cheio de golos e de grandes jogadas, confirmando, com elevada nota artística, a entrada directa na Liga dos Campeões. É por isso normal, que a maioria se tenha chegado a irritar com a indolência apresentada no relvado do Restelo, guardando os aplausos para mais uma grande exibição de Adrien (aquele bailado, aos 11 minutos, fez o Zidane ter vontade de voltar a jogar futebol), para uma grande primeira parte de André Martins (as trocas de posição, à direita, o enorme cruzamento para Slimani ou aquele pontapé que daria um dos três melhores golos do campeonato), para o festejo do golo que arrumou a questão e, claro, para as defesas de Rui Patrício. Tão mornas estavam as coisas, que o senhor do apito resolveu espevitar-nos, expulsando Rojo de forma patética e aumentando a dificuldade da deslocação à Madeira, não vão os deuses do futebol lembrarem-se de estragar a festa em tons vermelhos.

O resto foi um longo bocejo, com os laterais incapazes de subirem e criarem desequilíbrios, com os extremos sem capacidade de explosão (e teria sido tão fácil, como se viu quando Mané decidiu acelerar duas vezes), com o meio campo a recuar em demasia na segunda-parte, com um adversário sem jeito e sem futebol, primeiro com onze homens enfiados em meio relvado, depois dependente de um erro alheio para tentar chegar ao empate. A grande diferença deste jogo chato para tantos outros jogos chatos é que, ao contrário do que acontecia num passado recente, soubemos ganhar sem jogar por aí além. A isso se chama estar mais adulto e saber se equipa (a imagem do Magrão, na bancada, entre os restantes convocados e não-utilizados, vivendo o que se passava no relvado diz muito sobre o que se conseguiu criar ao nível do balneário).

Mas, parece-me, esta exibição trouxe consigo um recado que não podemos ignorar. Ao mesmo tempo que imaginávamos o regresso à Champions, olhávamos para o que a equipa não produzia e pensávamos nas soluções que Leonardo Jardim tinha no banco. E se, independentemente das preferências, vai dando para rodar extremos, quando olhamos para o trio de meio-campo, por exemplo, temos um choque de realidade: não há opções à altura para substituí-los. E essa a próxima grande tarefa desta direcção e deste treinador: encontrar, com os recursos existentes, novas pérolas na formação, novos jokers vindos de origens inesperadas como os Estados Unidos ou a Argélia, valores seguros que joguem em clubes menores.

Se este foi o ano zero, o próximo será o zero e meio. Tal como percebemos que não podíamos ter passado da pior época sempre para a melhor de sempre (bem, com menos erros de terceiros até podíamos ter passado do oito para o oitenta, mas isso são outras conversas), é bom que percebamos que não podemos exigir que lutemos pela Champions. Exigiremos, isso sim, o que exigimos esta época: que respeitem o Leão Rampante que trazem ao peito. E quanto a isso, a julgar pelos últimos nove meses, creio que podemos estar plenamente descansados.