Nestas últimas semanas, andam a tentar converter-nos à religião fundada em Carnide. E até já arranjaram o tipo que “leva a Palavra”.Obviamente que falo do treinador, Jorge Jesus. Glória a Ele e à sua Mensagem! Mensagem essa que raramente entendo…mas adiante…

Em cada programa ou emissão desportiva na televisão, assistimos essa romaria que tem como objectivo transformar estes dois anos do Carnide em algo divino, mágico  e com dedo do Criador. Na época passada, pregaram Jesus à cruz. Este ano, Jesus ressuscitou no Domingo de Páscoa. A primeira coisa que me vem à cabeça é precisamente isso que vocês estão a pensar e não me ocorre outra forma de o dizer senão aludindo àquele velho ditado popular: “Com papas e bolos…”

E isto diz-me o quê? Que se o Unáite é Cristo, o Leonardo Jardim só pode ser o Anti-Cristo. E porquê? Não promete a salvação de ninguém porque não se atreve a prometer aquilo que não controla. E lida mal com a bazófia preferindo sempre o caminho respeitável da humildade. E, não menos importante, também é o oposto do outro em matéria de gadelha. Ao contrário do treinador do Carnide, o nosso é simplesmente humano. Com todas as virtudes e defeitos que esse “estatuto” lhe confere. Não promete finais de Champions porque sabe que isso é ridículo, não promete goleadas porque sabe que não jogamos sozinhos e não garante títulos porque sabe que não tem “apóstolos” nem a “protecção divina”, leia-se, comunicação social e arbitragem.

Como o Jardim é um comum mortal, o que é que ele promete? Trabalho, empenho, dedicação. Nada mais. E sabe que se o seu trabalho for bom, a salvação estará sempre mais perto. Atenção, que ele não é um falso modesto, basta lembrarmo-nos da sua conferência de apresentação onde disse uma verdade que doeu a muitos: “Por onde eu passei, ninguém que veio depois fez melhor.” Estas palavras ecoam na minha cabeça como um pesadelo, principalmente numa altura em que estamos a tentar renovar com ele. Chamem-me supersticioso mas isto cheira mesmo a maldição…

Uma coisa é certa, se eu ganhasse 4M/ano, provavelmente também andaria a pregar uma qualquer religião para “iluminar o povo” e justificar o chorudo cheque no final do mês. Afinal, estamos a falar de 5 ou 6 anos que renderam…2 títulos nacionais com o maior orçamento em Portugal. Não vejo lá grande milagre nisto. Agora, pegar numa equipa de jovens, com orçamento para contratações ao nível de um Braga e vindos da pior época de sempre do Sporting…isso sim, pode ser considerado um pequeno milagre. Até mesmo para o verdadeiro Jesus. Digo eu.

Eu gosto do Anti-Cristo. Não do sentido literal da expressão mas da conotação que ela tem no futebol português. A mim não me enganam com “limpinhos” e prefiro sempre ouvir a verdade do que acreditar na pregação de uma Verdade, por mais divina que ela seja. E por isso, posso dizer com muito orgulho que enquanto o Óroliga for Jesus Cristo eu serei sempre Romano.

 

* todas as sextas, directamente de Angola, Sá abandona o seu lugar cativo à mesa da Tasca e toma conta da cozinha!