É que ainda estou a comemorar o final de uma época em que conseguimos a proeza de contar com apenas 1 treinador principal. Porque convém não esquecer que, desde a época 99/00, já tivemos 27 treinadores, o que dá uma média de 1,8 treinadores por época. Desses 27, contando com Leonardo Jardim, o actual treinador do Sporting Clube de Portugal(*), apenas 5 conseguiram iniciar e terminar uma época completa no Sporting. É um “feito” que apenas foi alcançado 8 vezes desde a época 99/00.

Ou seja, pela amostra destas últimas 15 temporadas desde 99/00, a probabilidade de um treinador que comece a época no Sporting chegar ao fim dessa época ainda no lugar é de apenas 53%, pouco mais do que “moeda ao ar”. Mas, na verdade, em 2 dessas 8 ocasiões, embora completando a época, a prestação dos respectivos treinadores ficou aquém do esperado e os mesmos não chegaram a começar a temporada seguinte (casos de Boloni e F.Santos). Portanto, na realidade, apenas podemos falar de 6 épocas (contando com a actual) realmente satisfatórias em que o treinador começou a temporada e acabou-a com uma razoável qualidade de resultados.

Era esta então a perspectiva de Leonardo Jardim quando assinou pelo Sporting: dado o histórico dos colegas que o antecederam, contava com uns miseráveis 36% de probabilidade de sucesso. Ou seja, o cenário mais provável era o de falhar e ser despedido ainda durante a época, ou então chegar ao fim mas ficar aquém do esperado. Leonardo Jardim enfrentou essas probabilidades adversas e, contra muitas expectativas (e alguns sonhos molhados), saiu verdadeiramente triunfante. Isto porque conseguiu algo que apenas 4 dos seus 26 antecessores mais recentes conseguiram: demonstrou que é possível no Sporting fazer-se um campeonato “normal”, sem sobressaltos — “com tranquilidade”, diriam alguns — mas sempre com ambição, sempre com os objectivos na mira.

E de repente, depois de vários anos de grande turbulência — principalmente depois das 4 épocas que antecederam esta última, durante as quais o Sporting contou com o impressionante número de 12(!) treinadores principais — duma só vez desfazem-se tão facilmente alguns mitos: o Sporting não tem que ser um “triturador de treinadores”; o Sporting não está num processo irreversível de “belenensização”; o Sporting não tem que ser considerado um “outsider” nas contas de um futebol português que muitos querem estritamente bi-polar. São mais de um século de histórias que eclipsam seja qual for a tendência dos últimos 4 anos ou 15 anos. Acima de tudo, foi isso que o Leonardo Jardim nos veio relembrar.

Não sei como será o Sporting sem Leonardo Jardim. Será diferente com certeza, mas continuará a ser o Sporting. E o Sporting é tão grande que provavelmente não fará assim tanta diferença como nos andam a tentar convencer que vai fazer.
Mas tenho uma ideia do que poderá ser o Sporting com o Leonardo Jardim, o treinador que desafiou a inevitabilidade matemática de uma anunciada bi-polarização tão “querida” de certos “manhosos” da praça. O Sporting com o Leonardo Jardim será uma ameaça, pelo menos para os que apregoam essa bi-polarização e a querem enfiar pelas nossas goelas abaixo. Não espanta, portanto, que apareçam agora capas atrás de capas, cheias principalmente de “whishful thinking”… eles têm as capas com as quais atacam, nós lutamos e resistimos, para já, por enquanto, lado a lado com o nosso Leonardo Jardim, actual treinador do Sporting Clube de Portugal(*). Mas, acima de tudo, lutamos e resistimos seguros dos nossos mais de um século, não só de histórias, mas principalmente de ideais, que vivem em nós, que partilhamos nesta e noutras “tascas”, que passamos aos nossos filhos e netos e que não vão desaparecer silenciosamente na noite. Por muitas capas que façam e por muito que se esfolem os partidários e porta-vozes da tal bi-polarização.

E, por falar em bi-polaridade, deixo agora um conselho para os Sportinguistas que nos últimos dias têm andado num frenesim maníaco-depressivo, a toque de caixa das capas manhosas. O Sporting (que somos nós todos) dispensa bem as vossas variações de humor. Mas, tal como com o Sporting, a vossa condição não é irreversível, o vosso problema tem solução. Por isso, por vocês, por nós todos, pelo Sporting: tratem-se. A terapia é simples, normalmente à base de uns comprimidinhos de lítio… Aviem a receita, tomem os comprimidos e tratem-se se faz favor.

(*) Tenho a perfeita noção que, nestes períodos de indefinição, as “considerações filosóficas” são muitas vezes ultrapassadas pela volatilidade dos factos “no terreno”. Apesar disso, aconteça o que acontecer, tenho a certeza que o essencial desta já longa verborreia irá sem dúvida manter-se. E, portanto, reitero: prezo muito o Leonardo Jardim, pelo que pode fazer pelo Sporting no futuro, mas principalmente por aquilo que já fez pelo Sporting só nesta época. E isso já ninguém nos tira.

 

Texto escrito por Leão de Trafalgar

*às quartas, a cozinha da Tasca abre-se a todos os que a frequentam. Para te candidatares a servir estes Leões, basta estares preparado para as palmas ou para as cuspidelas. E enviares um e-mail com o teu texto para [email protected]