Leonardo, já me tinha despedido de ti, mas depois da conferência de imprensa de ontem, que vi a tarde e a más horas (obrigado a quem inventou o rewind na programação), tenho mais qualquer coisa a dizer-te. A ti e aos milhares de Sportinguistas com quem partilho esta Tasca, diariamente.

Há uma ideia que, para mim, define tudo o resto: «a renovação estava acordada se, até ao dia de hoje, nenhum clube respondesse às exigências assentes em contrato», disse o presidente. Portanto, e perdoa-me se estou a ser injusto, tu até ficavas e até renovavas se não fosse possível cumprir o teu desejo: sair. Então, desculpa lá, ó Leonardo, ainda bem para todos que o Mendes (e já me estou borrifando para se o gajo quis foi minar o trabalho que estávamos a fazer) convenceu o russo a levar-te para o principado. Sê feliz, naquilo que tu, com o ar mais comprometido deste mundo, apelidaste de «dar mais um passo na minha carreira».

Confesso que não entendo essa tua perspectiva de dar mais um passo. Ou melhor, há duas hipóteses: ou queres varrer mais quilómetros aéreos do que o Bora Milutinovic, ou tudo o que te importa é amealhar euros na tua conta bancária e estás-te nas tintas por deixar um clube histórico para ires treinar um clube com duas mãos cheias de adeptos. Não sou hipócrita ao ponto de dizer que ganhar 10 vezes mais é coisa pouca. Em vez de poderes comprar um Clio todos os meses, passas a poder comprar um Ferrari para passear num paraíso fiscal. Fixe!
Mas, caraças, tu és treinador de futebol, certo? Chegaste ao «teu clube», como tantas vezes afirmaste, formaste um grupo, formaste uma equipa, deste-lhe princípios defensivos há muito arredados de Alvalade, colocaste a equipa a jogar à bola e a fazer uma primeira volta claramente superior aos principais rivais e quando as soluções faltavam para resolver jogos mais complicados, foste capaz de liderá-los no pragmatismo e no acreditar até ao fim (e por tudo isto, uma vez mais, o meu obrigado).
Tornaste-te um dos responsáveis pelo arrumar de uma casa que estava em pantanas e, agora, era chegada a altura de partir para as conquistas ao serviço do «teu clube». Seria esta, a última hipótese que tinhas de ganhar muito dinheiro? Duvido. Terá sido esta, a última hipótese de treinares o «teu clube»? Pensa tu nisso.

Mas já que falamos em dar mais um passo, mas já que falamos no «teu clube» que, afinal, também é o meu, deixa-me dizer-te que, no meio de uma agitação com a qual eu não contava, o meu clube também deu mais um passo. É que no meio do esfregar de mãos adversárias face a uma nova mudança de treinador, o meu clube mostrou, uma vez mais, que tem um rumo bem definido. Mostrou quem tem uma estrutura directiva sólida e que não pára de trabalhar, trazendo, de uma assentada, dois reforços de inegável qualidade para ocupar lugares onde era necessário reforçarmo-nos. E até foi capaz de ganhar dinheiro com a saída de um treinador quando, há um par de anos, andava a encher o cu a quatro técnicos ao mesmo tempo.
Se preferires, demos mais um passo rumo ao desejo de não sermos um clube dependente da bola bater na barra ou de termos um treinador capaz de ir limpando a merda que a direcção vai fazendo.

Posto isto, imagino-te com aquele ar de puto que partiu o vidro da porta do prédio, com um pontapé mal dado na bola. O ar com que estiveste ontem, durante toda a press. E, com esse ar, perguntas-me: «mas como é que o Sporting deu mais um passo, se vai ter que alterar processos que estavam solidificados?». Eu respondo-te: deu mais um passo porque, para lá de ter mostrado enorme elegância na forma como se despediu de ti, mostrou que quem vier ocupar o teu lugar tem uma estrutura sólida a trabalhar com ele. E, tenho a certeza, quando for apresentado esta tarde, à mesma hora em que tu partiste (19h45), terá um auditório cheio de adeptos, partilhando a ambição de ser campeão.