Não gosto de clubes que se tentam apropriar de uma cultura que não é a sua. O Benfica tem vindo a fazer isso, mas geralmente fazia-o sempre à imagem do FC Porto. “Aqui joga-se sempre para ganhar”, “O Benfica tem amealhado muito mais títulos do que o Sporting”, “Vencer a todo o custo”. Tudo frases escritas pelo profeta do norte, que uniram os adeptos do FC Porto em torno de um ideal e um ideal apenas: ganhar, a todo o custo.

Assim que o Benfica se apanhou com mais uns milhões no bolso, tentou-se sempre passar a ideia de que também em Carnide residia uma estrutura temível, que controlava a vida dos jogadores, de quem se sabia muito pouco do que se passava e com uma capacidade negocial extraordinária. Em todas essas contas, esquecerem-se sempre do que vê um adepto de futebol, mas que tem o azar de não ser do Benfica (azar porque não consegue encontrar informação imparcial). Atrocidades com 17 laterais esquerdos em cinco anos, comprar jogadores como Ola John por 9 milhões de euros, o caso Roberto, os Fariñas desta vida, nada disso significa uma má gestão, são apenas pedrinhas no percurso imaculado de 14 anos de Vieira naquela casa.

A todo o custo o Benfica tinha que se construir à imagem do FC Porto e a todo custo se tentava passar a imagem de que o Orelhas era apenas um Pinto da Costa mais querido, menos corrupto. Depois apanharam-no nas escutas, apagou-se o vídeo, assobiou-se para o lado e deixaram-no gritar em directo palavras como “Fruta” ou “Café com Leite”.
Agora que conseguiram o que tanto desejaram, três títulos, até se inventou a ideia de que era o primeiro triplete da história do futebol português quando, em 82, esse feito já tinha sido conseguido pelos rapazes de verde e branco.

Chegou então a altura de arrastar a teia para uma cultura que também não está na matriz do clube há muito tempo, mas que calha bem. Começou a nova campanha, montada pelo sistema lampiónico, e desta vez arranca em força.
Jornais (os mais peritos), televisões e rádios, sempre sob influência dos comentadores desportivos, lançaram a nova “verdade irrevogável” do mundo do futebol português: O Benfica é o novo bastião do jogador português, o grande investidor em termos de academias, o formador de grandes craques e a espinha dorsal de todas as selecções.. até chegarmos à principal.

Jorge Jesus geme em plena televisão “O Benfica foi quem mais promoveu jovens da equipa B para jogos na equipa principal, o Sporting apenas o fez com Carlos Mané”. Entretanto, o Rui Vitória e o Pedro Martins agarraram-se à barriga de tanto rir, o Paulo Oliveira até lágrimas deitava enquanto ligava ao Bruma que estava a fazer gelo em Istambul. O facto de, num jogo da Taça da Liga, Jorge Jesus espetar para lá o Cancelo e o Bernardo Silva é, por si só, a prova provada de estão a anos de luz na projecção dos seus jovens. Ao Benfica, e à megalomania de quem dirige aquele clube, não chegam títulos, têm de dominar tudo e de forma exímia. Contratar o Candeias e o Pizzi, com Eder e Rafa a ver se também mordem, é a prova provada de que J.J. está pronto para calar críticas dos que dizem que quando o jogador o percebe não joga nada.

LFV, na sua entrevista mítica, diz até, entre um sorriso orgulhoso, “o Benfica já domina as convocatórias das selecções jovens”. Como se isso fosse o que leva um clube a apostar na sua juventude, como se fosse argumento a favor de jovens como Luís Martins, David Simão ou Miguel Rosa que vêm as carreiras em clubes que lutam para não descer, quando poderiam ter evoluído no seu clube de sempre. Como se fosse uma verdade que não se altera facilmente no espaço de meses apenas, quando os jovens juniores do Sporting (quase todos na casa dos 17) cresceram apenas um ano e voltem ao lugar que lhes pertence: na elite.

Os comentadores dizem que é verdade, grandes investimentos foram injectados no Seixal e agora assiste-se ao crescimento de uma fábrica em série de verdadeiros mestres.
Vamos a factos. Da equipa principal do Benfica, Sílvio, Rúben Amorim (não completou os escalões jovens), Ivan Cavaleiro e Paulo Lopes foram formados no Benfica. Três deles tiveram de sair para ter valor para jogar no melhor plantel dos últimos 10000 anos, o outro vai para o Marítimo. Depois existem os dois Andrés, que juntos não têm um ano de juniores no Seixal e o que até tem uns bons mesinhos, está a caminho do Valência.

A cultura formadora em Portugal está num clube diferente, que não precisa de campeonatos de juvenis para provar que forma melhor que todos os outros juntos. Esse é o único facto que eu aceito como irrevogável. Cédric Soares, Adrien Silva, Rui Patrício, Wilson Eduardo, Carlos Mané, Eric Dier, André Martins e William Carvalho treinaram uma época inteira com Ricardo Esgaio e Rúben Semedo. Juntos são parte integrante do clube que ocupa o terceiro posto do mundo na utilização de jogadores formados nas suas escolas. Estamos a anos de luz no que toca à integração de um jovem no futebol profissional. Todos, ou quase todos, os timmings são perfeitos, o jogador tem uma maturidade muito a cima da média e, para além de tudo, o talento no pé daqueles miúdos.
“Em Alcochete eles nascem nas árvores” é uma das frases que um amigo portista pronuncia quando conversamos sobre algum jogador. Podem investir e pôr toda a imprensa a gritar que até na formação fizeram um triplete, nunca chagarão ao patamar de quem demonstra no seu museu três Bolas de Ouro. Continuem a vencer os campeonatos de juniores ou de berlinde, nós continuamos a pôr o capitão dos juniores a estrear-se desta forma:

Ps: para os adeptos que estão aos gritos a dizer que as contratações vão contra a política de apostar na prata da casa, subirão dois este ano, dois no próximo sempre assim, com a calma que um jovem exige.

 

Às terças, a Maria Ribeiro mostra que não há pipis como os desta Tasca (e que há iguarias que, definitivamente, sabem melhor quando preparadas por uma Leoa)