O Sporting já não caça gambuzinos
Escrito por José de Pina

O Sporting Clube de Portugal resolveu não apoiar, e bem, (ou então não teve tempo e ainda bem) nenhuma das estrambóticas candidaturas à presidência da Liga de Clubes. Fernando Seara, um homem do status quo da política, do futebol, e de tudo aquilo onde ele puder ir boiar nas águas turvas e lamacentas, mais uma vez foi apanhado em locais contraditórios e onde não era suposto estar. Uma vergonha. O candidato Rui Alves quis ser actor de um filme que já tinha sido feito há cerca de dois anos na Federação Portuguesa de Futebol. Que filme foi esse? O do arrependido que abandonou o padrinho Pinto da Costa. Na verdade, Rui Alves era o isco para Pinto da Costa continuar a controlar tudo

A candidatura de Seara era a manobra de diversão. Foi o que aconteceu com Fernando Gomes para a FPF, que quis passar a ideia que tinha saído do FC Porto em ruptura com Jorge Nuno Pinto da Costa querendo passar assim uma imagem de isenção. Temos visto… Rui Alves seria o remake deste filme. Mais um seguidor de Pinto da Costa que de repente entrou em ruptura com o mestre. Isto é dos livros.

O Sporting nunca poderia, a meu ver, apoiar Rui Alves, da mesma maneira que foi um erro Godinho Lopes ter apoiado Fernando Gomes para a FPF. Mário Figueiredo, no meio deste circo, acaba por ser a pulga amestrada que sai do carreiro, do sistema, e ao ter sido reeleito é o menos mau para o Sporting. A verdade é que o importante continua na FPF. É na federação que está o conselho de justiça, de Disciplina e o Conselho de Vitor Pereira, ou como é mais conhecido, conselho de arbitragem. Para as próximas eleições da FPF é que o Sporting tem de começar já a desenhar um plano de actuação. É aí que está o foco.
Nas ultimas semanas começou a nascer a tese de que o porto e benfica estão aliados. Não acredito. Quem começou com esta conversa foram alguns conhecidos portistas. A ideia desta cantiga, é fazer com que o Sporting volte a apontar as baterias todas contra o benfica, aliviando a pressão contra o porto.

O grande João Rocha nunca foi nesta cantiga. E ganhávamos! Já repararam que é quando o Sporting se desgasta em guerras intermináveis, as que vão para além da grande rivalidade, com o benfica que o porto se farta de ganhar? O porto está sempre a fazer do Sporting carne para canhão, atiçando a nossa rivalidade eterna com a lampionagem. O Sporting Clube de Portugal é um dos três grandes, aliás, é mesmo o melhor, e benfica e porto têm por isso de ter tratamento igual. O Sporting não pode voltar aos tempos em que andava a caçar gambuzinos enquanto os outros iam ganhando.

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O SPORTING E O TRATADO DE TORDESILHAS»
Por José Manuel Barroso

O patrocínio de SLB e FCP a uma candidatura para a Liga de Clubes, só de ser comum, seria estranho. Sendo as coisas o que são, é muito perigoso. É uma declaração de guerra ao SCP. As declarações do Bruno de Carvalho – que poderiam decerto ser mais contidas, na forma – espelham uma realidade que, não sendo nova, deixa de ser ponta de “iceberg”, para se transformar em “iceberg”. O que parece (em política, o que parece, é) é terem FCP e SLB uma agenda que deixou de ser secreta e meramente cúmplice para se tornar pública: prensar o Sporting e reduzi-lo a um Sporting de Braga mais.

A convergência de apoios a uma candidatura para a presidência da Liga de clubes, confirma um Tratado de Tordesilhas, a divisão do bolo do futebol português. Já existente, pela força das coisas, a nível de órgãos fundamentais da FPF (arbitragem, disciplina e justiça) e extensível agora à direção da Liga. Trata-se, a meu ver, de uma cumplicidade operacional efetiva para instaurar o rotativismo dos «dois grandes» (as duas bochechas de que falou BC e o resto), na luta pelo acesso direto à Champions – deixando, habitualmente, para Sporting e Braga a luta pelo lugar do “play off”(e enquanto ele houver).

Uma cumplicidade de interesses desportivos e financeiros, logo também no que respeita à negociação de facto com a banca dos enormes passivos dos «dois grandes». A entrevista de Vieira à RTP e as alusões ao passivo do Sporting e ao diálogo com o FCP (não lhe caíriam os pêlos das mãos, se falasse com Jorge Nuno… e eles já falaram tanto no passado!) foram o virar de página de uma «rivalidade» histórica. Vamos lá resolver os nossos interesses entre nós: passivo, diálogo forte com a banca, Champions e domínio do futebol português, sem alianças com terceiros, propôs Vieira a Jorge Nuno. Este deu uma cúmplice gargalhada, de resposta a BC.

Na verdade, o presidente do SCP disse apenas «o rei vai nu», volta o “sistema” como Tratado de Tordesilhas. (Já abordei este tema, em post recente, quando li as declarações do Vieira). Parece que alguns sportinguistas estão distraídos acerca desta realidade nova. Parece que o Bruno reagiu com violência verbal, retratando à sua maneira o que se desenha – talvez tenha feito de Bocage. Mas o Bocage era um grande poeta. E também me parece que, na crueza das palavras, relatava a realidade do «debaixo dos panos».