Portugal – Alemanha, minuto 10, mau alívio de Rui Patrício, bola em Khedira, quase golo da Alemanha. “Isto vai dar merda”, pensei eu. E pensei bem. Infelizmente. Ás vezes, o destino podia pregar-nos uma surpresa tipo marcarmos um golo depois desse momento infeliz do Grande Rui. Não seria inédito e nem se pode dizer que seria injusto. O problema é que o destino está-se marimbando para quem trabalha mal, para quem dobra colunas e para quem faz da teimosia a sua grande ferramenta de trabalho. E por isso, no minuto imediatamente a seguir (para não deixar dúvidas), o Casalense fez o penalty, levámos dois golos e depois o Pepe foi expulso. Mais categórico que isto era impossível. Se Deus existe, a sua crueldade para quem “peca” foi, neste caso, absolutamente implacável! Já imagino o Criador, sentado no seu trono celeste, ver no seu globo HD (Heaven Definition) a convocatória do Paulo Bento e pensar: “Estes tipos do rectângulo precisam de uma lição!” E foi isso que Ele fez. Primeiro, lesionou o Ronaldo, depois tirou força aos pés do Patrício, a seguir lesionou o Coentrão. Vá lá que, entretanto, compensou com a lesão do Hugo Almeida…Ainda assim, A Mensagem foi clara. “Ou trabalham como deve ser ou vem aí dilúvio”. E choveram golos na nossa baliza. Infelizmente, em vez de um Noé que escolheu os melhores espécimes para a sua arca, temos um Riscómeio que escolheu almeidas para a salvação nacional.

Portanto, estamos a colher o que semeámos há muito tempo. Quando temos uma estrutura liderada por um ex-administrador de uma SAD fruteira nunca se pode esperar mais do que esquemas e conluios. E, como tal, tudo começa na cabeça. E como a cabeça desta Federação sabe muito bem o que está a fazer (fala-se que vai ser promovido para a Uefa ou Fifa), tudo o resto vem por acréscimo, a começar pela renovação de um seleccionador por ter ganho, imagine-se, uma eliminatória contra a poderosíssima Suécia. Mas há que ir mais atrás. Isto foi uma história que começou a ser escrita na escolha do substituto do Carlos Queirós.  Tivemos uma história bonita com Scolari, a seguir veio Queirós foder tudo, qual seria a lógica? Exacto, voltar a um estrangeiro. Dinheiro não era problema já que o Paulo Bento é o 12 seleccionador mais bem pago do Mundo. A FPF preferiu regressar ao passado. A um passado onde os clubes e os agentes mandavam na selecção, onde o seleccionador teria que ser um “yes-man” e não levantar muitas ondas aos interesses de gente mais poderosa e com a promessa de uma carreira “bem gerida” no futuro. E escolheu Paulo Bento, um tipo que tem a imagem de um gajo duro, de coluna direita….mas que tem fome como toda a gente (depois do Sporting ficou arrumado na prateleira). A pessoa com a imagem certa, para o lugar certo. Pouco se discutiu as suas ideias ou o seu futebol, era preciso um sargentão, desta vez português, e Paulo Bento assentava que nem uma luva. E cedo começou a fazer jus à sua reputação. Queimou um dos melhores centrais que já vi jogar (Ricardo Carvalho), queimou o melhor 10 a seguir ao Deco (Danny), queimou dois dos médios mais competentes que Portugal tem (Tiago e Adrien) e, de queima em queima, arderam todas as árvores que poderiam ensombrar a sua autoridade. “Estamos unidos!” dizem eles. Que remédio…

Na teoria, sou adepto de um treinador português a liderar a selecção. Na prática, sou mais adepto de um treinador competente a liderar a mesma. Inúmeras vezes oiço a repetida frase “Os treinadores portugueses são os melhores do Mundo”. Não, não são. A maioria dos treinadores portugueses são uma bela merda havendo, obviamente, as excepções. Basta ver que o único treinador português verdadeiramente bem sucedido na Europa chama-se José Mourinho. Tudo o resto até se pode safar cá no burgo mas quando chegam lá fora espalham-se ao comprido. Portanto, ou Mourinho pegava na selecção ou teríamos que optar por um estrangeiro. Por todas as razões e mais algumas. Era preciso um tipo com tomates para fazer a renovação que se exigia, que arriscasse nos jovens que despontam, que não cedesse a pressões exteriores e que estivesse completamente “fora da rede” para poderem escolher com toda a liberdade que precisam para o fazer. Gajos que pegassem nisto sem vícios, sem preferências e reformassem a eito, que definissem um estilo de jogo atractivo incutido em todos os escalões, que fossem altamente exigentes, com treinadores competentes nos escalões inferiores e integrando jovens de forma rápida sem medo nem complexos.

Mais cedo ou mais tarde teremos que o fazer. Seja com um Van Gaal ou com um Luís Campos. A Alemanha fê-lo depois de mamar 3 do Sérgio Conceição. Nós mamámos 3 do Muller e cheira-me que mesmo assim não vamos aprender. Selecções como a Bélgica, Suíça e Sérvia começam já a ver frutos de uma verdadeira aposta na formação e já se encontram num patamar competitivo bem superior ao da selecção portuguesa, a tal que anda no quarto lugar do ranking da Uefa mas que precisa de ir a um playoff para ganhar um bilhete para o Brasil e que sofre uma das maiores humilhações de que há memória num jogo de um Mundial.

Quando é que vai haver tomates para dar um pontapé em: Bruno Alves, Pepe, Ricardo Costa, Meireles, Hugo Almeida e Postiga para dar lugar a, por exemplo: Paulo Oliveira, Ilori, Tobias, João Mário, Esgaio, Iuri, Bruma, Mané, por aí fora? Há duas formas de fazer a renovação: ou se espera que os clubes apostem nos seus jovens e aí estamos fodidos porque poucos clubes em Portugal o fazem ou aposta-se nesses jovens para a selecção obrigando os clubes a terem que dar minutos a esses mesmos jovens. E digo já, tou-me bem a cagar se é lampião ou tripeiro. Se estiverem  inseridos numa verdadeira política reformista, forem jovens e tiverem qualidade, aceito de bom grado que suplentes ou não convocados possam ser chamados à selecção de todos nós. Agora, se for apenas para agradar alguns clubes enquanto se marginalizam outros como foram os casos das chamadas do Cavaleiro e do André Gomes, sou o primeiro a repudiar uma “renovação para Mendes ver”. Acima de tudo, que o critério base seja o da meritocracia que é, com toda a franqueza, aquilo que falta a esta selecção. Não faz sentido que bons jogadores que fizeram épocas excelentes ficarem de fora em detrimento de vacas sagradas que andaram o ano todo lesionadas. É preciso, igualmente, que os bons valores que jogam regularmente nas suas equipas como: Cédric, Adrien, André Martins, Pedro Tiba, Bébé, Luís Leal, etc. também tenham as suas oportunidades que jão muito vão fazendo por merecer. Também é preciso reaproveitar jogadores que ainda podem fazer algo pela selecção como Quaresma e Danny. Porque a maioria dos que lá estão acomodaram-se. Sabem que não jogam um caracol e vivem apavorados que um qualquer William, Bruma ou Mané lhes roube o lugar ao sol tal como, nos seus clubes, alguém já o terá feito. Há muita gente que precisa da selecção para continuar a ter visibilidade e/ou para fazer o último grande contrato das suas carreiras.

No fundo, é preciso fazer uma selecção completamente nova. Pegar apenas nos bons (Rui Patrício, Coentrão, William, Moutinho, Ronaldo, Nani e Éder) e compor o resto com os jogadores que referi acima. Vai ser duro, podemos até falhar o próximo Europeu mas os frutos serão colhidos a longo prazo. Temos uma geração de jovens cheia de talento e temos um conjunto de jogadores mais velhos que vão comer relva para aproveitar a sua primeira oportunidade. É nisto que temos de nos apoiar. É preciso sangue novo, mais vontade, mais determinação, menos circo, menos tatuagens…coisas que este elenco já não é capaz de garantir.

Estamos numa encruzilhada. Chegou a altura de tomar decisões. E digo isto, independentemente do nosso futuro no Mundial. Já era importante antes do Mundial, passou a ser urgente depois do jogo com a Alemanha e, quando regressarem para o rectângulo no fim da competição passará a ser crítico. O grande problema é que as pessoas “eleitas” para executar essa renovação chamam-se…Fernando Gomes e Paulo Bento (com o patrocínio mendiano).

Depois deste Mundial, avizinham-se “bentos” de mudança. Bentos que fedem.

 * todas as sextas, directamente de Angola, Sá abandona o seu lugar cativo à mesa da Tasca e toma conta da cozinha!