Há quem se admire pelo facto de, sendo português, ter espaço para gostar de outras selecções que estão no campeonato do mundo.
Há quem não perceba, por exemplo, o porquê de eu dedicar um post a fantásticos vídeos de apoio ao Chile, selecção que leva para o campo uma vontade inacreditável, um espírito de equipa à prova de qualquer coisa, que desafia toda a lógica ao jogar com defesas centrais de palmo e meio e que até tem um craque que diz ao mundo que gostava de jogar com calções mais curtos, daqueles que, aos olhos do puto que eu era, faziam as pernas do incrível Sócrates ficarem de um tamanho surpreendente.
Há quem não entenda, por exemplo, porque raio fico eu tão sorridente com uma vitória da Costa Rica, selecção de um rigor táctico fantástico, de uma predisposição para disputar qualquer lance durante os 90 minutos e que chegou ao Brasil envolta naquele espírito que, ao longo de 15 dias, me fez apaixonar pelo país e pelas suas gentes. Gentes que sempre me brindaram com um sorriso e com um até já transformado em “pura vida!”.

Podia dar mais exemplos da ligação a selecções só porque sim (a Jugoslávia do Ivkovic, a bulgária do Bala e do Iorda, a Bélgica do Jean-Marie Pfaff, a argentina do Diego, os Camarões do Roger Milla, a Roménia do Hagi e do Raducioiu, a holanda do Marco, do Ruud e do Frank, a Nigéria do Amune(i)ke, entre outras), mas prefiro passar ao ponto seguinte: há quem não entenda porque raio é que, estando a jogar Portugal, eu não me esqueço do Sporting.

Em primeiro lugar, porque não sou dissimulado. Gosto mais do Sporting do que da selecção. Ponto. Mas isso não me retira vontade de capacidade de torcer pela nossa selecção, bem pelo contrário. Como? Eu explico.

Ora bem, eu sou adepto de um clube que anda, há décadas, a alimentar as nossas selecções. Primeiro as selecções jovens, cada vez mais a selecção principal, que sem os jogadores formados pelo Sporting estaria a ter um mês de junho mais descansado do que aqueles treinos em que, ao fim de meia hora, o Paulo Bento manda os jogadores tirarem selfies com os adeptos. E, imaginem, tenho que lidar, também há décadas, com uma máquina futebolística made in Portugal que tem como principal objectivo… lixar o Sporting! É dose, não acham? Chega-se ao ponto, imaginem vocês, de não se convocar um titular do Sporting, capitão de equipa e com lugar, de olhos vendados, na selecção, para que ele entre em modo de histerismo e acabe a assinar por um dos dois clubes concorrentes.

Mas há mais. Como vocês devem saber, o actual seleccionador nacional já foi treinador do meu clube. Há quem me chame mal agradecido por criticar quem me deu algumas taças, mas eu costumo dizer que o estar-lhe grato por isso não invalida que eu seja capaz de ver o mediano treinador que ali está. E que olhe para a selecção e veja uma espécie de réplica do que aconteceu no Sporting. O homem entra bem, junta o balneário num grito de guerra, ganha uns jogos, faz uns floreados e ganha o seu espaço. Arranja merda com meia dúzia de jogadores, todos com condições para serem titulares, e monta o seu quartel. E as coisas vão resultando, até ter que ser feita nova recruta. Aí é que a porca torce o rabo, porque fazer uma renovação não é trabalho para o Paulo.

O gajo safa-se a trabalhar em cima de modelos tácticos anteriores, aproveitando o que de bom foi feito e formando um núcleo duro de atletas. O pior, é quando os executantes do modelo táctico começam a dar mostras de precisarem de ser substituídos. Substituir?!? Era o que faltava! Não sei, mas não digo que não sei! Digo que não quero! Faço uns favores que me valem ir renovando contrato antes de fazer merda da grossa – convocam-se jogadores sem qualidade, convocam-se jogadores presos por arames, deixam-se de fora uma mão cheia de jogadores sem justificação ou utilizando justificações ridículas – e uso os mesmos até não se mexerem em campo (literalmente, tendo em conta o que vimos frente à Alemanha). Não admira, por isso, que frente à Alemanha tenham jogado 10 dos 11 que jogavam em 2012 (ficou o Postiga no banco), sendo que, pelo menos 4 não deviam ser titulares.

Tudo isto se agrava com o facto de Cristiano Ronaldo estar a jogar lesionado. Porque a táctica de Portugal vive, em 80% do tempo (pelo menos), da máxima “mete a bola no Ronaldo que ele resolve!” (como aconteceu na Suécia, por exemplo, e como aconteceu no Sporting, onde era mete a bola no Liedson que ele resolve). Os restantes 20%, dividem-se na tentativa de marcar um golo de canto, na tentativa de marcar um golo de livre e, quando os artistas estão para lá virados, em fazer umas jogadas bonitas que envolvem quatro ou cinco elementos. Foi assim que chegámos ao Mundial, no apuramento tão penoso como esta participação ameaça ser.

Eu vejo isto, tu vês isto, milhões de pessoas conseguem ver isto. Mas quando se escreve algo do género, acusam-nos de sermos pouco patriotas. Puro engano, pessoal. É que, conseguindo ver tudo isto, sentindo-me revoltado com o facto da selecção, ao invés de ser uma fonte de prazer (é futebol, porra!!!) ser uma extensão dos compadrios que têm transformado este país no país, das politiquices, dos jobs for the boys, dos amiguinhos e do raio que parta, mais daqui a pouco eu estarei a sofrer por Portugal. Eu e mais não sei quantos milhões, muitos deles conseguindo esquecer que tiveram que fazer as malas, precisamente, porque há que viva de fazer favores e há quem governe fingindo não percebe que é necessário renovar. E querem que seja mais patriota?!? Impossível!