Parece-me inegável que o jogo de ontem mostrou que o trabalho feito pela nova equipa técnica ao longo destas três semanas, começa a fazer-se notar. E sinceramente, para lá do prazer de ver o Sporting marcar mais três golos e ganhar mais um jogo, esse é o ponto mais importante a retirar da vitória sobre o Utrecht.

Marco Silva tem, claramente, um onze definido na sua cabeça: (redes) + Cédric, Maurício, Dier e Jefferson + (seis), Adrien e André Martins + Carrillo, Montero, (extremo).

Temos, portanto, três posições em aberto:
– na baliza, Boeck vai subindo de rendimento a cada jogo, dando sustento à teoria de que depois de ter uma sequência de titularidades colocaria de lado as pequenas falhas de concentração e aquela espécie de nervos que parecem durar os 90 minutos. Não acredito que a titularidade escape ao Rui, mas Marcelo está a fazer pela vida, como bem demonstrou ontem, com uma enorme defesa já perto do final e, claro, a rapidez de reflexos que lhe permitiu defender o penalti;
– no vértice mais recuado do meio-campo, Uri Rosell continua a não deixar margem para dúvidas sobre a mais-valia que foi a sua contratação, mas a presença de William, como se viu ontem, é outra coisa. Basicamente, temos um dos melhores seis do mundo e um suplente que nos deixa dormir descansados. Podemos pedir mais?
– uma das extremas atacantes continua em aberto. Ontem, Capel até pareceu mais entrosado e consciente das movimentações colectivas, mas não pode ser ignorada a boa pré-época de Shika, fazendo um esforço para colocar a técnica ao serviço do colectivo, e o facto de Mané estar a sofrer na pele o resultado da primeira pré-época na equipa principal. Mas parece-me inegável que continuamos todos com a sensação de que precisamos de mais alguém para as alas ofensivas.

Para lá das opções no onze, este Sporting começa a mostrar interessantes nuances em relação ao de Jardim. Adrien e Martins são dois excelentes exemplos: o primeiro, para lá de aparecer em excelente forma e de pautar o jogo da equipa, parece ter missão e total liberdade para aparecer à entrada da área e disparar para golo (ontem, os dois primeiros surgem de recargas a remates seus e um terceiro embateu no poste); o segundo joga como apoio efectivo ao ponta-de-lança, surgindo muito mais próximo da área do que era habitual e… marcando golos!

Ora este André Martins revigorado, obriga João Mário a ter que pedalar muito para agarrar a titularidade, o que para nós é um autêntico luxo. E há Slavchev, que se vai mostrando cada vez mais entrosado e vai dando indicações do que realmente pode valer. É fantástico ter todas estas opções para o miolo. E todo este carrossel que torna os médios muito mais próximos das zonas de finalização, pode ser um os maiores trunfos deste Sporting de Marco Silva.

Outro desses trunfos, ouçam-nos os deuses de Machu Picchu, poderá ser Carrillo, o melhor dos nossos extremos, mas, também, o mais inconstante e exasperante, especialista em desperdiçar o talento nato com que nasceu. Se der continuidade ao que vem fazendo nesta pré-época, arrisco dizer que será uma das figuras do campeonato.

Depois há uma defesa que vai solidificando processos, com Cédric a voar pela direita, Jefferson à esquerda e uma dupla de centrais formada por Maurício e Eric Dier, que mereceu o seguinte comentário de Co Adriaanse: «Por ser um jogador alto, parece ser pesado e com pouca velocidade, mas não o é. Teve lances muito bons. Parece-me um jogador muito completo».

E por falar em completo, o que dizer de Montero? «O Montero pareceu-me muito bom jogador», disse o mesmo Adriaanse, no final de um jogo onde o colombiano espalhou classe, mas onde pecou na finalização. E isso é um problema. Sendo ele a referência ofensiva da equipa, não basta jogar e fazer jogar, não basta espalhar classe e assistir. Tem de fazer golos. Que o diga Tanaka, que vai deixando de olhos em bico os mais cépticos. E falta Slimani, um goleador nato, que poderá obrigar Marco Silva a rever opções e a movimentação da equipa.

O próximo jogo, frente ao Twente, elevará o grau de dificuldade, mas a verdade é que o de ontem já mostrou que isto começa a ser muito a sério.