Faltam dez minutos. E o empate já não chega.
Depois do entusiasmante 0-0 da primeira mão, arrancado em casa daquela que é apelidada de melhor equipa do mundo, o golo sofrido em casa, a fechar a primeira parte, foi um balde de gelo despejado nas cuecas. Estamos a jogar bem, muito bem mesmo, mas a puta da bola teima em não entrar. Bateu no poste. Bateu na barra. E até já ensaiou um número no arame, ao andar sobre a linha antes de bater novamente no poste e encaminhar-se para fora.

Faltam dez minutos. E o empate não chega.
Olho à volta. Alvalade cheio como no dia da inauguração (ou mais, porque vejo pessoal sentado nas escadas). Rostos tensos. Há quem olhe para o céu. Há quem olhe para o chão. Há quem já não olhe para lado algum, procurando aconchegar o rosto na palma das mãos. Há quem ameace enforcar-se no próprio cachecol. E há quem o tire, à medida que os nervos alimentam a subida da temperatura corporal. Há quem roa as unhas. Há quem já vá nos dedos. Mas ninguém arreda pé. Afinal, faltam dez minutos.

É pontapé de baliza a nosso favor. Sai-se a jogar, como de costume, desprezando os chutões que inviabilizam aquilo que melhor sabemos fazer: jogar à bola. O Rui mete no Cédric, que mete no William, prontamente marcado por dois adversário. Não consegue virar-se. Dá atrás, no Rojo, que ensaia o passe para o Jefferson, mas que acaba por arriscar arrancar com a bola colada ao pé. Vai perder a bola, face à pressão, parece-nos a todos. Puro engano. Ela sai redonda para os pés de Adrien, que pode aproveitar o desequilíbrio provocado no adversário. É o que faz. Pimba, bola na direita, teleguiada, onde Carrillo recebe a caminho da quina da área. «Vai, caralho!», grita-se um pouco por todo o estádio. E ele vai, para cima dos dois defesas. Passou! Eu levanto-me da cadeira, tu levantas-te da cadeira, o estádio é um velhinho Alvalade, com um peão a toda a volta! Já está dentro da área. «Chuta!» «Centra!» «Mete ao meio!». Ele chuta, com força, rasteiro e cruzado, desafiando uma floresta de pernas amigas e adversárias. Goloooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo! Alguém empurrou a bola para o fundo das redes e pouco importa quem é naquele momento! Está lá dentro e o nosso coração está cá fora. Há risos, há lágrimas, há olhos que se cravam no relógio. Sete minutos. Dá tempo, foda-se! Tem que dar tempo!

«Nós acreditamos em vocês!» O grito vira cântico. E mesmo quem não canta ajuda a cantar. Cinco minutos. Penalti!, gritamos todos. Querias… era a favor do Sporting… Quatro minutos. A nossa defesa está sobre a linha de meio-campo. O adversário queima tempo, com uma substituição. Falta à entrada da área. É agora! Penso eu, pensas tu, pensam todos. Rostos tensos. Há quem olhe para o céu. Há quem olhe para o chão. Há quem já não olhe para lado algum, procurando aconchegar o rosto na palma das mãos. Há quem ameace enforcar-se no próprio cachecol. E há quem o tire, à medida que os nervos alimentam a subida da temperatura corporal. Há quem roa as unhas. Há quem já vá nos dedos. Parte para a bola…



Alvalade abana, num frenesim de gritos que se ouve a quilómetros. O coração ameaça explodir, a cabeça lateja, a voz ficará ausente uma semana. Abraço os que me são próximo e os que nunca vi. Carrego às cavalitas alguém que saltou de duas filas acima. Pouco me importa quem é. É um dos nossos. É do Sporting. Faltam dois minutos e ninguém mais irá sentar-se. Na bancada ou no banco de suplentes. Falta um minuto e, enquanto as lágrimas rolam pela face, ninguém vai parar de cantar. Acabou e nas próximas semanas jogaremos a conquista do título e a final da Champions League.

O jogo acabou há dez minutos. E ninguém saiu. Canta-se, aplaude-se, partilha-se. O Sporting é meu, é teu, é nosso. Não sei se o gajo que me aterrou no lombo, há coisa de um quarto de hora, gosta da cor dos calções ou votou na mesma lista que eu. Não sei se acha que apostamos muito ou pouco na formação. Não sei se é cogumelo, croquete, seguidista, brunista. Sei que é Sportinguista. Como eu. Como nós.

Bem-vindos de volta à nossa Tasca, companheiros!