Olá,
pode parecer-te estranho estares a receber uma carta minha, até porque nunca precisámos de usar palavras, escritas ou faladas, para comunicar. Lembras-te da primeira vez que me viste? Sei que te lembras. E eu também me lembro, como se tivesse sido há um par de horas. Lembro-me do teu olhar, do teu sorriso, da forma como me fixaste uma e outra vez. Acreditas que, mesmo sendo eu um Leão com mais de um século de história e tantas batalhas travadas, quase corei com a forma como me olhavas? Paixão. É isso. Paixão. Foi isso que vi no teu olhar e no teu sorriso. Foi isso que senti quando, depois de vestires a mais bela camisola do mundo, o teu coração disparou. E sabes o que me deixa mais orgulhoso? É sentir que essa alteração de ritmo cardíaco continua a acontecer de cada vez que me colas ao teu peito.

Temos passado por muita coisa juntos, até porque nisto das paixões o pouco tempo faz-se tanto e o tanto tempo passa mais rápido do que o pouco. E há coisa de dois anos, enfrentámos juntos um dos maiores desafios desta nossa relação. Deixaram-me enfraquecer ao ponto de ter que estar ligado à máquina. Mas de cada vez que me visitavas, me seguravas, me colocavas ao peito, me enrolavas ao pescoço ou me deixavas sentir o vento na juba ao ritmo do dançar de uma bandeira, eu ganhava novas forças. Cheguei a ouvir-te dizer que estavas disposto a abdicar de tudo. Menos de mim. Que recomeçaríamos do zero, se fosse preciso, mas que não deixarias de estar a meu lado e que tudo farias para que eu voltasse, imponente, a assumir a posição de combate assente nas minhas patas traseiras.

Dizem que os homens não choram, mas como eu sou um Leão posso dizer-te que os olhos se me encheram de lágrimas. Nessa altura eu tive a certeza que há qualquer coisa de mágico que nos une. Tão mágico, que chega a parecer estranho a muitos dos que nos rodeiam. Tão mágico que, e talvez não tenhas chegado a ter essa noção, é esse teu coração acelerado pela minha presença que me tem feito rugir pelos quatro cantos deste mundo redondo. É esse teu coração acelerado que torna reais as palavras esforço, dedicação, devoção. É esse teu coração acelerado que celebra a glória como nenhum outro. Nós, juntos, somos o Sporting!

Significa isto, que quem ataca o Sporting está a atacar-nos. A mim. A ti. A nós. E a poucos dias de começar uma nova época, estamos a ser atacados. Empresários, fundos, comunicação social, adversários directos, reuniram forças para um ataque de dimensão que, confesso, me escapa à memória. E o que eu menos preciso, neste momento, é que te esqueças de mim! Podes não gostar dos presidentes, podes não gostar dos jogadores, podes não gostar dos equipamentos, podes não concordar com a política seguida, podes querer alterar mil pormenores no estádio, podes dar mais ou menos para a construção do pavilhão, podes gostar mais ou menos das modalidades… Mas, peço-te, pára por um momento e pensa em mim. Volta a olhar para mim com aquele olhar e com aquele sorriso, como da primeira vez. Volta a fixar-me, uma e outra vez, até quase me fazeres corar. Coloca-me sobre o peito e sente o coração acelerar. Recupera a paixão que nos une. Fomos feitos um para o outro! Eu e tu. E nunca te esqueças que, sem ti, não conseguirei chegar ao outro lado deste campo de batalha, a maior com que já me deparei, e rugir, tão alto quanto o estremecer, a palavra que sela este nosso amor: Sporting!