E ao 129.323.929.392.212 dia, o Senhor descansou. E enquanto ressonava criou os “paineleiros”. O nome advém de serem elementos que pertencerem a um painel de debate, mas na verdade quem teve sempre fama de passar o tempo a falar inconclusivamente de coisas que não percebe já teve outros nomes, paineleiro é apenas a versão pimbo-etimológica mais recente.

Erradamente alguém pode ver alguma riqueza no facto de ser um programa-debate. Mas basta ver 2 minutos para se entender que ali ninguém partilha ideias. A “cassete” tem de ser passada e nada do que os “outros” possam dizer merece crédito. Os paineleiros futebolísticos não debatem, batem. Só falam, não escutam. São políticos, advogados, cirurgiões, fadistas, economistas, todo e qualquer bandalho que seja “da televisão” e remotamente entendido na conversa da bola tem lugar nestes programas. Uns melhores que outros, mas regra geral papagaios finos e altivos que sempre que se desviam da cartilha de opiniões mais que feita…sai asneira. A tribo do futebol, e estamos a falar de quase todas as pessoas que vão aos estádios mamam estes programas como se fossem Smarties e isso faz dos conteúdos de todas estas horas muito do guião das conversas dos dias posteriores.

Logicamente e visto cada um dos 3 grandes participar num campeonato paralelo de “vantagens políticas”, isso faz do paineleiro uma espécie de lobista de massas. Muitas destas aberrações valem apenas e só da dinâmica de confronto entre a visão de benfas, tripas e Sportinguistas sobre os mesmos temas. Mas valha a verdade a qualidade de análise é tão fraca que o tempo escorre entre as banalidades e a ausência de profundidade…passadas 2 horas de ver uma coisa destas sabemos o mesmo e o nosso QI só intervém para ficar enojado com a falta de “fair-play” dos paineleiros adversários. É um freakshow ideológico de gentinha que gosta de se ouvir a si mesma e que revela noções de desportivismo que envergonhariam Goebbels, alguns chegam mesmo a “esquecer-se” de ter o mínimo de dignidade e respeito pela verdade, normalmente para poder mostrar que dominam os argumentos melhor que os outros paineleiros.

Gostaria de poder dizer que os paineleiros leoninos são melhores que os outros, mas não são. Se o fossem não aceitariam participar conversas fechadas com finais determinados. Dizem-me que este e aquele são pessoas integras e coerentes, eu respondo que tenho a certeza disso, mas um gajo de nariz vermelho dentro de uma tenda de circo para mim será sempre um palhaço. Em tempos era espectador assíduo de um destes programas. Mas comecei a entender os ciclos do moderador, do privilégio do tempo dado a alguns. Comecei a entender que são ofertas de frases feitas transmitidas segundo um guião pré-estabelecido, que nada fala de futebol. Ruído. Apenas ruído.

A esmagadora maioria destes programas é anti-desporto, anti-futebol e anti-espectáculo. Promovem a polémica, o desacordo e a desconfiança. Depois de largarem o osso, deliciam-se e contam as notas ganhas com o sangue dos cães na arena. Os figurões de gente adulta, séria e educada a discutir sobre um penalti como se fosse a invasão da Ucrânia contribui zero para o crescimento do adepto e do jogo. Enriquece o bolso da televisão, do moderador e do paineleiro. Mais nada. Portanto, caros tasqueiros, não levem como um insulto a minha opinião. Se gostam e têm estômago para assistir aquilo, façam-no. Mas peço-vos só um pequeno favor, quando acabarem de ver o genérico de fecho…esqueçam tudo o que ouviram, não espalhem aquelas opiniões por aí, a probabilidade de serem disparates, falsas ou com segundas intenções são elevadas.

 

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca