Já ando para escrever isto há muitos e muitos dias. Mais ou menos desde o jogo com o Arouca que foi quando começaram a falar do Marco ter de largar o sistema do Jardim. Só que, lendo alguns comentários perco logo a paciência e saio daqui mais rápido do que entrei.

1º. Não é verdade que o MS jogue no sistema de jogo de LJ. E até é fácil de perceber. Basta para isso atender às dificuldades que a equipa mostra no jogo entrelinhas do processo defensivo. Em que, os centrais (nomeadamente o Maurício) mostram muitas dificuldades em sair da linha defensiva e atacar o portador da bola que passa o duplo-pivot – DUPLO-PIVOT – Adrien e William. Ou seja, já não jogamos em 4-3-3, jogamos sim em 4-2-3-1. Jogamos sem trinco, sem um “6” puro. O William joga no duplo-pivot como pivot de características mais defensivas. Esta é a primeira diferença. E aqui é o primeiro problema da diferença de jogo do William. Jogar com alguém ao lado. E o primeiro problema do jogo do Maurício. Ter de sair para bloquear a linha de passe. Já não pode ser só o central que “bola-vem-bola-vai”

2º O modelo (a ideia) de jogo de Marco Silva é infinitamente mais variado que o de Jardim. E começo no William. Se repararem muitas vezes William aparece em zonas de finalização. Não me lembro de nenhum remate (tirando as bolas paradas) feito por ele na última época. Muitas vezes até, Martins e Adrien estão atrás dele no processo ofensivo.
Os nossos extremos já não colam sempre à linha. Têm tendência a jogar mais pelo meio. Criando espaço para as subidas dos laterais que não em overlaping.
Temos um fio de jogo muito mais fluído, dinâmico e criativo. Deixando literalmente o nosso adversário sem saber por onde vamos atacar no próximo round. Jogamos pelas alas, jogamos pelo centro, jogamos direto ou em triangulações, tiramos o PL de entre os centrais ou o PL estica tudo. Deixo uma pergunta, em quantos lances esta época conseguimos já deixar algum dos nossos jogadores isolados na cara do redes? E isto contra equipas pequenas e que jogam fechadas e nos últimos 30 metros. (lembro Carrillo agora, Slimani, Esgaio, Montero etc. etc.)
Metemos sempre entre 3 a 4 jogadores dentro da área para finalizar (menos em contra-ataques rápidos. Slimani, o extremo do lado oposto ao da bola e um ou dois médios (que muitas vezes é o William).
Slimani (que evolução rapaz – até me benzo só de pensar que defendi que devias ser tu a sair porque não pensei que fosses ser titular) já não é o PL só de área. Como no ano passado. À espera de cruzamentos. Está muito mais evoluído. A começar pelo capítulo técnico. Melhor no passe e na receção, e melhor por isso no envolvimento com os companheiros. Tira várias vezes os centrais da sua zona de conforto obrigando a que sejam os laterais a fechar por dentro e abrindo autênticas avenidas para extremos e laterais.
Laterais – muito menos preponderantes a defender. Jogam 15 metros mais à frente. Muito mais ofensivos.

3º – O pressing. O Sporting joga muito mais subido, recuperando a bola muitas vezes em meio campo adversário. Queimando 2/3 linhas de passe mais próximas do portador da bola. E caindo sempre com 1 ou 2 jogadores em cima do portador. No ano passado recuávamos a linha e deixávamos o PL e o Martins junto aos centrais. Este será o único ponto em comum com Jardim. O processo defensivo de Martins. E é fácil perceber porque joga o Martins. Ontem, se bem repararam, já com João Mário em Campo isso na acontecia. O JM fechava no primeiro médio de construção que recuava para receber, e vemos o Slimani a andar de central para central até que para e manda JM subir. Isto é algo que penso que vai mudar pois, parece-me que será JM a pegar na equipa agora.

Muitas muitas diferenças. E podia continuar. Por isso, não concordo nada quando dizem que o Marco tem de se assumir e cortar de vez com o sistema e modelo de LJ. Isto porque o sistema já não é o mesmo e o modelo é completamente diferente. Ontem, vi o João Nunes (jornalista da Antena 3 da Antena 1 e da RTP – e creio que ainda comenta os jogos da liga inglesa na Sporttv) dizer que ainda não tinha visto o Sporting jogar mal nenhum jogo. Eu também não. É a par de Jozic o melhor futebol que vi. E só não está ao nível de Robson porque não temos nenhum Stan Valkx na defesa. E sim, para mim a equipa de Jozic jogava melhor que a do Peseiro. As falhas e os golos que temos sofrido são de erros individuais e não coletivos. Ou seja, de limitações e não de processos. E o problema é que muitas vezes tem o mesmo protagonista. Maurício parado em vez de atacar a bola no golo da académica, Jefferson a andar atrás do salvio ao invés de se colocar entre a bola e a linha de baliza, já alguém descobriu o Maurício no golo com o belenenses?, e agora esta falha dupla, Sarr alivia a bola para a frente se faz favor, não queiras atrasar para o RP e Maurício, aí a bola tira-se em vólei e não em chutão…

Eu vi e revi todos os jogos do Sporting, para ver sem emoção e não analisar as coisas a frio. Para ver as movimentações da equipa. E eu, como adepto de central que assumo que sou, gosto de ver o jogo sentado sem cantar e mais concentrado, dou por mim muitas vezes à beira da cadeira porque de facto o futebol está a ser bem praticado. Espero mesmo que o presidente mantenha o treinador e seja imune às imbecilidades que são ditas como o Cherba referia e bem no texto do “não chegas ao natal”. Marco Silva é o melhor treinador que poderíamos ter. Já dizia Guardiola “jogando bem, podemos muitas vezes não ter o resultado desejado, mas estamos sempre mais perto de vencer consistentemente uma e outra e outra vez” e já dizia também Pekerman “dá muito mais trabalho ensaiar uma orquestra que uma banda nova de pop, é que uma orquestra ensaia-se para se manter no topo durante décadas e há algumas com séculos, uma banda pop cria-se para 3 ou 4 êxitos…”
Marco Silva tem um projecto à sua frente. Saibamos entendê-lo!

 

Texto escrito por Tiago Pinto 

*às quartas, a cozinha da Tasca abre-se a todos os que a frequentam. Para te candidatares a servir estes Leões, basta estares preparado para as palmas ou para as cuspidelas. E enviares um e-mail com o teu texto para [email protected] (este texto é publicado hoje para que não perca actualidade)