Muito se tem discutido sobre o onze com que o Marco Silva nos tem presenteado. Analisemos então em detalhe cada um dos titulares (já a contar com o João Mário):

Guarda-redes: Rui Patrício
Estado da arte: Figura cada vez mais consensual no clube. É um porto de abrigo para a defesa leonina, o homem que vale pontos pelas defesas que realiza em momentos cirúrgicos. Não é um fora de série. Não é um predestinado. No berço ninguém lhe atestou que havia nascido para a posição 1. Tudo aquilo que conquistou é fruto de muito trabalho, do seu profissionalismo, da sua conduta extra desportiva isenta de casos cabeludos e claro, à aposta dos treinadores que lhe deram um voto de confiança no início da carreira, altura em que nem sempre as coisas lhe corriam bem. Não é elegante, nem é gracioso e isso pesa para os comuns dos mortais. Há pessoas que preferem um Redes que dê frangos, desde que apresente uma postura a fazer lembrar Nureyev (e Vítor Baía ganhou tanto com isso), do que aquele que faz grandes defesas num jeito algo atabalhoado. Para mim, antes de tudo, pede-se a um Guarda-Redes que impeça a sua equipa de sofrer golos e é para isso que temos de olhar. Patrício nesse aspeto cumpre plenamente.
Plano de melhoria: Pode ganhar mais voz de comando para orientar a defesa, a linha de fora de jogo e as devidas compensações ao jogador que temporariamente saiu do lugar e porque não, insurgir-se contra os defesas quando borram a manta (lembram-se de Peter Schmeichel?). O famigerado jogo de pés pode igualmente melhorar. Tem vindo a evoluir, mas ainda há margem de progressão. Fazer da redondinha o seu principal amigo seria ótimo, sendo impossível, pode pelo menos transformá-la numa boa amizade. Finalmente deve evoluir a lançar jogo, quer com os pés ou com as mãos. Um contra ataque parte muitas vezes da forma rápida e eficaz com que o guardião inicia a transição. Requer visão de jogo, sentido de oportunidade e capacidade de colocar a bola na hora e no sítio certo. Isso também se treina e é essencial no futebol moderno.

Defesa Direito: Cedric Soares
Estado da arte: Ao contrário de Patrício, nasceu para isto. Robusto, resistente, veloz, raçudo e com pezinhos q.b. é dono e senhor do lugar. Não tem boa imprensa, nunca teve (compare-se por exemplo com o suposto fenómeno Cancelo), mas conquistou com mérito o lugar que é seu por direito. Cumpre defensivamente, sobe a preceito, recupera rápido a posição na transição ofensiva/defensiva e ocupa bem a zona de central quando o adversário ataca pelo lado contrário. Tem critério no passe, sabe pisar os terrenos que ocupa e tem vocação ofensiva sem descurar o papel principal: defender. Basicamente é um atleta com escola que sabe interpretar no terreno as sábias lições que aprendeu. Pode perfeitamente ser titular de uma equipa campeã nacional e já merece uma chamada como deve ser à seleção nacional. Vamos ver se Fernando Santos lhe dá o justo prémio.
Plano de melhoria: Não sendo possível acrescentar-lhe 15 cm de altura mantendo as restantes características (ai seria um caso sério do futebol mundial porque seria imperioso no jogo aéreo funcionando como terceiro central quando a defesa se estica para o lado contrário) ainda tem muito para onde evoluir: Aumentar níveis de concentração no momento defensivo e ofensivo (evitando por exemplo conciliar centros para a bancada com centros para a cabecinha) e aprimorar o remate forte que apresenta. É sempre bom ter um lateral que de vez em quando manda uma batata lá para dentro. Tem 23 anos, pode perfeitamente evoluir e tornar-se uma referência.

Defesa Central (Lado direito): Maurício
Estado da arte: O atual patinho feito do futebol europeu nasceu para ser cepo mas quis ser peça de cristal. Parece-me legítimo, mas precisa de um colega de berço que o impeça de meter água e que lhe apare os golpes. Alguém que lhe passe a mão pelo pelo pêlo e lhe dê estabilidade emocional. O ano passado cumpriu com mérito as suas funções, sendo extremamente eficaz nos lances aéreos (principalmente em lances de frente para a bola quando disputava o lance com o adversário). Foi-se o Rojo e não se encontra ninguém, para já, à altura que lhe ocupe o lugar. Deste modo as suas fragilidades vêm à tona, perde confiança e treme como varas verdes. Esquece a posição, desorienta-se, faz faltas desnecessárias, porque não sabe moderar o cabedal, e contínua sem engenho na condução da bola na primeira fase de construção. Precisa nitidamente de banco.
Plano de melhoria: Tendo em conta a idade, não há muito para evoluir. É um jogador conjuntura. Com conjuntura favorável (leia-se com alguém ao seu lado de fina estirpe) é um jogador bastante útil. Com conjuntura desfavorável leva a equipa para o limbo. 

Defesa Central (Lado esquerdo): Naby Sarr
Estado da arte: Aquele corpanzil mete medo ao susto, mas incompreensivelmente revela postura tímida, digna de um copinho de leite. Parece pouco móvel e manifesta ainda pouca impulsão, ainda assim demonstra alguma maturidade tendo em conta a tenra idade: Não vai à queima só porque sim, nem gosta de dar porrada só porque acordou mal disposto. Sabe controlar-se. O pézinho esquerdo tem algum requinte e já revelou bons passes, mas ainda não é referência na primeira fase na construção de jogo. Não merecia ser queimado pelo lance de Maribor. O Varane, o melhor jovem central do mundo, fez um erro mais crasso na Champions e não é por isso que não viu o seu contrato renovado. Faz parte das dores de crescimento.
Plano de melhoria: Tem que ser mais mauzão e imperial no jogo aéreo e impor-se no momento ofensivo, nomeadamente em lances de bola parada. Largar a timidez e ser mais rufia. Aumentar os níveis de concentração, estar mais atento à linha de fora de jogo e ao momento de atacar a bola. Se seguir estes conselhos pode ser uma agradável surpresa e um bom investimento para o clube.

Defesa Esquerdo: Jefferson
Estado da arte: Eis as duas faces de Jano. O ano passado começou em grande estilo, seguro a defender e dinâmico a atacar (mas sem nunca revelar o pé canhão e as bolas teleguiadas que fizeram maravilhas no Estoril). No final da época passada e no início da atual algo se passou! Compromete no momento defensivo e surge menos afoito e certeiro quando ataca. Ainda assim a bola não lhe queima nos pés e sabe centrar. Ainda assim, está na hora de continuar a dar oportunidades ao Jonathan, até porque deu boa conta de si no jogo contra o Gil Vicente.
Plano de melhoria: Deve recuperar a velha forma. Se fizer isso é um belo lateral. Se possível ganhar confiança na hora do remate para subir a fasquia do bom para o muito bom.

Médio defensivo: William Carvalho
Estado da arte: Ainda não atingiu a forma do ano passado. Está mais langão, mais preso de movimentos, menos confiante. Curiosamente surge mais rematador, infelizmente sem grande sucesso. Ainda assim é uma referência naquele meio-campo. O pêndulo. O geómetra. Não há pai para ele logo deve jogar, sempre.
Plano de melhoria: Em analogia com o Jefferson, deve recuperar a velha forma. Após esse rewind deve continuar a experimentar e a treinar o remate de média distância e continuar a apostar no transporte de bola, tal como fez em alguns momentos na época transata. Deve começar a aproveitar a sua estatura para ganhar o espaço aéreo, para funcionar como terceiro central quando a equipa recua e para ser mais eficaz nos lances de bola parada (ofensivas e defensivas).

1º Médio de transição: Adrien Silva
Estado da arte: Ainda não está de volta o velho Adrien. Menos certeiro no passe, mais complicativo, continuando a abusar das faltas na zona intermédia do terreno. No entanto, no jogo contra o Gil Vicente, fez um ótimo jogo, veremos se é para manter a toada.
Plano de melhoria: O seu QI futebolístico tem de evoluir. Largar quando tem de largar, fixar quando tem de fixar, morder os calcanhares quando tem de morder. Usar processos simples e deixar de querer adornar o lance só porque sim. Kroos não adorna, simplifica, o jogo flui. Adrien complica, o jogo quebra. Simplificar processos, melhorar o remate de média distância. Molhar mais vezes a sopa a fazer lembrar Frank Lampard. Mais cobertura e menos ataque ao homem.

2º Médio de transição: João Mário
Estado da arte: Não tem pezinhos de carne e osso como os comuns dos mortais. São de porcelana. A forma como coloca a bola nos colegas com conta, peso e medida tira qualquer adepto do futebol do sério. Parece fácil, mas como quase ninguém no mundo o consegue fazer conclui-se que só para predestinados. Tem uma interpretação do futebol que revela uma maturidade muito acima da média. Mas, melhor do que isso, não só pensa bem como executa melhor. Joga para o coletivo, não joga para ele e para o seu umbigo. Resumindo, poder-se-á afirmar que o futebol do João Mário se explica em duas etapas: Pondera, decide. Tão simples mas tão difícil. Esperemos que quando chegarem os jogos menos conseguidos (faz parte da evolução) não seja recambiado de pronto para o banco.
Plano de melhoria: Muitos afirmam que não tem intensidade. Mas como deve esta ser interpretada? Correr que nem um desalmado (saindo muitas vezes da posição como Fito Rinaudo)? Fazer carrinhos por tudo e por nada enquanto espuma pela boca (a fazer lembrar Maxi Pereira ou João Pereira)? Ser mais rápido na pressão ao homem que cai na sua zona de intervenção (como bem faz o Enzo)? Ou reagir com um animal feroz à perda de bola ao jeito do Sá Pinto? Se aceitarmos as duas primeiras hipóteses não me parece que isso seja mais-valia para o João Mário. Se optarmos pelas duas últimas, será oportuno face à posição nevrálgica que ocupa. Nesse aspeto pode e deve evoluir. Trata-se de um processo mental que deve ser incutido, demonstrando a importância deste comportamento para a equipa. Ainda assim, e sem querer comprara, questiono: Que intensidade tinha Zidane, Rui Costa ou Del Piero? João Mário, mesmo que não evolua neste aspeto, não se verá impedido de se tornar num atleta de exceção porque compensa esta carência com outras qualidades muito mais difíceis de encontrar num profissional de futebol.

Extremo Direito: André Carrillo
Estado da arte: Está mais concentrado e parece mais confiante. Tem uns belos pezinhos e é rápido com uma flecha. La Culebra está no seu melhor momento desde que chegou a Alvalade. Marca, assiste, rompe, dribla, centra, remata e também defende. Ainda manifesta algumas paragens naquele cérebro e continua com momentos em que ninguém sabe do seu paradeiro em campo, mas com menos frequência que no passado recente.
Plano de melhoria: Manter os níveis de concentração e seriedade com o objetivo de estabilizar os seus momentos de intervenção no jogo. Treinar mais o remate em arco (a lembrar Pedro Barbosa) para ter mais golo. Tem de pedir mais vezes a bola, ser mais mandão, largando a timidez e o estado abduzido, até porque já não se justifica tendo em conta a sua idade e tempo no clube.

Extremo Esquerdo: Nani
Estado da arte: Está a ganhar confiança. É só o que precisa. Pensa, contemporiza (dá-se a esse luxo porque tem a certeza que se algum adversário vai à queima é comido) e executa o jogo como ninguém. Tudo o que a nata do futebol exige a um extremo ele faz. Não se aprende, ora se tem ou não se tem. E Nani tem.
Plano de melhoria: Continuar a ganhar confiança. Basta para ser o melhor jogador nos relvados portugueses.

Avançado: Islam Slimani
Estado da arte: Possante, poderoso no jogo aéreo, desgasta as defesas, sendo invariavelmente uma referência na área, infelizmente tem vindo a revelar-se menos eficaz na finalização (ao contrário de Montero, que adora invadir outros terrenos e que nunca falharia o que Slimani falhou porque simplesmente não estaria lá). Altera bons momentos em jogadas combinadas com momentos em que se comporta como um autêntico pino. Continua ocasionalmente a teimar em levar a bola, quando não é essa nitidamente a sua praia. Tem-se revelado um jogador para finalizar e abrir espaços para os colegas entrar e muito pouco para ajudar na construção ofensiva.
Plano de melhoria: Treinar a finalização para aumentar os índices de concretização sem se centrar apenas no jogo de cabeça. Os pés são essências no futebol pelo que tem de evoluir também na receção da bola e no passe curto. E mais importante, saber das suas limitações e deixar de procurar fazer o que já se sabe de antemão que não é capaz. É jogador de rápida relação com a bola. Receção, passe curto, rematar. Três opções. Apenas isso.

 

Texto escrito por Alexander Sweden 

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