Um, outro, e mais outro. E ainda outro. Por muita gente que se consulte, é difícil não ouvir apenas elogios quando o tema da conversa é Paulo Oliveira. «Até lhe digo mais: colegas, treinadores, adversários, não consegue encontrar uma pessoa que fale mal do Paulo Oliveira» , diz Emídio Magalhães. «Ninguém quer mal a um rapaz tão educado.»

Emídio Magalhães foi o homem que levou Paulo Oliveira do Famalicão para o V. Guimarães, mas já lá vamos. Antes disso, por exemplo, convém dar a palavra ao pai, Fernando Oliveira. «Desde pequeno que sempre teve a paixão por jogar à bola. Eu proibia-o a toda a hora, porque me chegava a casa encharcado, sujo e rasgado. Nunca o castiguei, mas dava-lhe ralhetes ‘Ainda te constipas, rapaz!’ Não servia de nada.  No dia a seguir fazia o mesmo », conta. «Percebi que era uma paixão e quando tinha sete anos inscrevi-o nas escolinhas do Famalicão.»  Foi então aí que tudo começou, nos infantis do Famalicão. Hoje é central do Sporting e, depois da boa exibição em Penafiel, tem as portas da titularidade abertas. 

Por isso o Maisfutebol foi tentar descobrir a história por detrás de Paulo Oliveira: uma história de prémios de bom comportamento e notas altas. Tão altas aliás, que Paulo Oliveira terminou o 12º ano, no Colégio Didaxis Vale de S. Cosme, com média de 17,1 valores. «Sempre lhe disse que os estudos estavam à frente do futebol. No dia em que falhasse nos estudos, acabava o futebol. Se calhar foi por isso que sempre foi tão bom aluno», atira o pai. «Acabou o 12º anos com média de 17,1 e escolheu entrar em Fisioterapia, na Universidade do Porto. Ainda se inscreveu, mas não conseguiu ir nem a uma aula. O que ele me diz é  que  tem a intenção de acabar os estudos e formar-se, um dia que o possa fazer.»
No entanto, garante o pai, não era propriamente um miúdo marrão. Até porque tinha pouco tempo. «Foi sempre bom aluno, e faltava muitas vezes às aulas: ou era a seleção, ou jogos a meio da semana, havia sempre alguma coisa. Mas depois ele lia ou ouvia e aquilo entrava-lhe na cabeça. A irmã, por exemplo, já se licenciou, mas era mais estudiosa, mais marrona. Ele não. Era um miúdo calmo, concentrado e atento. Recebeu uma série de medalhas de bom aluno e bom comportamento que tenho lá para casa.»

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Quando Emídio Magalhães trabalhava no V. Guimarães e precisava de jogadores para as camadas jovens, foi a Famalicão buscar dois miúdos que tinha referenciados: Amorim e André Costa. Foi Emídio Magalhães que nessa altura o conveceu a levar mais um. Precisamente Paulo Oliveira. «Nós precisávamos de um ponta de lança, mas ele insistiu comigo, que o miúdo era muito bom, muito com a cabeça no lugar e eu levei-o para Guimarães  apesar de ser central » , conta. «Em vez de levar dois, levei três.»
Ora Luís Rocha, diga-se, foi o primeiro treinador de Paulo Oliveira. Dos sete aos treze anos. «Era um miúdo extraordinário. Muito trabalhador. Era o capitão da equipa porque era o maior, mais alto e com aquela idade já era responsável por si próprio», refere. «Ele tinha vontade de ser jogador, só falava nisso e esforçava-se muito. Às vezes, no fim dos treinos, mandava os outros miúdos para o banho e ficava a falar com ele dez ou quinze minutos. Joguei como central muitos anos, no Famalicão, Trofense, por aí, fui treinado por exemplo pelo Quinito, e tentava passar ao Paulo Oliveira o que aprendi.» As intenções eram boas, o resultado é que era desastroso. «Ele é muito forte no um contra um, no desarme, é rápido e inteligente. Mas nas saídas tinha algumas dificuldades. No primeiro passe. Então falava com ele, tentava ensiná-lo… Ele chorava, ia fazer queixa aos pais e era um trinta  e  um. Sabe porquê? Porque pensava que eu estava a castigá-lo ou a repreendê-lo e então desesperava. Era um perfecionista e não aceitava menos do que isso.»

O pai diz que é algo que lhe vem da educação. Ele próprio jogou à bola, no Inatel, mas nunca aceitou olhar para o filho como apenas um futuro jogador de futebol. «Nunca quis ser treinador dele, só lhe dava indicações sobre comportamento», conta Fernando Oliveira. «Quando o V. Guimarães veio cá a casa para o levar, queriam discutir valores. Disse-lhes logo: ‘Eu não quero dinheiro, só quero que olhem pelo miúdo e que façam dele um homem, dentro e fora do campo’.» Fizeram, acrescenta, e está grato ao V. Guimarães por isso. Em seis anos de camadas jovens, aliás, Paulo Oliveira foi sempre capitão. Mais tarde foi internacional jovem e lançou uma carreira que nesta altura ainda é apenas promissora.

Fundamental nesta história foi também Francisco Chaló: o atual treinador do Sp. Covilhã orientava em 2011 o Penafiel, na altura em que Paulo Oliveira passou de júnior a sénior, e foi ele que apostou no miúdo. Deu-lhe enfim a primeira oportunidade no futebol profissional. «Conhecia-o das seleções jovens. Foi uma aposta minha, foi a primeira contratação que fiz no Penafiel. Sempre teve muita vontade de aprender. Foi-se impondo muito rapidamente», conta. «Quando foi o primeiro jogo oficial, disse-lhe que ia ser titular. Ele ficou muito surpreendido. Depois acrescentei: ‘Conheci o Ricardo Carvalho no Leça e ele com a tua idade não tinha a tua qualidade  . Nessa altura ele ficou emocionado e disse que era um sonho, porque o Ricardo Carvalho era o ídolo dele. A partir daí impôs-se como titular.»

Seguiu-se o V. Guimarães, ao serviço do qual venceu uma Taça de Portugal, e agora o Sporting. Em Alvalade, Paulo Oliveira não começou bem. É o próprio pai quem o admite. «Viveu sempre aqui comigo, na Portela. Eu, a mãe e a irmã íamos ver os jogos todos dele, corremos o país de lés a lés. Só saiu daqui quando foi para Lisboa e acho que sentiu um bocadinho a saída de casa. O início foi difícil para todos, aliás. Somos uma família muito chegada.» Se calhar por isso, Fernado Oliveira não reconhecia o filho. «Eu sei como ele joga e notava que não era o Paulo que estava a jogar. A cabeça dele não estava toda inteira. Alguma coisa se passava e, para mim, era a adaptação. Ele é tímido, vivíamos num meio pequeno e a cidade de Lisboa não é para brincadeiras. Quando entrou com o Chelsea já reconheci que era um Paulo Oliveira diferente e em Penafiel confirmei-o. Devagarinho ele vai lá.» Fernando Oliveira viu por fim o miúdo que com sete anos se dividida entre os infantis do Famalicão e o futsal na associação da terra, na pequena freguesia de Portela, concelho de Famalicão. Treinava com amigos três e quatro anos mais velhos, mas não se intimidava. «Já lhes dava luta.»
É isso que o Sporting espera de Paulo Oliveira: que dê luta. O futuro espera por ele.

Sérgio Pereira in MaisFutebol