Com a probabilidade de aumentar a minha “fama” de brunista, as marmitas de hoje vão recheadas de Bruno de Carvalho, um refogado de muitas opiniões pessoais e um je ne sais quois de orgulho convicto que penso vai tornar o petisco mais digerível.

Eram 4 e tal da manhã de um dia de eleições bem atribulado, o filha da mãe do Nuno Luz já confirmara que a razão porque estava acordado até aquela hora fazia sentido. “Posso confirmar que Bruno de Carvalho será o próximo presidente do Sporting”, ou qualquer merda do género, tornava suportável a ideia de ir mamar um dia inteiro com umas 2 ou 3 horas de sono.
Naquela noite e madrugada havia muita incerteza no futuro, mas uma esperança no “desconhecido” que vinha das entranhas de quem não acha que deve existir compromisso e savoir faire nas derrotas e muita ligeireza na arte de sublimar a cabeça baixa face aos rivais. O que se opunha naquela noite era a visão nobre e putrefacta da aristocracia falida contra o intransigente e despudorado atrevimento, se calhar até um pouco naif, da ruptura.

Parecia-me lógico que a lista concorrente a BdC falhava gritantemente num aspecto, a visão do clube. Para muitos dos que nela votaram havia promessa de segurança e know how, estabilidade e…o soundbyte mais absurdo de sempre…”credibilidade junto da banca”. Porém o que eu via era um arrebanho de soluções, pessoas e truques velhos, mais do mesmo, mais uns anos de “deixem lá o Sporting sossegadinho que a gente não chateia ninguém”. Mas o Nuno Luz disse e eu acreditei que o “puto” tinha vencido. Alguns minutos depois levei uma murraça na minha alma leonina. Estava a comer uma porcaria qualquer e de repente perdi o apetite. A única coisa que me passava pela cabeça era um “f..da-se…p#ta que os pariu…vão todos comer-se no BES…não vou dar um chavo a estes cabrões.” Fui-me deitar, imagino eu porque não me lembro e tenho uma vaga ideia de não ter sequer visto sites, blogs ou tv nos dias seguintes.
Leão é leão e lá vesti a camisola, engolindo o feeling de que o erro iria custar muito caro ao Sporting. Optei pelo humor e sarcasmo para sobreviver nos meses seguintes como sportinguista. Mas verdadeiramente só “acordei” com a promessa de eleições que os sócios André Patrão e Miguel Paim nos haviam dado.

Vamos dar um salto no tempo e de volta a outra noite eleitoral, só para me recordar de que, depois de uma campanha que segui demasiado longe e a espaços, 9.000 kms é muita longe para “sentir a coisa”…não me chocava que tanto Couceiro como Carvalho vencessem. Quando foi anunciado o vencedor senti-me vingado de outras madrugadas e muito mais ficaria assim que tomei conhecimento do grau de intimidade da candidatura de Couceiro com a direcção anterior (tinha sido amplamente negada pelo próprio).

Página nova na vida do clube e na minha como adepto. Muito do que sempre escrevi sobre o caminho do clube viria a fazer parte do discurso desta nova direcção e, pasmem ó haters de BdC, fui sendo convencido pela gestão “doa a quem doer” e ainda mais surpreendido pelo pulso firme face aos rivais e demais tentáculos do “sistema”. Bem cedo se torna evidente que este Conselho Directivo é de longe o mais unido (não confundir com exorbitantemente comprado), de longe o mais assertivo e confiante na força do clube como massa social.
BdC não reúne consenso, não é bom no compromisso estratégico, fala demais, aparece a rodos, suga mediatismo, seca egos à sua volta como uma super persona eucalipto. Há quem veja isso como mau, um pronuncio de autoritarismo, um vislumbre de tiques fascistas “eu sei mais que tu e tu calas-te ou bates palmas”.

brunorelvado

Não é isso que vejo. Sou de plástico mas fui “fabricado” numa planta industrial do proletariado, num arrabalde chungoso de Lisboa. Cresci com a foice e martelo nas “forças locais” e com muitos torneios de desenho e tiro ao alvo no 25 de Abril. Cresci com pais “esperançados” na promessa dos Capitães…há demasiado ADN de esquerda em mim para não detectar o travo a hipotrofia democrática.
O que me parece sim, é que o tal efeito “bigger than life” do presidente deixa muito pouco a capitalizar (vamos chamar-lhe mama) aos profissionais do poleirismo numa vertente interna e um alvo muito fácil de acertar na vertente rival.

Reparem só num pormenor: assim que BdC coloca o objectivo do 1º lugar para esta época, cessam os elogios públicos dos opinion makers a esta direcção. Dizem eles que foi uma assunção ilógica…fuck…isto é dito pelos mesmos que recusavam o papel de outsider do ano passado dizendo que o Sporting será sempre um candidato ao título, num estilo “há querias sossego e andar aí humilde…então toma lá com a responsabilidade que estás a tentar rejeitar”.
Há outros exemplos de falta de coerência na análise actual do que vale BdC e a sua direcção e até uma certa oposição a resurgir (não lhe chamo interna porque na maioria dos casos são pessoas que gravitam mais do que apoiam). Mas há quem comece a seguir estes “reviralhos intelectuais” como se estivessem a aderir a uma raiz de liberdade, a descobrir um oásis de clareza, a inaugurar um conclave de espirito crítico.

Estes sportinguisas são pessoas iguais a mim, alguns de certeza mais inteligentes que eu, mas há uma coisa que ainda não entenderam: não precisam de vestir capas e usar máscaras e andar pela blogosfera e sabe-se lá mais onde, armados em agentes undercover a percorrer as linhas inimigas em busca de evangelizar os “coitados pobres almas” que vivem cegamente a apoiar o ditador. Mostrem-se, falem, participem da vida do clube, assumam os pontos em que discordam publicamente. Apontem o dedo, afirmem o erro, desmascarem o “ditador” com provas factuais. Expliquem-nos com coisas palpáveis seja o que for que nós outros não estamos a ver. Mas por favor parem de insistir no “estilo pessoal do presidente”, essa está esgotada! Nós já entendemos o presidente que temos! Essa não pode ser a questão, tem de existir uma ideia diferente, uma visão alternativa, um modelo de acção distinto. O “estilo pessoal” não chega ok? Precisamos de mais.

Vou vos contar um pequeno segredo. Acredito mesmo nisto. O presidente intervém demais nos media? Sim. Acerta sempre no que diz? Não. Isso é mau? Não. É óptimo. Primeiro porque o que é importante é o que faz ou manda fazer. Depois porque em Portugal, o espaço de comunicação do Sporting vinha a perder terreno de forma brutal. A voz do clube está muito perto de ser secundária. BdC vem ocupar muito do espaço que precisamos para que sejamos ouvidos de forma contínua em todas as ocasiões. Fazer demasiadas declarações e sujeitar-se ao erro, às más alegorias, a reflexões equivocas deveria fazer perder algum rigor e autoridade institucional no espaço mediático. Mas na verdade não faz. Olhem para o que fez o porto em 30 anos, o que tem feito Vieira nos seus mandatos…acham que perderam espaço ou são menos respeitados por todas as barracadas que montaram de forma sistemática? Claro que não. Ocuparam espaço, criaram hábitos, asseguram slots de atenção.

O blitzkrieg comunicacional de BdC só é novidade pela juventude do seu protagonista e por estar a ser feito numa altura em que o clube não é o incontestável ganhador dentro do campo. Isso é o que “choca” tanto as comadres mediáticas, choca porque não têm os testiculos para aprovar a validade desta postura. Porque duvidam que o Sporting ganhe. Só isso. Nada tem de relação como o conteúdo das posições do presidente, mas sim da sua confirmação. Os opinadores não louvam o mérito, mas sim os resultados e enquanto não existirem de forma cabal, BdC será sempre o “fala-barato”.

Cabe a cada sportinguista ver para além do ruído das opiniões comprometidas, ver para além dos rótulos fáceis e das conjunturas teóricas. Cada um de nós deve julgar os actos pesando as soluções, julgar o caminho conhecendo as alternativas. Essa é a nossa responsabilidade. Elegemos alguém. Esse alguém toma decisões. Se as decisões não agradam, não pode ser porque não nos revemos no “estilo do presidente” ou na quantidade de vezes que surge nos jornais, têm de existir razões. Mas infelizmente, ou melhor…felizmente, nem interna nem externamente nos dão a nós, aos que não confundimos erros num percurso certo com percursos errados , grandes argumentos para nos juntarmos ao coro dos “um dia vais ver”.

 

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca