Olá, Bruno.
Antes de mais, peço-te desculpa pelo arrojo de tratar-te por tu, mas esta é uma conversa que me parece importante e que, caso tivesse oportunidade, teria todo o prazer em tê-la pessoalmente.

Como facilmente entenderás, a derrota de sábado teima em não sair da cabeça, mesmo quando o pensamento começa a focar-se no jogo de quarta-feira. E a verdade é que as tuas palavras, que chegaram a toda a nação leonina em forma de comunicado facebookiano, acabam por mandar vinagre para uma ferida recente e dolorosa.

É sobre essas palavras que pretendo debruçar-me, até pelo misto sentimental que as mesmas me despertam. Comecemos por algo que me parece consensual: as críticas feitas são inteiramente justas. No fundo, se gostamos que os nossos jogadores sejam elogiados como foram depois do dragão ou da ida à delegação alemã da Gazprom, não será descabido criticá-los quando entram em campo e se limitam a passear as camisolas. É verdade, faltou-lhes dignidade e faltou-lhes respeitar a verde e branca, coisa que, diga-se, têm sabido fazer ao longo dos dois meses e meio que leva esta temporada. Tu expressaste o que te ia na alma, apontaste o dedo a quem achaste eu devias apontar e pediste desculpa aos adeptos, dando-os como exemplo de entrega e dedicação.

A questão, uma vez mais, é a forma como é gerida esta crítica e esta tomada de posição. E, acredita, isto preocupa-me. Muito. Porque fico com a ideia que há uma total ausência de planeamento na forma como tu, Bruno de Carvalho, presidente do Sporting Clube de Portugal, fazes as tuas aparições e tornas públicas as tuas posições. Este caso é sintomático: o Presidente, como qualquer adepto, chega ao Facebook e liberta o que lhe vai na alma. Tens a teu favor o facto de teres falado no plural, não assumindo um claro apontar de dedo aos jogadores e, por arrasto, às respectivas equipas técnicas, mas não deixa de ser uma forma de chegar ao universo leonino que volta a colocar os holofotes na fronteira que separa o Bruno adepto do Bruno presidente.

Se me perguntares se gosto de ter um presidente que sente o clube como um adepto, obviamente que respondo que sim. Mas o que espero é que esse presidente aprenda onde fica essa fronteira, uma tarefa que pode não ser fácil para quem vive o clube com tanto fervor e dedicação. E é aí que entra a equipa de comunicação. Ou melhor, será que entra? O que eu sinto, e peço desculpa se estou a ser injusto com alguns dos profissionais que têm a tarefa de gerir a tua agenda comunicacional, é que o Presidente diz o que lhe apetece e quando lhe apetece. Basta recuar ao rescaldo de Maribor, onde depois de teres transmitido à equipa o sentimento de irritação perante o empate concedido, ainda na Eslovénia, chegaste a Portugal, foste à SportingTV e descarregaste a bílis. A comparação do empate com a derrota da selecção, frente à Albânia, foi de todo infeliz, até por aquilo que o Sporting havia feito e a selecção tinha deixado de fazer. Inclusivamente, foi por essa altura que estalou o verniz com Dias Ferreira e, principalmente, com Manuel Fernandes, pelo facto de terem aproveitado o tempo de antena para “bater” no Sporting.

Ora, o que acabaste de fazer, Bruno, pode ser igualmente visto como bater no Sporting. É verdade que o fizeste, colocando-te como um dos que não foi digno da camisola Rampante, mas não é menos verdade que isto soa a puxão de orelhas em praça pública. Há quem goste. Eu não gosto. E não gosto, primeiro, porque foi uma excepção em tudo o que de bom esta equipa tem feito. É o mesmo que a tua filha entrar para o conservatório, mostrar-se cada vez mais afinada a cada novo espectáculo e, numa tarde atípica, dar uma barraca de todo o tamanho. Fazes o quê? Falas em ela em particular ou aproveitas uma reunião de encarregados de educação para lhe puxar as orelhas, em frente a toda a gente? Talvez seja uma questão de perspectiva pedagógica, mas, como disse, não gosto. E tenho que perguntar-te: imagina que era um “velho Manel” desta vida a acusar de indignos os jogadores do Sprorting. O que é que dirias?

Eu sei que não é fácil, Bruno, principalmente por quereres estar presente em todas as decisões e assumir todas as responsabilidades. Aliás, existem coisas que, lá mais para a frente, já depois do campeonato ter terminado, eu gostaria de ver serem respondidas. Do que parece ser uma gestão “tentativa-erro-tentativa” da Academia, passando pela forma como foi mal compensada a saída de Rojo e Dier, há vários pormenores que, enquanto responsável maior pelo futebol, terás que responder (mesmo se formos campeões).
Eu sei que não é fácil, Bruno, até porque, na posição onde estás, as atitudes que tomas e as palavras que proferes podem tornar-te refém de ti mesmo. E se já te sentes isolado na luta por um futebol menos conspurcado e viciado (não te sintas, somos muitos a apoiar-te), não arranjes forma de te isolares ainda mais ou de promover vincadas clivagens de opinião entre os próprios Sportinguistas. É por acreditar no teu trabalho, que isso me preocupa. É por acreditar neste Sporting, que lanço um apelo a quem te está mais próximo, em termos de comunicação: sejam capazes de dizer-te “Não, sr. Presidente!”, quando acharem que o que queres não e o mais indicados. E tu, Bruno, escuta-os. E escuta-nos. Afinal, a regra de ouro que separa um chefe de um líder é, precisamente, a capacidade de ouvir.

Um abraço
Cherba