Existem duas formas de olhar o jogo de ontem, em Alvalade: haverá quem defenda que empatámos porque demos 45 minutos e um golo de avanço; haverá quem considere que fizemos o suficiente para ganhar e só não amealhámos três pontos porque nos foi anulado um golo limpo.

Quero, antes de mais, dizer, que não me choca, minimamente, a indignação perante a primeira parte do Sporting. Acho, aliás, que todos nós, Sportinguistas, devemos questionar essa má entrada em jogo e essa indolência que durou cerca de 35 minutos. Não sei se foi excesso de confiança, acreditando que, mais minuto menos minuto, o golo surgiria, não sei se foi relaxamento depois do jogo da Champions, sinceramente não sei. Se que os jogadores do Paços tinham tempo e espaço para pensar, fosse na sua defesa, fosse no nosso meio-campo. E sei que continuo a achar que é melhor entrar nos jogos para tentar ganhar a dianteira do marcador, se possível com mais do que um golo, do que ter que correr o dobro contra uma desvantagem e contra o passar dos minutos.
Estou igualmente de acordo com quem questiona a necessidade de nestes jogos, disputados em Alvalade com equipas que chegam para tentar levar um pontinho, nos apresentarmos com um médio de características mais defensivas. Não é de hoje que atiramos a possibilidade de jogar com um duplo pivot, dando espaço à entrada de um segundo avançado, mas esta é uma questão que só o treinador poderá responder.
Por último, também concordo com quem diz que não podemos continuar a precisar de 20 remates para fazer um golo, embora aqui a análise se torne relativa face ao que aconteceu, por exemplo, frente ao Marítimo, onde o índice de concretização foi bastante diferente.

Não me peçam é para contribuir para sustentar a teoria de que essa má primeira parte se torna argumento para ter que ficar calado, face ao que vi na segunda. E, peço desculpa, mas afirmar que o Sporting não fez o suficiente para ganhar é intelectualmente desonesto. Aliás, gostava de perguntar-vos o seguinte: lembram-se, por exemplo, daquele épico 5-3, frente aos lampiões, para a Taça? Claro que se lembram. Então, se não se importarem, digam-me lá outra coisa: o facto de termos feito uma primeira parte de merda, retira brilho ao que fizemos nos segundos 45 minutos? Obviamente que não retira brilho, nem retira sabor, à vitória. Tal como a primeira parte de merda que fizemos ontem, não pode servir para não admitir que, nos segundos 45 minutos, o Sporting jogou um futebol empolgante e criou oportunidades suficientes para ganhar dois jogos (pelo menos). Mais, o Sporting procurou emendar o que de mal tinha feito com critério. Não houve chutões de desespero para a área, não houve centrais adaptados a ponta de lança, não houve o lançamento de avançados encavalitados uns nos outros, sem ter quem conduzisse a bola até lá à frente. O que aconteceu foi que tivemos um treinador capaz de ler o jogo e de mexer-lhe cirurgicamente e que tivemos uma equipa com a disponibilidade para responder a esse apelo de forma personalizada e adulta. Tão adulta que, mesmo face ao antijogo, não perdeu a concentração (e, sim, houve antijogo com fartura, pese alguns Sportinguistas acharem que o Paços fez foi um grande jogo. Curioso, neste caso ter feito uns bons 35 minutos já justifica uma boa nota no final dos 90). Aliás, não foi à toa que as 29 mil pessoas que estiveram em Alvalade mostraram estar ao lado da equipa durante todo o jogo (fantástico apoio, pessoal!).

Claro que falhámos golos de forma absurda e que, hoje, poderíamos estar a falar de uma remontada que terminou em goleada. Ou de uma simples remontada, que podia ter dado goleada. A questão é que essa simples remontada foi-nos negada, sonegada, roubada. E esse é um facto incontornável! O golo, que seria o segundo, de Fredy Montero, é limpo (e não sabem a carrada de nervos que apanhei ao ler tanto adepto do meu clube a afirmar que o Slimani é que foi burro) e, hoje, o Sporting teria mais dois pontos com toda a justiça. Aliás, já que falamos em justiça ou, se preferirem usar um termo do Orelhas, em verdade desportiva, hoje o Sporting não só teria mais dois pontos como teria encurtado a distância para o primeiro classificado.

Face a isto, não posso admitir ler e ouvir alguns Sportinguistas afirmarem que o Jesus põe o gajos na linha e a comer a relva. Comer a relva como contra quem? Boavista? Moreirense? Arouca? Rio Ave? Nacional? Ah, já sei, vestiram o fato macaco e foram pragmáticos… Vá lá, não me gozem! E não me venham com essa conversa de que temos que ser capazes de jogar todos os jogos não a 100, mas a 200 por cento! Mas que merda é essa?!? Então uns podem praticar um futebol de merda, podem ser levados ao colo e nós temos que jogar a 200 por cento?!? Não podemos ser apenas bons, temos que ser excelentes?!? Temos que ser perfeitos?!? Desculpem, mas eu não dou para esse peditório. Tal como não dou para o peditório que o campeonato (a época, escreveram e disseram alguns) acabou. Claro que, face a esta vergonha, a este nojo, que este ano chega mais cedo (o fim de semana do Mota, em Alvalade, e da vergonha no Bonfim, vieram mais tarde, na época passada), um gajo se sente impotente, desesperado, angustiado. Mas “raismapartam” se achar que esta equipa não vai fazer das fraquezas força e obrigar os meninos do apito a, semana após semana, deixarem claro aquilo que o lampião do Sobral escolheu como título para a crónica do nosso jogo: “a classificação não mente”. Efectivamente, é só fazer as contas aos erros, para se perceber o porquê de certas equipas estarem onde estão.